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ELIO GASPARI
Ciro pode ser o
Tancredo de FFHH
Outro dia FFHH disse a
Dora Kramer que deseja
influir na sucessão presidencial. Isso todo mundo deseja,
mas, desde Arthur Bernardes,
só um presidente civil conseguiu fazer seu sucessor. Foi
Itamar Franco. Ele é uma espécie de Xororó da política nacional. Não fica bem ouvi-lo,
muito menos procurar entender por que deu certo (visto
que, por definição, deu errado). Deixando-se de lado as
características biográficas e os
defeitos pessoais que o assemelham ao presidente americano
Harry Truman (1945-1953), é
o caso de perguntar como um
presidente mercurial, com um
governo de meia-sola, conseguiu coisa tão difícil. A primeira resposta é rápida: foi Fernando Henrique quem se elegeu.
Essa idéia é falsa. Vale demonstrar a sua falsidade porque nela está embutido um ingrediente que foi elixir para
Itamar Franco e pode ser veneno para FFHH. Nunca passou pela cabeça de Fernando
Henrique Cardoso ser ministro da Fazenda. Ele foi intimado a assumir o cargo na noite
de 19 de maio de 1993, quando
estava em Nova York. No início da tarde, almoçava (rigatoni) com Paulo Francis no
Bravo Gianni. Àquela hora, as
chances de ele vir a ser ministro eram as mesmas de Francis.
Afora o imprevisto pessoal, a
idéia que ele fazia da economia brasileira prenunciava o
FFHH dos anos seguintes.
Achava que a economia ia
muito bem, obrigado. O saldo
comercial de US$ 20 bilhões,
segundo ele, indicava "uma
economia vigorosa". Registre-se que a isso somava uma opinião forte: "Tudo passa pela
derrubada da inflação, pois é
ela quem está abatendo a confiança do povo brasileiro". A
ida do professor Cardoso para
o ministério da Fazenda foi
obra exclusiva de Itamar
Franco e sua manutenção,
também.
Ao escolhê-lo, Itamar sabia
que o professor jogaria a vida
no cargo. E o professor sabia
que a vida de todos os seus antecessores tinha acabado
quando a inflação passou por
cima de suas biografias, transformando-os em consultores.
Até aí, nada demais, pois todos os antecessores de Itamar
poderiam ter pensado em
aproveitar a ambição de seus
ministros da Fazenda para
alavancar seus governos. Delfim Netto poderia ter sido o sucessor de Figueiredo, mas, em
1982, o Brasil quebrou no seu
colo. Dilson Funaro poderia
ter sido o sucessor de Sarney,
mas foi quebrado aos pedaços.
Não foi o professor Cardoso
quem se diferenciou de Delfim
ou Funaro. Foi Itamar quem
se diferenciou de seus antecessores. Ele teve a coragem de
abdicar de uma parcela ponderável do poder presidencial
para abrir o caminho para um
plano de estabilização econômica associado a uma candidatura presidencial (ou vice-versa). Hoje, FFHH e a ekipekonômica gostam de dizer que
abriram seus próprios espaços.
Gogó. Tanto não abriram que
Itamar enfiou-lhes Ciro Gomes goela abaixo no episódio
da demissão do embaixador
Rubens Ricupero.
Por temperamento, Itamar
fez algo inédito ao ceder a ribalta e o mando em benefício
da estabilidade e do seu ministro. Vindo lá de trás, fez o que
Juscelino Kubitschek não conseguiu quando aceitou que
Lucas Lopes fosse embora. O
que Ernesto Geisel não fez ao
governar uma disputa entre os
ministros Mário Henrique Simonsen e Reis Velloso (vencida no afeto por Simonsen e nas
contas públicas por Velloso).
Tudo isso vem ao caso porque numa hora em que se considera brega louvar as virtudes
de Itamar (como foi brega louvar as de Truman), FFHH diz
que pretende influenciar na
sucessão, mas não mostra a
menor aptidão para ceder
uma gota de xampu em benefício de uma candidatura viável ou pelo menos sincera.
Há dois candidatos no topo
do governo: Pedro Malan e José Serra. Malan depende de
um êxito econômico e social
difícil de ser alcançado. Isso
para não falar em Mário Covas. Se metade do que FFHH e
Covas dizem um do outro for
verdade, o Brasil perdido está
e perdido continuará caso ele
saia candidato e vença a eleição. Para o bem de todos, um é
maledicente e o outro é ranheta, portanto não se deve dar
peso exagerado aos seus destampatórios.
Por fora, dependendo cada
vez mais de uma improvável
capotagem de Ciro Gomes, está Tasso Jereissati. FFHH se
diz inimigo de Ciro Gomes.
Pode até ser verdade, mas, se
um curioso cronometrar o
tempo que ele gasta admirando os defeitos de seus correligionários, provará que melhor
negócio faz o adversário.
Não se pode saber como estará o país em 2002, mas, até
agora, os passos de FFHH assemelharam-se muito mais aos
do general Figueiredo. Ele gostava tanto de falar mal dos
candidatos do governo (Maluf
e Mário Andreazza) que elegeu Tancredo Neves. O Tancredo Neves de FFHH já tem
nome. Chama-se Ciro Gomes.
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