|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PT NO DIVÃ
Campo Majoritário retoma defesa do crescimento com distribuição de renda
PT atenua paloccismo em discurso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As digitais do ministro Antônio
Palocci (Fazenda) ficaram menos
visíveis na versão final do documento da ala majoritária do PT
para o processo de renovação da
direção, que vai até setembro.
Divulgada na última semana, a
"tese" do Campo Majoritário, facção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da maioria dos ministros petistas, retirou algumas referências ao controle da inflação e
ao equilíbrio fiscal em comparação com a versão preliminar do
documento, de março.
A defesa do crescimento econômico com distribuição de renda
aparece com ênfase maior agora.
Conceitos que em alguns momentos lembram o velho PT de
oposição, como uma aliança das
forças produtivas contra o capital
financeiro, foram acrescentados.
O texto não é um ataque frontal
à política econômica, devendo ser
lido como um aval crítico à gestão
de Palocci. A linha do documento,
com 72 parágrafos em oito capítulos, é a de que a estabilidade
conquistada não basta nem pode
excluir o crescimento.
Um dos trechos incluídos na
nova versão diz isso claramente:
"O processo de inclusão social e
distribuição de renda -através
do emprego, saúde, educação e
políticas de geração de atividade e
renda- não deriva automaticamente do patamar já alcançado
até agora. Este processo deve ser
construído em conjunto com o
processo de estabilização."
O documento, intitulado
"Construindo o novo Brasil", é
uma espécie de programa de governo da chapa encabeçada pelo
atual presidente do PT, José Genoino, candidato à reeleição na
sucessão interna, em que têm direito a voto 840 mil filiados.
A ala de Genoino, Lula e Palocci
conta também com o ministro José Dirceu (Casa Civil), a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, o
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), entre outros.
O Campo Majoritário compreende cerca de 60% do partido
e é favorito na eleição, apesar de
sua vitória no primeiro turno, como ocorreu na última votação interna, em 2001, não ser certa.
O documento preliminar teve
forte inspiração de Palocci, o que
causou desconforto entre os moderados petistas. Na redação final,
prevaleceu a opinião de que deveria haver equilíbrio maior entre a
defesa da política econômica e a
perspectiva de crescimento, antecipando a linha da campanha de
reeleição de Lula.
Vem dessa preocupação, por
exemplo, a inclusão de um trecho
que ataca de frente os lucros recordes de bancos, causados pela
mais alta taxa de juros do mundo.
"Um processo de crescimento
com emprego e renda também
deriva de uma aliança clara com
forças sociais e produtivas que tenham interesse no novo modelo,
o que certamente o capital financeiro não tem, já que ele ainda é
um dos principais beneficiários
das atuais circunstâncias."
O documento elimina referência ao que pode ser considerado o
marco fundador do paloccismo, a
Carta ao Povo Brasileiro. Lida por
Lula em 22 de junho de 2002, foi
uma tentativa bem-sucedida de
acalmar o mercado, ao assegurar
que um governo petista buscaria
o equilíbrio fiscal, a estabilidade e
o superávit primário.
Na versão preliminar, há referência elogiosa a ela: "Devemos
fazer, com serenidade, espírito
crítico e argumentos a defesa das
políticas de nosso partido e de
nosso governo, que seguem os
termos da Carta ao Povo Brasileiro e do programa de governo".
No texto final, a frase sumiu.
No texto há também elogios à
política econômica. O documento
justifica a política de aperto fiscal
e monetário com base na herança
recebida por Lula. Em contrapartida, pede o "alívio progressivo da
política monetária" e diz que o
controle inflacionário não é valor
absoluto. (FÁBIO ZANINI)
Texto Anterior: Outro lado: Planalto admite o problema, mas culpa imprevistos Próximo Texto: Partido defende "ética" nas alianças Índice
|