São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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PT NO DIVÃ

Campo Majoritário retoma defesa do crescimento com distribuição de renda

PT atenua paloccismo em discurso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As digitais do ministro Antônio Palocci (Fazenda) ficaram menos visíveis na versão final do documento da ala majoritária do PT para o processo de renovação da direção, que vai até setembro.
Divulgada na última semana, a "tese" do Campo Majoritário, facção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da maioria dos ministros petistas, retirou algumas referências ao controle da inflação e ao equilíbrio fiscal em comparação com a versão preliminar do documento, de março.
A defesa do crescimento econômico com distribuição de renda aparece com ênfase maior agora. Conceitos que em alguns momentos lembram o velho PT de oposição, como uma aliança das forças produtivas contra o capital financeiro, foram acrescentados.
O texto não é um ataque frontal à política econômica, devendo ser lido como um aval crítico à gestão de Palocci. A linha do documento, com 72 parágrafos em oito capítulos, é a de que a estabilidade conquistada não basta nem pode excluir o crescimento.
Um dos trechos incluídos na nova versão diz isso claramente: "O processo de inclusão social e distribuição de renda -através do emprego, saúde, educação e políticas de geração de atividade e renda- não deriva automaticamente do patamar já alcançado até agora. Este processo deve ser construído em conjunto com o processo de estabilização."
O documento, intitulado "Construindo o novo Brasil", é uma espécie de programa de governo da chapa encabeçada pelo atual presidente do PT, José Genoino, candidato à reeleição na sucessão interna, em que têm direito a voto 840 mil filiados.
A ala de Genoino, Lula e Palocci conta também com o ministro José Dirceu (Casa Civil), a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), entre outros.
O Campo Majoritário compreende cerca de 60% do partido e é favorito na eleição, apesar de sua vitória no primeiro turno, como ocorreu na última votação interna, em 2001, não ser certa.
O documento preliminar teve forte inspiração de Palocci, o que causou desconforto entre os moderados petistas. Na redação final, prevaleceu a opinião de que deveria haver equilíbrio maior entre a defesa da política econômica e a perspectiva de crescimento, antecipando a linha da campanha de reeleição de Lula.
Vem dessa preocupação, por exemplo, a inclusão de um trecho que ataca de frente os lucros recordes de bancos, causados pela mais alta taxa de juros do mundo.
"Um processo de crescimento com emprego e renda também deriva de uma aliança clara com forças sociais e produtivas que tenham interesse no novo modelo, o que certamente o capital financeiro não tem, já que ele ainda é um dos principais beneficiários das atuais circunstâncias."
O documento elimina referência ao que pode ser considerado o marco fundador do paloccismo, a Carta ao Povo Brasileiro. Lida por Lula em 22 de junho de 2002, foi uma tentativa bem-sucedida de acalmar o mercado, ao assegurar que um governo petista buscaria o equilíbrio fiscal, a estabilidade e o superávit primário.
Na versão preliminar, há referência elogiosa a ela: "Devemos fazer, com serenidade, espírito crítico e argumentos a defesa das políticas de nosso partido e de nosso governo, que seguem os termos da Carta ao Povo Brasileiro e do programa de governo". No texto final, a frase sumiu.
No texto há também elogios à política econômica. O documento justifica a política de aperto fiscal e monetário com base na herança recebida por Lula. Em contrapartida, pede o "alívio progressivo da política monetária" e diz que o controle inflacionário não é valor absoluto. (FÁBIO ZANINI)

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