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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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Rodrigues admite "escorregão"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) deu duas entrevistas. Na primeira, numa entrevista tumultuada, chegou a defender a ação armada na defesa das propriedades. Depois, numa entrevista organizada por sua assessoria, disse que cometeu um "escorregão". Leia os principais trechos:
 

Pergunta - Houve um tiroteio no Paraná. Está faltando pulso ao governo? A situação no campo está fora de controle?
Roberto Rodrigues -
Não acredito. O presidente determinou aos seus ministros e declarou peremptoriamente que nada mais ocorrerá à margem da lei daqui para a frente e quem quer que cometa exageros de qualquer lado receberá o tratamento da lei.

Pergunta - Recebeu reclamação de produtores pelo fato de o presidente ter usado o boné do MST?
Rodrigues -
Não. Recebi muita preocupação, mas não por causa do boné. Esse negócio do boné é um símbolo. O presidente já foi a sete feiras agrícolas no Brasil inteiro e sempre usou bonés. Havia uma preocupação na classe rural, muito mais do que o uso do boné, em relação à questão do não-cumprimento da lei para aqueles assuntos que eram tratados fora da lei e isso já foi definido pelo governo que não acontecerá mais.

Pergunta - No caso do confronto no Paraná, de quem é a culpa?
Rodrigues -
Não sei. Não sou delegado de polícia para saber quem é o culpado.

Pergunta - Os fazendeiros não estão exagerando?
Rodrigues -
O que você acha?

Pergunta - Eu não acho nada, ministro.
Rodrigues -
Também não acho nada. Não sei quem nasceu primeiro, se foi o ovo ou a galinha. Agora, acho que quem tem patrimônio tem de defender, senão não tem o direito de tê-lo.

Pergunta - Mas defender dessa maneira?
Rodrigues -
Qual é a outra maneira que você acha?

Pergunta - O sr. está defendendo o conflito armado?
Rodrigues -
Que tolice! Não ponha palavras na minha boca. O que eu disse é que quem tem patrimônio tem de defendê-lo de todas as maneiras possíveis dentro da lei, sob o império da lei.
 
Na segunda parte da entrevista, organizada por sua assessoria, o Rodrigues mudou o tom:

Rodrigues - Queria nivelar o que foi dito, desde já me desculpando por eventuais descasamentos aparentes. Foi perguntado se eu era a favor de os produtores se armarem, disse o seguinte: que considero que todo mundo que tem alguma coisa deve defender o que tem. Quem não defende o que tem não é digno de tê-lo. E disse também que essa defesa tem de ser feita sob o império da lei. Então, as posições dos proprietários rurais têm de ser tomadas sob o império da lei. Da mesma forma como as ações de quaisquer movimentos, como o MST.
Acho mais: a reforma agrária tem de ser feita. Erros de governos passados nas últimas décadas produziram a exclusão social no campo, exigindo agora uma compensação, e a reforma agrária é o mecanismo para isso. Mas sem violência, sem invasões, dentro do espírito da lei.

Pergunta - A lei permite segurança armada?
Rodrigues -
Não sei se permite. (...) Se a lei permitir qualquer instrumento de defesa, ele tem de ser admitido.

Pergunta - Queremos deixar claro: o sr. disse que quem tem propriedade deve defendê-la. Perguntaram: "Dessa maneira?", referindo-se à defesa armada, e o sr. disse: "Você conhece outra maneira?"
Rodrigues -
Esse talvez tenha sido um escorregão pelo momento da confusão. Queria reiterar isto: nada mais que eu diga transcende o que disse agora. Defendo, assim como todos os integrantes do governo, ação dentro da lei. O que a lei permitir, nós defendemos.

Pergunta - O sr. é contra armas nas propriedades?
Rodrigues -
Eu sou contra o conflito armado. A agricultura é um setor que precisa de tranquilidade e condições de continuar investindo. Qualquer conflito armado pode criar inquietação, insegurança, mal-estar no campo.

Pergunta - O senhor acha legítimo um proprietário contratar seguranças armados, nem que seja para intimidar?
Rodrigues -
Essa é uma questão altamente complexa, eu tenho dificuldade de respondê-la. Eu acho legítimo que o produtor se defenda dentro da lei. Se isso for permitido pela lei, não é ilegítimo.

Pergunta - O senhor defenderia sua propriedade com uma milícia armada?
Rodrigues -
Não existe a menor possibilidade de minha propriedade ser alvo de qualquer conflito.


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