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ELEIÇÕES 2006/SÃO PAULO
Senador critica partido e diz que João Paulo Cunha, acusado de envolvimento no escândalo, tem biografia maior que as falhas
Apoiado por mensaleiro, Mercadante vê erro ético no PT
DA REPORTAGEM LOCAL
O senador Aloizio Mercadante,
51, usará como trunfo na disputa
com Marta Suplicy pela candidatura ao governo do Estado a proximidade com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Líder do governo e coordenador das campanhas de Lula desde
1982, ele se considera mais bem
preparado que a ex-prefeita para
a disputa, especialmente pela expressiva votação que teve em 2002
(10,5 milhões de votos) e pelo baixo índice de rejeição, de acordo
com as pesquisas.
Criticado pelos próprios colegas
por alguns excessos de vaidade,
Mercadante faz um mea-culpa ao
comentar a crise política: "O PT
tem que assumir que errou".
Também aponta a derrota de
Marta para o então candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, José Serra, em 2004, como outro aspecto que o favorece. "Marta perdeu o primeiro e o segundo turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra", afirma.
Entre as propostas de uma possível candidatura, ele diz que vai
acabar com a Febem. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
(MD)
Folha - Por que o sr. se considera
apto a disputar o governo?
Mercadante - Pela votação que
tive,10,5 milhões de votos; porque
a minha condição de líder do governo me permite fazer uma defesa consistente do governo Lula e
porque tenho baixo índice de rejeição. Finalmente, porque tudo
isso tem sido reconhecido pelas lideranças partidárias.
Folha - Com qual argumento conquistaria o voto do militante do PT?
Mercadante - O Lula está muito
bem no Norte e Nordeste. Em São
Paulo, há 22% dos eleitores do
país. E aqui nós ainda perdemos
as eleições. A ex-prefeita Marta
perdeu o primeiro e o segundo
turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra.
Acho que eu teria melhores condições de vencer as eleições.
Folha - Se vencer a prévia, quais
serão suas principais propostas?
Mercadante - São Paulo precisa
voltar a crescer, a liderar o desenvolvimento econômico no Brasil.
Nos 12 anos de PSDB, em dez
anos São Paulo cresceu abaixo da
média nacional. O sistema nacional de avaliação de ensino demostra queda da qualidade de ensino
ao longo desses 12 anos. E em terceiro lugar, a segurança pública.
Precisamos modernizar a polícia,
a exemplo do que fizemos na Polícia Federal. Precisamos também
reestruturar totalmente a Febem.
A Febem é uma instituição que
não tem mais viabilidade. Pretendo acabar com a Febem. A exemplo do que fizemos no Rio Grande
do Sul, criaríamos duas instituições: uma para tratar dos reclusos
e outra em que trabalharíamos a
liberdade assistida.
Folha - Como retomar o crescimento de São Paulo?
Mercadante - As condições macroeconômicas para um desenvolvimento sustentável estão dadas. Falta criar agências de desenvolvimento no interior, identificar as vocações econômicas. Outra questão é que SP ficou imobilizado diante da guerra fiscal, o que
prejudicou o crescimento.
Folha - Mas é preciso primeiro
aprovar o restante da reforma tributária.
Mercadante - É evidente que a
reforma tributária é a saída definitiva dessa questão. São Paulo
deveria estar empenhado em buscar uma solução para a reforma
tributária e não esteve.
Folha - Lula manifestou preferência à sua candidatura?
Mercadante - Ele de fato tem dito
a todos os interlocutores que o
procuraram a preferência pela
minha candidatura, com a reserva
e o cuidado que deve ter um presidente. Como a referência política
mais importante do PT, é evidente que a opinião de Lula conta. O
presidente acha que eu tenho
mais potencial de crescimento
político e tenho uma capacidade
de discussão e intervenção e, portanto, neste momento, seria a
candidatura mais adequada.
Folha - O publicitário Duda Mendonça admitiu o caixa dois do PT, e
o sr. se explicou à CPI. Houve caixa
dois na campanha estadual?
Mercadante - Durante um ano
de investigação, em todas as CPIs
e no Ministério Público, meu nome jamais foi mencionado. Duda
Mendonça fez um pacote nacional [para o PT]. Era a mesma
agência, a mesma equipe. São
Paulo fez essa campanha. Não conheço nenhuma campanha que
tenha declarado, como nós, R$ 2,1
milhões em gastos com publicidade [montante de São Paulo]. Foi
declarado oficialmente.
Folha - No sistema financeiro, há
resistências a seu nome por conta
da sua atuação na CPI dos Bancos,
quando denunciou instituições. Isso o prejudicaria?
Mercadante - O país sofria um
severo ataque especulativo. Eu
denunciei o caso Marka/Fonte
Cindam numa audiência com Armínio Fraga [ex-presidente do
Banco Central]. Disse que havia
ataque especulativo e agentes do
sistema financeiro tinham rentabilidade abusiva. Fiz uma apresentação cautelosa dos agentes
que eventualmente teriam tido algum ganho e mudaram de posição na véspera da desvalorização
do Real. Não houve vazamento.
Folha - Que diagnóstico o sr. faz
do governo Lula?
Mercadante - O balanço é extremamente positivo. Mudamos o
padrão de inserção internacional.
Dobramos as exportações em três
anos; reduzimos a dívida externa
em US$ 41 bilhões; pré-pagamos a
dívida com o FMI. Estabilizamos
a relação dívida/ PIB; criamos 4
milhões de emprego. O salário
mínimo é o melhor dos últimos
20 anos; a cesta básica está mais
barata que no início do Real...
Folha - O governo e o PT erraram?
Mercadante - É evidente que erramos. Erramos em uma área que
ninguém imaginava que pudéssemos errar, que é a ética na política.
Sempre foi uma marca fundamental do PT. O fato de outros
partidos estarem envolvidos na
crise, de governos anteriores, não
serve de consolo. Temos que assumir o erro e trabalhar para que
nunca mais volte a acontecer.
Folha - Quais as fragilidades de
José Serra numa campanha?
Mercadante - Ele tomou uma atitude grave: se comprometeu que
ficaria até o final do governo e não
cumpriu. Palavra é essencial a um
homem público.
Folha - O sr. tem o apoio de petistas envolvidos na crise, como João
Paulo. Eles estariam no palanque?
Mercadante - A biografia de João
Paulo [ex-presidente da Câmara]
é muito maior que os erros. Vamos aguardar a decisão da Justiça.
Com algumas dessas pessoas tenho carinho muito grande. Mas o
homem público não pode ter
compromisso com o erro.
Folha - O erro foi só do PT? E Lula?
Mercadante - Em relação ao governo, seguramente cometemos
erros, mas, em relação a essas denúncias, tenho absoluta segurança que o presidente não tem nenhuma responsabilidade.
Folha - O sr. é um político vaidoso? Isso o atrapalha?
Mercadante - Eu diria que a humildade não é a minha melhor característica. Pelo menos eu preciso tê-la para admitir. O processo
difícil de construção do governo,
as dificuldades que passamos, foi
tudo um grande processo de amadurecimento.
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