São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006/SÃO PAULO

Senador critica partido e diz que João Paulo Cunha, acusado de envolvimento no escândalo, tem biografia maior que as falhas

Apoiado por mensaleiro, Mercadante vê erro ético no PT

DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Aloizio Mercadante, 51, usará como trunfo na disputa com Marta Suplicy pela candidatura ao governo do Estado a proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Líder do governo e coordenador das campanhas de Lula desde 1982, ele se considera mais bem preparado que a ex-prefeita para a disputa, especialmente pela expressiva votação que teve em 2002 (10,5 milhões de votos) e pelo baixo índice de rejeição, de acordo com as pesquisas.
Criticado pelos próprios colegas por alguns excessos de vaidade, Mercadante faz um mea-culpa ao comentar a crise política: "O PT tem que assumir que errou".
Também aponta a derrota de Marta para o então candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, José Serra, em 2004, como outro aspecto que o favorece. "Marta perdeu o primeiro e o segundo turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra", afirma.
Entre as propostas de uma possível candidatura, ele diz que vai acabar com a Febem. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida à Folha. (MD)
 

Folha - Por que o sr. se considera apto a disputar o governo?
Mercadante -
Pela votação que tive,10,5 milhões de votos; porque a minha condição de líder do governo me permite fazer uma defesa consistente do governo Lula e porque tenho baixo índice de rejeição. Finalmente, porque tudo isso tem sido reconhecido pelas lideranças partidárias.

Folha - Com qual argumento conquistaria o voto do militante do PT?
Mercadante -
O Lula está muito bem no Norte e Nordeste. Em São Paulo, há 22% dos eleitores do país. E aqui nós ainda perdemos as eleições. A ex-prefeita Marta perdeu o primeiro e o segundo turnos para o candidato que renunciou à capital, José Serra. Acho que eu teria melhores condições de vencer as eleições.

Folha - Se vencer a prévia, quais serão suas principais propostas?
Mercadante -
São Paulo precisa voltar a crescer, a liderar o desenvolvimento econômico no Brasil. Nos 12 anos de PSDB, em dez anos São Paulo cresceu abaixo da média nacional. O sistema nacional de avaliação de ensino demostra queda da qualidade de ensino ao longo desses 12 anos. E em terceiro lugar, a segurança pública. Precisamos modernizar a polícia, a exemplo do que fizemos na Polícia Federal. Precisamos também reestruturar totalmente a Febem. A Febem é uma instituição que não tem mais viabilidade. Pretendo acabar com a Febem. A exemplo do que fizemos no Rio Grande do Sul, criaríamos duas instituições: uma para tratar dos reclusos e outra em que trabalharíamos a liberdade assistida.

Folha - Como retomar o crescimento de São Paulo?
Mercadante -
As condições macroeconômicas para um desenvolvimento sustentável estão dadas. Falta criar agências de desenvolvimento no interior, identificar as vocações econômicas. Outra questão é que SP ficou imobilizado diante da guerra fiscal, o que prejudicou o crescimento.

Folha - Mas é preciso primeiro aprovar o restante da reforma tributária.
Mercadante -
É evidente que a reforma tributária é a saída definitiva dessa questão. São Paulo deveria estar empenhado em buscar uma solução para a reforma tributária e não esteve.

Folha - Lula manifestou preferência à sua candidatura?
Mercadante -
Ele de fato tem dito a todos os interlocutores que o procuraram a preferência pela minha candidatura, com a reserva e o cuidado que deve ter um presidente. Como a referência política mais importante do PT, é evidente que a opinião de Lula conta. O presidente acha que eu tenho mais potencial de crescimento político e tenho uma capacidade de discussão e intervenção e, portanto, neste momento, seria a candidatura mais adequada.

Folha - O publicitário Duda Mendonça admitiu o caixa dois do PT, e o sr. se explicou à CPI. Houve caixa dois na campanha estadual?
Mercadante -
Durante um ano de investigação, em todas as CPIs e no Ministério Público, meu nome jamais foi mencionado. Duda Mendonça fez um pacote nacional [para o PT]. Era a mesma agência, a mesma equipe. São Paulo fez essa campanha. Não conheço nenhuma campanha que tenha declarado, como nós, R$ 2,1 milhões em gastos com publicidade [montante de São Paulo]. Foi declarado oficialmente.

Folha - No sistema financeiro, há resistências a seu nome por conta da sua atuação na CPI dos Bancos, quando denunciou instituições. Isso o prejudicaria?
Mercadante -
O país sofria um severo ataque especulativo. Eu denunciei o caso Marka/Fonte Cindam numa audiência com Armínio Fraga [ex-presidente do Banco Central]. Disse que havia ataque especulativo e agentes do sistema financeiro tinham rentabilidade abusiva. Fiz uma apresentação cautelosa dos agentes que eventualmente teriam tido algum ganho e mudaram de posição na véspera da desvalorização do Real. Não houve vazamento.

Folha - Que diagnóstico o sr. faz do governo Lula?
Mercadante -
O balanço é extremamente positivo. Mudamos o padrão de inserção internacional. Dobramos as exportações em três anos; reduzimos a dívida externa em US$ 41 bilhões; pré-pagamos a dívida com o FMI. Estabilizamos a relação dívida/ PIB; criamos 4 milhões de emprego. O salário mínimo é o melhor dos últimos 20 anos; a cesta básica está mais barata que no início do Real...

Folha - O governo e o PT erraram?
Mercadante -
É evidente que erramos. Erramos em uma área que ninguém imaginava que pudéssemos errar, que é a ética na política. Sempre foi uma marca fundamental do PT. O fato de outros partidos estarem envolvidos na crise, de governos anteriores, não serve de consolo. Temos que assumir o erro e trabalhar para que nunca mais volte a acontecer.

Folha - Quais as fragilidades de José Serra numa campanha?
Mercadante -
Ele tomou uma atitude grave: se comprometeu que ficaria até o final do governo e não cumpriu. Palavra é essencial a um homem público.

Folha - O sr. tem o apoio de petistas envolvidos na crise, como João Paulo. Eles estariam no palanque?
Mercadante -
A biografia de João Paulo [ex-presidente da Câmara] é muito maior que os erros. Vamos aguardar a decisão da Justiça. Com algumas dessas pessoas tenho carinho muito grande. Mas o homem público não pode ter compromisso com o erro.

Folha - O erro foi só do PT? E Lula?
Mercadante -
Em relação ao governo, seguramente cometemos erros, mas, em relação a essas denúncias, tenho absoluta segurança que o presidente não tem nenhuma responsabilidade.

Folha - O sr. é um político vaidoso? Isso o atrapalha?
Mercadante -
Eu diria que a humildade não é a minha melhor característica. Pelo menos eu preciso tê-la para admitir. O processo difícil de construção do governo, as dificuldades que passamos, foi tudo um grande processo de amadurecimento.


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