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JANIO DE FREITAS
Seguranças das ilegalidades
Os governos estaduais e federal não precisam mais do que ter nas casas legislativas maiorias ainda que mínimas
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UMA CPI que acaba por inutilidade e outra que nem consegue começar, as duas na
mesma semana, dão bem a medida
da liberdade, cada vez menos contestada, de que os governos desfrutam para as improbidades administrativas impunes. Não precisam
mais do que ter nas casas legislativas
maiorias ainda que mínimas (em
número, não em carência moral).
A gravidade e a dimensão de imoralidades que investigações suíças
levantam, nas duradouras relações
entre a multinacional Alstom e administrações públicas paulistas e federais brasileiras, por si só explicaria o bloqueio da bancada de José Serra
à necessária CPI na Assembléia Legislativa de São Paulo. Mas se trata
da explicação que condena, com numeroso acréscimo de cumplicidades
à bandidagem originária.
Os suíços são muito cautelosos na
comunicação das constatações, tanto por exigência de suas leis, como
por experiências frustrantes em liberações passadas para poderes brasileiros. Apesar do comedimento, o
que já foi informado é indicativo de
um conjunto de casos de corrupção
com metástases por vários setores
de poder. Daí vem uma decorrência
oportuna e rara. É a provável inutilidade do bloqueio à CPI pela bancada
de José Serra, porque a extensão e,
também para a Suíça, a ilegalidade
das ações atribuídas à Alstom levarão a investigações lá que, fatalmente, se tornarão públicas e, portanto,
conhecidas aqui. Já houve finais assim, com a Suíça mesmo, com a Itália e com os Estados Unidos, em casos que vieram implodir aqui.
As relações solidárias entre o governador José Serra e o presidente
Lula atenuam possíveis estranhezas, outrora inevitáveis, com estarem os dois enlaçados também em
relação a CPIs. As reuniões que levaram tal nome, com senadores e deputados do governo e da oposição,
devem encerrar-se hoje com mais
um espetáculo patético. Seu destino
poderia ter-se definido há muito
tempo, por alguém que tivesse a
sensatez de chegar à porta, em qualquer dia, e bradar para a sala: "Todos
daqui para fora. Já. Chega de gaiatice".
A CPI dos Cartões Corporativos
foi só isso mesmo: um circo sem graça, embora com os personagens de
praxe nos picadeiros. A bancada de
Lula e a da oposição confraternizaram no propósito de evitar a verificação dos gastos palacianos e ministeriais, de hoje ou de ontem, um lado
e outro na certeza de que lhes é mais
apropriado resguardar a imoralidade administrativa do que não poder,
agora ou mais tarde, valer-se de tantas das suas formas.
Células de novo
Por parte de católicos e por parte
de evangélicos, inclusive na bancada religiosa do Congresso, está retomada a busca de uma providência parlamentar que suste, ou restrinja, a pesquisa com células-tronco embrionárias convalidada pelo
Supremo Tribunal Federal. A perspectiva de êxito, porém, é muito
pequena. A composição atual do
Congresso é pior que a anterior, em
todos os sentidos. Mas a aprovação
da Lei de Biossegurança em 2003
foi por margem tão ampla que, de lá
para cá, não pode estar toda perdida.
Ainda assim, vai aí um trecho do
valioso voto da ministra Cármen
Lúcia Rocha: "A pesquisa com células-tronco embrionárias não é certeza de conquistas no campo científico. Mas a não-pesquisa é certeza
de não-conquista".
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