São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/SÃO PAULO

Ex-prefeita afirma não ter visto "dimensão do problema", mas acha que ganhará disputa por candidatura de "lavada" na capital paulista

Marta diz estar arrependida de ter criado taxas em São Paulo

MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, 61, disputa no domingo com o senador Aloizio Mercadante a prévia pela candidatura do PT ao governo do Estado ciente dos erros da sua gestão. Ela se arrepende das taxas que criou: "Foram muitas mudanças financeiras para a população. Hoje eu não faria todas".
A despeito das manifestações de preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Mercadante, Marta está otimista e acha que dará uma "lavada" na capital.
Marta diz que não teria sobrevivido na prefeitura se não tivesse mostrado autonomia e competência. Numa possível gestão à frente do Estado, diz que daria prioridade à educação e ao desenvolvimento regional. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista à Folha:
 

Folha - Por que a senhora quer disputar o governo de São Paulo?
Marta Suplicy -
Pela experiência administrativa, pela bagagem concreta e pela votação expressiva que tenho de votos consolidados.

Folha - O que diria para o militante votar em Marta?
Marta -
Essa tende a ser uma disputa concreta. O que foi realizado na capital tem enorme sintonia com o que foi realizado no governo federal em áreas importantes para o PT como educação, o Renda Mínima. Pela primeira vez, o PT teria uma candidatura ao governo do Estado com obras a mostrar. A disputa contra Serra, por ter saído e abandonado o governo, torna minha candidatura bastante expressiva.

Folha - A saída da prefeitura fragiliza José Serra?
Marta -
Fragiliza enormemente. Há descumprimento de palavra, desrespeito ao eleitor. Nossa candidatura dizia exatamente que ele faria da prefeitura um trampolim.

Folha - Quais seriam os pontos centrais de sua plataforma?
Marta -
Para mim, sempre a prioridade é educação, investimento maciço em ensino médio. E o Estado presente como indutor do desenvolvimento, criando consórcios e câmaras regionais. Tem que ter investimento, qualificação de mão-de-obra e escoamento. Nos 12 anos do PSDB, o Estado não funcionou de forma regional. Isso é prioridade, e o transporte metropolitano, o bilhete único. É incompreensível que não tenham feito em 12 anos. Nós fizemos em quatro anos.

Folha - Lula manifestou preferência por Mercadante. Como a senhora avalia a participação dele?
Marta -
Eu estive várias vezes com o presidente e nunca ele me disse qualquer palavra. Se o Mercadante acha que é útil encostar na imagem do presidente, como tática, posso entender. Minha escolha foi outra: ter como bandeira tudo de concreto que fizemos na cidade. Não colei no Lula. Se quisesse colar, colava.

Folha - A senhora acha que tem chance de vencer a prévia?
Marta -
Total. Principalmente pela capital. Vai ser uma lavada. Na capital, nós temos uma possibilidade de ter uma vantagem considerável.

Folha - Mas a proximidade a Lula favoreceu Mercadante?
Marta -
Se fossem dois candidatos que o PT não conhecesse, poderia ter peso. Mas são duas figuras com as quais a militância tem muita intimidade. Vai ser uma escolha pessoal.

Folha - O que explicaria a fragilidade de Lula no Sudeste?
Marta -
Eu colocaria de outra forma: o que explica Lula estar tão bem no Nordeste. Você sabe o que é chegar no interior do Piauí, com o Bolsa-Família junto? Lula tem carisma, fala para o povo.

Folha - E sua rejeição na capital, com percentuais tão elevados?
Marta -
Acho que rejeição não é impedimento. Foi uma campanha acirrada [a de 2004], provavelmente não me comuniquei da melhor forma possível. É muito difícil ter um cargo no Executivo e não ter uma parcela que é contra. Com 27% de rejeição, 73% das pessoas poderiam votar em mim.

Folha - Sua personalidade forte pode estar associada a isso?
Marta -
Isso tem a ver com machismo mesmo. Eu não tinha clareza disso, mas tive vendo uma propaganda da revista Cláudia, que mostra uma mulher executiva tentando abrir um pote na cozinha. Ela não conseguia, mas fez bastante força e abriu. E depois fechou. Mudou de sala e disse: "Meu bem, abre o pote pra mim". Minha santa Madalena! Você pode saber ser autônoma, ser competente, mas não ouse mostrar. Vai ser prefeita de São Paulo e alguém achar que você não consegue abrir o pote... Quantos minutos você dura? Se você é mulher, ai é prepotente, arrogante.

Folha - Há os aspectos positivos de sua gestão e os críticos, como as taxas. Obras polêmicas de final de mandato. Houve falhas na gestão?
Marta -
Sim. Na questão das taxas eu não vi a dimensão do problema. Tendo isentado 1 milhão de residências do IPTU [até R$ 50 mil], e depois criando a taxa de R$ 6, eu acreditei que uma coisa compensaria a outra. Só que a isenção foi um ano antes. Eu aprendi que deveria ter sido feito o inverso. Foram muitas mudanças financeiras para a população. Hoje eu não faria todas, nem no compasso em que foi feito nem da forma como foi feito.

Folha - Isso significa que, se governadora, não criará novas taxas?
Marta -
É, eu acho que aprendo com a experiência. Teria que ter um cuidado muito maior. A experiência mostrou que um aumento de taxa não se faz assim. Tem que ser muito criterioso.

Folha - E as obras derradeiras?
Marta -
Só conseguimos dinheiro para as obras em outubro. Eu tinha duas alternativas: deixar o dinheiro no mercado ou fazia. Resolvi que as faria. Ficaram prontas a um mês da eleição e não deu para as pessoas usufruírem do bônus. Nesse sentido, foi um equívoco. Desse eu não me arrependo. Deu emprego.

Folha - O Ministério Público investiga contratos feitos em sua gestão, sem licitação, com fundações supostamente ligadas ao PT e a senhora. Como explica isso?
Marta -
Com a maior tranqüilidade. São duas fundações respeitabilíssimas, a FGV e a Fundep. Elas contrataram pessoas para fazer os estudos pedidos em várias instituições, sem pedir carteira de filiação partidária. Não vejo nenhum problema.

Folha - Qual sua avaliação sobre a crise do PT ?
Marta -
São pessoas que estão aguardando julgamento na Justiça. O PT foi pego numa situação iniciada pelo PSDB [o esquema de caixa dois com Marcos Valério]. Um pequeno grupo do partido levou adiante esse esquema. O julgamento final, do João Paulo e do José Genoino, virá na eleição.

Folha - O equívoco do PT foi só caixa dois? E o mensalão?
Marta -
Foi caixa dois. E um erro gravíssimo. Causou indignação nos militantes e na sociedade.

Folha - Se perder a prévia, fará campanha para Mercadante?
Marta -
No primeiro dia. Espero que ele [Mercadante] faça o mesmo. [Se perder,] vou vestir a camiseta para o Mercadante, o Lula, deputados federais e estaduais. Vou me matar para elegermos a maior bancada possível. Ah, e para o Suplicy, não esquece.


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