São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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"Ele é que é meu laranja", diz Monteiro

DO ENVIADO A CABO FRIO

Ex-camelô, ex-apontador do jogo do bicho e ex-assessor do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), Durval da Silva Monteiro, 53, mora há dez dias numa casa alugada na praia de Unamar, em Cabo Frio (154 km do Rio).
Monteiro disse que teve que sair da casa em que morava no centro da cidade porque não tinha como pagar o aluguel. Ele vive do que ganha em duas lanchonetes na região -segundo ele, R$ 1.500 mensais. Mora com a mulher, Rita, que não trabalha. Em uma das lanchonetes, a luz está cortada por falta de pagamento. O telefone de casa também não funciona.
Ele diz que com o dinheiro que pretende pedir a Roberto Jefferson conseguirá recuperar os seus negócios e ""definir" sua vida.

Folha - Como o sr. se tornou sócio das rádios?
Durval da Silva Monteiro
-As rádios foram presentes que o Roberto me deu. Ele deu para mim, para o Rogério [Onofre] e para o Boy [Edson Elias Bastos Jorge].

Folha - Mas o sr. recebe como sócio das rádios?
Monteiro
- Como não tinha capital, ficou acertado que o Boy investiria o dinheiro nas rádios e que eu só começaria a receber quando começasse a dar lucro. Isso começou há pouco tempo. Já venho recebendo R$ 200, R$ 300 por mês, uma mixaria [da rádio 89 FM, que fica localizada na cidade de Três Rios]. O Boy já até me chamou para ser diretor geral.

Folha - O que levou o deputado a dar a rádio para o sr.?
Monteiro
- Pela amizade que ele tem a mim. É um grande amigo que pode me ajudar a qualquer momento.

Folha - Ajudar como?
Monteiro
- Para definir a minha vida, preciso de uns 10 contos [R$ 10 mil]. Não tenho casa, moro de aluguel. Eu e minha mulher temos despesas grandes com remédio. Sou cardíaco, já tive dois infartos. Minha mulher teve câncer e tem que tomar hormônio.

Folha - O sr. ia pedir ajuda a ele?
Monteiro
- Estava indo conversar com ele em Brasília na semana passada, mas estourou esse negócio de CPI [dos Correios]. Ia pedir um dinheiro para ele.

Folha - Ele daria o dinheiro?
Monteiro
- Vou conversar com ele. Se não tiver, ele me dá só uma parte. Depois, dá outra. Ele vai me ajudar. Quando preciso de dinheiro, ele me salva. Me empresta uns três, quatro contos, manda reformar um carro.

Folha - Ele não cobra depois?
Monteiro
- Claro que não.

Folha - O sr. desistiu de ir visitá-lo em Brasília por causa da CPI?
Monteiro
- Não. De jeito nenhum. Vou esperar a poeira assentar. Vamos conversar quando ele estiver em paz.

Folha - Ele arrumou para o sr. algum tipo de emprego público?
Monteiro
- Podia estar numa sacanagem qualquer, mas não estou. Nunca pedi um emprego.

Folha- Há quanto tempo o sr. não encontra o Roberto Jefferson?
Monteiro
- Não o vejo pessoalmente há mais ou menos um ano.

Folha - E por telefone?
Monteiro
- Mais ou menos isso também. Eu vivo a minha vida.

Folha - Existe a suspeita de que o sr. é laranja dele nas rádios...
Monteiro
- Eu falo que ele é o meu laranja. Sempre que precisei dele, ele me ajudou. Ele é que é meu laranja. Se amanhã quiser vender a rádio, ela é minha. Ele me deu. Não preciso nem falar com ele. A rádio é minha.

Folha - Como o sr. o conheceu?
Monteiro
- Conheci o Roberto no início da vida política dele. Somos amigos até hoje. Nos separamos por circunstâncias da vida.

Folha - Que circunstâncias?
Monteiro
- Tive problemas com a mulher dele, dona Ecila. Discuti com ela por causa de negócios.

Folha - Que negócios?
Monteiro
- Já estava muito cansado daquilo, era uma guerra só. Não saturei do Roberto. Dela, eu saturei. Isso foi em 92. Ele é uma grande figura humana. A gente acordava junto e dormia junto.

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