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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Rodrigues defende proprietários; Rossetto critica milícias

Uso de arma contra MST divide ministros de Lula

Alan Marques/Folha Imagem
José Dirceu, o presidente Lula e o ministro Roberto Rodrigues (à dir.), no Palácio do Planalto


WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um momento de acirramento das tensões no campo entre sem-terra e proprietários rurais, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, defendeu ontem o direito dos fazendeiros de protegerem suas propriedades inclusive com o uso de armas, mas depois recuou, afirmando que havia cometido um "escorregão".
Antes dele, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, havia chamado de "aventureiros irresponsáveis" os proprietários que usam milícias armadas. Os dois ministros deram entrevistas no Palácio do Planalto, onde participaram de uma solenidade relativa ao Dia Internacional do Cooperativismo.
Rodrigues repetiu diversas vezes que apóia o uso de todos os recursos permitidos por lei na defesa das propriedades. Questionado sobre quem considerava culpado no conflito ocorrido anteontem no Paraná, onde um sem-terra foi baleado num confronto com seguranças de uma fazenda, Rodrigues disse que não sabia, porque não é delegado. Ele afirmou, entretanto, que os proprietários têm o direito de proteger seus imóveis, senão não seriam dignos de tê-los.
"Mas defender dessa maneira?", foi questionado por uma repórter, em uma referência ao uso de seguranças armados. "Qual é a outra maneira que você acha?", respondeu o ministro. Ele afirmou em seguida que não estava defendendo o conflito armado.
Mais tarde, o ministro concedeu nova entrevista para explicar o que havia dito: "Esse talvez tenha sido um escorregão pelo momento da confusão", disse ele, a respeito de sua frase anterior.
Rodrigues tentou minimizar a importância do fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter usado um boné do MST, durante encontro na quarta-feira com 29 dirigentes do movimento, dizendo que, para os ruralistas, o importante é que o governo vai usar a lei contra excessos dos dois lados. "As posições dos proprietários rurais têm de ser tomadas sob o império da lei. Da mesma forma como as ações de quaisquer movimentos, como o MST", disse.
Rodrigues afirmou que é contra o conflito no campo, por criar instabilidade ao setor agrícola, e que não acha adequado que os fazendeiros produzam qualquer ação que leve ao conflito armado.
Em oposição ao seu colega da Agricultura, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, chamou de "aventureiros irresponsáveis" os proprietários que utilizam milícias armadas.
Ligado à tendência de esquerda petista Democracia Socialista (próxima ao MST gaúcho), Rossetto concedeu entrevista antes de Rodrigues. Ele afirmou que as milícias armadas são usadas em casos localizados. Citou a existência de grupos "muito conhecidos de todos nós" em Pernambuco, no Paraná e na região do Triângulo Mineiro, em Minas: "Vamos eliminar qualquer tipo de ação nesse sentido. É intolerável. A Polícia Federal já está investigando essa conduta. É inaceitável".
"São ações irresponsáveis, ilegais, localizadas. Não terão espaço esses aventureiros irresponsáveis que buscam ampliar o padrão de violência no campo, num marco de absoluta ilegalidade."
O presidente Lula discursou na cerimônia sobre o cooperativismo, mas evitou temas polêmicos, como o conflito no campo. Ele se limitou a ler discurso preparado por sua assessoria, o que é raro.


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