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PT NO DIVÃ
Expectativa de quatro meses de campanha e debate de temas como o combate à corrupção assustam governistas
Petistas temem que eleição interna revele fragilidade do partido
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A eleição direta para presidente
do PT, que era considerada uma
excelente idéia quando o partido
fazia oposição, agora preocupa a
cúpula partidária.
A perspectiva de quase quatro
meses de campanha interna, expondo aos adversários o racha
quanto à política econômica,
alianças e, depois da criação da
CPI dos Correios, também ao
combate à corrupção, causa calafrios nos governistas.
Alguns se mostram abertamente arrependidos com a "maluquice" que o PT inventou. A eleição
está marcada para 18 de setembro
e prevê nada menos que 27 debates nos Estados.
"Uma coisa é fazer o debate interno como oposição, outra coisa
é expor por tanto tempo o partido
do governo, ainda mais na atual
condição de fragilidade política.
Precisamos tomar cuidado extremo", afirma um integrante da
Executiva Nacional petista, sob a
condição de anonimato.
A eleição coloca o atual presidente, José Genoino, que disputa
a reeleição, na berlinda, contra
seis candidatos, quatro deles
identificados com os chamados
"radicais", que rejeitam a política
econômica e a política de alianças.
Uma parte deles agora também
promete usar a operação abafa na
CPI como argumento interno.
"É uma doideira, daqui até setembro vamos gastar 90% do nosso tempo não disputando a hegemonia na sociedade, mas nos engalfinhando internamente", diz o
deputado Luiz Sérgio (RJ), vice-líder da bancada do PT na Câmara.
O PED (Processo de Eleição Direta) nasceu no 2º Congresso do
PT, ocorrido em Belo Horizonte
(MG), em 99. A idéia era passar
uma imagem de partido democrático e sem medo do debate.
"Naquela época, a gente não
achava que ia chegar ao poder",
diz o deputado Paulo Delgado
(PT-MG), que apoiou a idéia e hoje a critica -ressalvando, assim
como Luiz Sérgio, não ser contra
a tese da eleição direta, mas contra o momento em que se realiza.
"O PT tem um jeito monge tibetano de ser, privilegia a vida interior em detrimento da vida real. A
eleição direta vai agravar a disputa interna", afirma Delgado.
O fogo amigo é considerado pela direção petista um dos principais problemas que afetam a imagem do partido. No último programa de TV do PT, Genoino dedicou alguns minutos para tentar
justificar as infindáveis disputas
internas, com base no argumento
de que, se o partido tolera divergências de opinião, não aceita dissidências na hora de decidir.
A linha oficial é de despreocupação com o processo. "O processo de eleição direta vai criar um
leito para que o debate possa correr", diz Genoino. Ele afirma não
acreditar que o combate à corrupção seja um dos pilares do debate.
Na prática, o desrespeito às determinações partidárias é uma
constante na história petista e deve estar presente como nunca no
processo de eleição direta.
Reservadamente, o integrante
da Executiva diz que a direção vai
responder à altura se atacada.
"Não vamos aceitar que alguém
desça o nível do debate e nos acuse de não respeitar a ética."
Para o deputado Ivan Valente
(SP), a menção à CPI é inevitável.
"É um dos temas mais importantes da atual realidade."
A vez dos radicais
Contrários ao processo de eleição direta na sua concepção, os
radicais agora aguardam a chance
de aparecer na mídia e colocar holofotes sobre temas que horrorizam o Palácio do Planalto.
"A eleição direta aumenta a exposição do partido aos humores
da conjuntura. Como está tudo
negativo, isso se reflete na base",
diz Valter Pomar, candidato da
Articulação de Esquerda.
A justificativa oficial da esquerda partidária para rejeitar o processo, em 1999, era que seria melhor manter a renovação da direção nos encontros do partido, do
qual participavam apenas delegados. Some-se a isso o fato de que
os radicais temiam que uma eleição direta favorecesse as figuras
mais conhecidas do partido, todas da ala moderada.
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