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Rodrigues admite "escorregão"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura) deu duas entrevistas. Na primeira, numa entrevista
tumultuada, chegou a defender a
ação armada na defesa das propriedades. Depois, numa entrevista organizada por sua assessoria, disse que cometeu um "escorregão". Leia os principais trechos:
Pergunta - Houve um tiroteio no
Paraná. Está faltando pulso ao governo? A situação no campo está
fora de controle?
Roberto Rodrigues - Não acredito. O presidente determinou aos
seus ministros e declarou peremptoriamente que nada mais
ocorrerá à margem da lei daqui
para a frente e quem quer que cometa exageros de qualquer lado
receberá o tratamento da lei.
Pergunta - Recebeu reclamação
de produtores pelo fato de o presidente ter usado o boné do MST?
Rodrigues - Não. Recebi muita
preocupação, mas não por causa
do boné. Esse negócio do boné é
um símbolo. O presidente já foi a
sete feiras agrícolas no Brasil inteiro e sempre usou bonés. Havia
uma preocupação na classe rural,
muito mais do que o uso do boné,
em relação à questão do não-cumprimento da lei para aqueles
assuntos que eram tratados fora
da lei e isso já foi definido pelo governo que não acontecerá mais.
Pergunta - No caso do confronto
no Paraná, de quem é a culpa?
Rodrigues - Não sei. Não sou delegado de polícia para saber quem
é o culpado.
Pergunta - Os fazendeiros não estão exagerando?
Rodrigues - O que você acha?
Pergunta - Eu não acho nada, ministro.
Rodrigues - Também não acho
nada. Não sei quem nasceu primeiro, se foi o ovo ou a galinha.
Agora, acho que quem tem patrimônio tem de defender, senão
não tem o direito de tê-lo.
Pergunta - Mas defender dessa
maneira?
Rodrigues - Qual é a outra maneira que você acha?
Pergunta - O sr. está defendendo
o conflito armado?
Rodrigues - Que tolice! Não ponha palavras na minha boca. O
que eu disse é que quem tem patrimônio tem de defendê-lo de todas as maneiras possíveis dentro
da lei, sob o império da lei.
Na segunda parte da entrevista,
organizada por sua assessoria, o
Rodrigues mudou o tom:
Rodrigues - Queria nivelar o que
foi dito, desde já me desculpando
por eventuais descasamentos
aparentes. Foi perguntado se eu
era a favor de os produtores se armarem, disse o seguinte: que considero que todo mundo que tem
alguma coisa deve defender o que
tem. Quem não defende o que
tem não é digno de tê-lo. E disse
também que essa defesa tem de
ser feita sob o império da lei. Então, as posições dos proprietários
rurais têm de ser tomadas sob o
império da lei. Da mesma forma
como as ações de quaisquer movimentos, como o MST.
Acho mais: a reforma agrária
tem de ser feita. Erros de governos
passados nas últimas décadas
produziram a exclusão social no
campo, exigindo agora uma compensação, e a reforma agrária é o
mecanismo para isso. Mas sem
violência, sem invasões, dentro
do espírito da lei.
Pergunta - A lei permite segurança armada?
Rodrigues - Não sei se permite.
(...) Se a lei permitir qualquer instrumento de defesa, ele tem de ser
admitido.
Pergunta - Queremos deixar claro: o sr. disse que quem tem propriedade deve defendê-la. Perguntaram: "Dessa maneira?", referindo-se à defesa armada, e o sr. disse:
"Você conhece outra maneira?"
Rodrigues - Esse talvez tenha sido um escorregão pelo momento
da confusão. Queria reiterar isto:
nada mais que eu diga transcende
o que disse agora. Defendo, assim
como todos os integrantes do governo, ação dentro da lei. O que a
lei permitir, nós defendemos.
Pergunta - O sr. é contra armas
nas propriedades?
Rodrigues - Eu sou contra o conflito armado. A agricultura é um
setor que precisa de tranquilidade
e condições de continuar investindo. Qualquer conflito armado
pode criar inquietação, insegurança, mal-estar no campo.
Pergunta - O senhor acha legítimo um proprietário contratar seguranças armados, nem que seja
para intimidar?
Rodrigues - Essa é uma questão
altamente complexa, eu tenho dificuldade de respondê-la. Eu acho
legítimo que o produtor se defenda dentro da lei. Se isso for permitido pela lei, não é ilegítimo.
Pergunta - O senhor defenderia
sua propriedade com uma milícia
armada?
Rodrigues - Não existe a
menor possibilidade de minha
propriedade ser alvo de qualquer
conflito.
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