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"Ele é que é meu laranja", diz Monteiro
DO ENVIADO A CABO FRIO
Ex-camelô, ex-apontador do jogo do bicho e ex-assessor do deputado federal Roberto Jefferson
(PTB-RJ), Durval da Silva Monteiro, 53, mora há dez dias numa
casa alugada na praia de Unamar,
em Cabo Frio (154 km do Rio).
Monteiro disse que teve que sair
da casa em que morava no centro
da cidade porque não tinha como
pagar o aluguel. Ele vive do que
ganha em duas lanchonetes na região -segundo ele, R$ 1.500
mensais. Mora com a mulher, Rita, que não trabalha. Em uma das
lanchonetes, a luz está cortada
por falta de pagamento. O telefone de casa também não funciona.
Ele diz que com o dinheiro que
pretende pedir a Roberto Jefferson conseguirá recuperar os seus
negócios e ""definir" sua vida.
Folha - Como o sr. se tornou sócio
das rádios?
Durval da Silva Monteiro -As rádios foram presentes que o Roberto me deu. Ele deu para mim,
para o Rogério [Onofre] e para o
Boy [Edson Elias Bastos Jorge].
Folha - Mas o sr. recebe como sócio das rádios?
Monteiro - Como não tinha capital, ficou acertado que o Boy investiria o dinheiro nas rádios e
que eu só começaria a receber
quando começasse a dar lucro. Isso começou há pouco tempo. Já
venho recebendo R$ 200, R$ 300
por mês, uma mixaria [da rádio
89 FM, que fica localizada na cidade de Três Rios]. O Boy já até me
chamou para ser diretor geral.
Folha - O que levou o deputado a
dar a rádio para o sr.?
Monteiro - Pela amizade que ele
tem a mim. É um grande amigo
que pode me ajudar a qualquer
momento.
Folha - Ajudar como?
Monteiro - Para definir a minha
vida, preciso de uns 10 contos [R$
10 mil]. Não tenho casa, moro de
aluguel. Eu e minha mulher temos despesas grandes com remédio. Sou cardíaco, já tive dois infartos. Minha mulher teve câncer
e tem que tomar hormônio.
Folha - O sr. ia pedir ajuda a ele?
Monteiro - Estava indo conversar com ele em Brasília na semana
passada, mas estourou esse negócio de CPI [dos Correios]. Ia pedir
um dinheiro para ele.
Folha - Ele daria o dinheiro?
Monteiro - Vou conversar com
ele. Se não tiver, ele me dá só uma
parte. Depois, dá outra. Ele vai me
ajudar. Quando preciso de dinheiro, ele me salva. Me empresta
uns três, quatro contos, manda
reformar um carro.
Folha - Ele não cobra depois?
Monteiro - Claro que não.
Folha - O sr. desistiu de ir visitá-lo
em Brasília por causa da CPI?
Monteiro- Não. De jeito nenhum. Vou esperar a poeira assentar. Vamos conversar quando
ele estiver em paz.
Folha - Ele arrumou para o sr. algum tipo de emprego público?
Monteiro - Podia estar numa sacanagem qualquer, mas não estou. Nunca pedi um emprego.
Folha- Há quanto tempo o sr. não
encontra o Roberto Jefferson?
Monteiro- Não o vejo pessoalmente há mais ou menos um ano.
Folha - E por telefone?
Monteiro- Mais ou menos isso
também. Eu vivo a minha vida.
Folha - Existe a suspeita de que o
sr. é laranja dele nas rádios...
Monteiro - Eu falo que ele é o
meu laranja. Sempre que precisei
dele, ele me ajudou. Ele é que é
meu laranja. Se amanhã quiser
vender a rádio, ela é minha. Ele
me deu. Não preciso nem falar
com ele. A rádio é minha.
Folha - Como o sr. o conheceu?
Monteiro - Conheci o Roberto
no início da vida política dele. Somos amigos até hoje. Nos separamos por circunstâncias da vida.
Folha - Que circunstâncias?
Monteiro - Tive problemas com
a mulher dele, dona Ecila. Discuti
com ela por causa de negócios.
Folha - Que negócios?
Monteiro - Já estava muito cansado daquilo, era uma guerra só.
Não saturei do Roberto. Dela, eu
saturei. Isso foi em 92. Ele é uma
grande figura humana. A gente
acordava junto e dormia junto.
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