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Irmão de ministro do STJ se beneficiou de fraude em decisão
Em 2000, juiz do Trabalho adulterou sentença, concedendo benefícios a Virgílio Medina, investigado em operação da PF
Juiz nega ter adulterado decisão em processo de advogado contra Vale do Rio Doce; a defesa de Virgílio disse desconhecer o caso
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Acusado de negociar por
R$ 600 mil a venda de decisão
judicial de seu irmão, o ministro do Superior Tribunal de
Justiça Paulo Medina, o advogado Virgílio Medina foi beneficiado por decisão fraudulenta
na Justiça do Trabalho.
Escolhido como redator da
decisão, o juiz classista Antônio
Baptista Correia Moreira alterou, fraudando-a, a certidão do
julgamento, beneficiando Virgílio em processo contra a
Companhia Vale do Rio Doce.
Ele trabalhou como advogado
da Vale, onde chegou a superintendente jurídico e assessor-coordenador da presidência.
O juiz classista foi condenado
a um ano, cinco meses e 15 dias
de reclusão, e pagamento de 17
dias-multa no caso.
Com as mudanças inseridas
por Moreira -benefícios que
não constavam do original-,
Virgílio passaria a ter direito a
indenização de 9,2 salários
-em 1997, seu salário era de R$
7.085,69, ou R$ 17.673,82 hoje,
corrigido pelo IGP-M. O total
são R$ 162.599,14 atualizados.
Com as mudanças irregulares, de 2000, Virgílio receberia
contribuição previdenciária
em dobro e por período trabalhado na Albrás, do grupo Vale.
Como a Vale percebeu a fraude e recorreu, Medina acabou
não recebendo os benefícios indevidos, apesar da publicação
da sentença com adulterações.
Embora Moreira tenha sido
condenado -curiosamente pela mesma juíza Ana Paula Vieira de Carvalho que julga Virgílio na Operação Hurricane (furacão, em inglês)-, o juiz classista não cumpriu a pena porque o prazo de quatro anos
prescreveu antes de todos os
recursos terem sido julgados.
Ouvido pela Folha, Moreira
disse que foi absolvido administrativamente pelo Tribunal
Superior do Trabalho e que foi
vítima de perseguição de um
juiz. Disse que nem conhecia
Virgílio à época, mas que soube
que ele esteve no TRT, com o
juiz José Maria Mello Porto
-assassinado em 2006-, para
tentar alterar a decisão.
De acordo com a sentença
criminal, à qual a reportagem
teve acesso, Moreira foi condenado por falsidade ideológica
-no caso, "inserir declaração
falsa ou diversa da que devia
ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante". Ele alterou documentos duas vezes.
Segundo a Justiça, ele "lavrou acórdão nos autos do recurso ordinário interposto por
Virgílio Medina, tendo nele inserido dados falsos, a fim de alterar a verdade e criar obrigação sobre fato juridicamente
relevante, além de ter lavrado
outro acórdão com o fim de assegurar a ocultação do crime."
Moreira negou ter adulterado a certidão. Disse que votou a
favor de Virgílio porque acreditava que ele tinha razão. Acusou um juiz de ter tentado prejudicá-lo e disse que a Justiça
foi induzida por esse juiz.
"Foi armação deles, que queriam que a Vale ganhasse. Terminei meu mandato em 5 de
fevereiro de 2000 e deixei tudo
certinho. Sempre quis fazer tudo certo porque tinha aspiração a entrar no tribunal como
desembargador pelo 5º constitucional [que permite a entrada de advogados por notório
saber jurídico]. Houve a maior
lisura de minha parte."
A Folha contatou o advogado de Virgílio, Renato Tonini,
que disse desconhecer o caso. A
reportagem enviou cópia do
processo, mas não teve retorno
até o fechamento desta edição.
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