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ELEIÇÕES 2006/SÃO PAULO
Ex-prefeita afirma não ter visto "dimensão do problema", mas acha que ganhará disputa por candidatura de "lavada" na capital paulista
Marta diz estar arrependida de ter criado taxas em São Paulo
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, 61, disputa no domingo com o senador Aloizio Mercadante a prévia pela candidatura
do PT ao governo do Estado ciente dos erros da sua gestão. Ela se
arrepende das taxas que criou:
"Foram muitas mudanças financeiras para a população. Hoje eu
não faria todas".
A despeito das manifestações de
preferência do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva por Mercadante, Marta está otimista e acha
que dará uma "lavada" na capital.
Marta diz que não teria sobrevivido na prefeitura se não tivesse
mostrado autonomia e competência. Numa possível gestão à
frente do Estado, diz que daria
prioridade à educação e ao desenvolvimento regional. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista à Folha:
Folha - Por que a senhora quer
disputar o governo de São Paulo?
Marta Suplicy - Pela experiência
administrativa, pela bagagem
concreta e pela votação expressiva
que tenho de votos consolidados.
Folha - O que diria para o militante votar em Marta?
Marta - Essa tende a ser uma disputa concreta. O que foi realizado
na capital tem enorme sintonia
com o que foi realizado no governo federal em áreas importantes
para o PT como educação, o Renda Mínima. Pela primeira vez, o
PT teria uma candidatura ao governo do Estado com obras a
mostrar. A disputa contra Serra,
por ter saído e abandonado o governo, torna minha candidatura
bastante expressiva.
Folha - A saída da prefeitura fragiliza José Serra?
Marta - Fragiliza enormemente.
Há descumprimento de palavra,
desrespeito ao eleitor. Nossa candidatura dizia exatamente que ele
faria da prefeitura um trampolim.
Folha - Quais seriam os pontos
centrais de sua plataforma?
Marta - Para mim, sempre a
prioridade é educação, investimento maciço em ensino médio.
E o Estado presente como indutor
do desenvolvimento, criando
consórcios e câmaras regionais.
Tem que ter investimento, qualificação de mão-de-obra e escoamento. Nos 12 anos do PSDB, o
Estado não funcionou de forma
regional. Isso é prioridade, e o
transporte metropolitano, o bilhete único. É incompreensível
que não tenham feito em 12 anos.
Nós fizemos em quatro anos.
Folha - Lula manifestou preferência por Mercadante. Como a senhora avalia a participação dele?
Marta - Eu estive várias vezes
com o presidente e nunca ele me
disse qualquer palavra. Se o Mercadante acha que é útil encostar
na imagem do presidente, como
tática, posso entender. Minha escolha foi outra: ter como bandeira
tudo de concreto que fizemos na
cidade. Não colei no Lula. Se quisesse colar, colava.
Folha - A senhora acha que tem
chance de vencer a prévia?
Marta - Total. Principalmente
pela capital. Vai ser uma lavada.
Na capital, nós temos uma possibilidade de ter uma vantagem
considerável.
Folha - Mas a proximidade a Lula
favoreceu Mercadante?
Marta - Se fossem dois candidatos que o PT não conhecesse, poderia ter peso. Mas são duas figuras com as quais a militância tem
muita intimidade. Vai ser uma escolha pessoal.
Folha - O que explicaria a fragilidade de Lula no Sudeste?
Marta - Eu colocaria de outra
forma: o que explica Lula estar tão
bem no Nordeste. Você sabe o
que é chegar no interior do Piauí,
com o Bolsa-Família junto? Lula
tem carisma, fala para o povo.
Folha - E sua rejeição na capital,
com percentuais tão elevados?
Marta - Acho que rejeição não é
impedimento. Foi uma campanha acirrada [a de 2004], provavelmente não me comuniquei da
melhor forma possível. É muito
difícil ter um cargo no Executivo e
não ter uma parcela que é contra.
Com 27% de rejeição, 73% das
pessoas poderiam votar em mim.
Folha - Sua personalidade forte
pode estar associada a isso?
Marta - Isso tem a ver com machismo mesmo. Eu não tinha clareza disso, mas tive vendo uma
propaganda da revista Cláudia,
que mostra uma mulher executiva tentando abrir um pote na cozinha. Ela não conseguia, mas fez
bastante força e abriu. E depois fechou. Mudou de sala e disse:
"Meu bem, abre o pote pra mim".
Minha santa Madalena! Você pode saber ser autônoma, ser competente, mas não ouse mostrar.
Vai ser prefeita de São Paulo e alguém achar que você não consegue abrir o pote... Quantos minutos você dura? Se você é mulher, ai
é prepotente, arrogante.
Folha - Há os aspectos positivos
de sua gestão e os críticos, como as
taxas. Obras polêmicas de final de
mandato. Houve falhas na gestão?
Marta - Sim. Na questão das taxas eu não vi a dimensão do problema. Tendo isentado 1 milhão
de residências do IPTU [até R$ 50
mil], e depois criando a taxa de R$
6, eu acreditei que uma coisa
compensaria a outra. Só que a
isenção foi um ano antes. Eu
aprendi que deveria ter sido feito
o inverso. Foram muitas mudanças financeiras para a população.
Hoje eu não faria todas, nem no
compasso em que foi feito nem da
forma como foi feito.
Folha - Isso significa que, se governadora, não criará novas taxas?
Marta - É, eu acho que aprendo
com a experiência. Teria que ter
um cuidado muito maior. A experiência mostrou que um aumento
de taxa não se faz assim. Tem que
ser muito criterioso.
Folha - E as obras derradeiras?
Marta - Só conseguimos dinheiro para as obras em outubro. Eu
tinha duas alternativas: deixar o
dinheiro no mercado ou fazia. Resolvi que as faria. Ficaram prontas
a um mês da eleição e não deu para as pessoas usufruírem do bônus. Nesse sentido, foi um equívoco. Desse eu não me arrependo.
Deu emprego.
Folha - O Ministério Público investiga contratos feitos em sua
gestão, sem licitação, com fundações supostamente ligadas ao PT e
a senhora. Como explica isso?
Marta - Com a maior tranqüilidade. São duas fundações respeitabilíssimas, a FGV e a Fundep.
Elas contrataram pessoas para fazer os estudos pedidos em várias
instituições, sem pedir carteira de
filiação partidária. Não vejo nenhum problema.
Folha - Qual sua avaliação sobre a
crise do PT ?
Marta - São pessoas que estão
aguardando julgamento na Justiça. O PT foi pego numa situação
iniciada pelo PSDB [o esquema de
caixa dois com Marcos Valério].
Um pequeno grupo do partido levou adiante esse esquema. O julgamento final, do João Paulo e do
José Genoino, virá na eleição.
Folha - O equívoco do PT foi só
caixa dois? E o mensalão?
Marta - Foi caixa dois. E um erro
gravíssimo. Causou indignação
nos militantes e na sociedade.
Folha - Se perder a prévia, fará
campanha para Mercadante?
Marta - No primeiro dia. Espero
que ele [Mercadante] faça o mesmo. [Se perder,] vou vestir a camiseta para o Mercadante, o Lula,
deputados federais e estaduais.
Vou me matar para elegermos a
maior bancada possível. Ah, e para o Suplicy, não esquece.
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