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REFORMA TRIBUTÁRIA
Viabilidade política da medida, que possibilitaria reduzir gastos em saúde e educação, é questionada
Estados exigem mais liberdade para gastar
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOÃO DEL REY
A reunião do Confaz, órgão que
reúne os secretários estaduais de
Fazenda, realizada ontem em São
João Del Rey (MG), revelou uma
queda-de-braço entre os Estados
e o governo Lula em torno da desvinculação das receitas orçamentárias. Os governadores não admitem abrir mão da possibilidade
de gastar livremente 20% dos seus
recursos.
Presente em um momento da
reunião, o governador de Minas,
Aécio Neves (PSDB), foi taxativo
na sua fala aos secretários estaduais, ao secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Arno Augustin Filho, e ao relator da comissão da reforma tributária na
Câmara, o deputado Virgílio Guimarães (PT).
"Será difícil nós [governadores]
compreendermos que devemos
apoiar a desvinculação das receitas da União e não apoiar a desvinculação das receitas dos Estados, sobretudo no momento de
absoluto estrangulamento das finanças estaduais", disse Aécio.
Ao fim da reunião, Augustin Filho se esquivou do tema. Já o relator da reforma também tentou desviar o assunto, mas acabou falando: "Politicamente se tornou
inviável a DRE [Desvinculação
das Receitas dos Estados]. Temos
que procurar uma outra coisa".
Mas ele apontou resistências no
Congresso: "Não há viabilidade
política. É o que informam as
bancadas [dos partidos]".
Sem querer se indispor com os
Estados, Guimarães reconheceu
ter "um abacaxi" nas mãos. Disse
não ter uma solução para isso. E
saiu-se com essa: "Eu sou absolutamente solidário com os movimentos sociais e sou absolutamente solidário com os secretários [da Fazenda]".
A desvinculação foi acertada na
reunião da semana passada entre
os governadores com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No relato da reunião com Lula que Aécio fez aos integrantes do Confaz,
ele disse que "houve compreensão por parte do governo" quando o assunto foi discutido.
Mas quando veio à tona que os
Estados poderiam cortar recursos
da educação e da saúde, as bancadas na Câmara ligadas às questões
sociais reagiram. E em uma reunião na última quarta-feira na casa do presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT), com a presença do ministro José Dirceu (Casa
Civil), essa permissão aos Estados
foi rechaçada.
No Confaz, Aécio disse que até
compreende que manifestações
contrárias a isso ocorram, mas
depois, em entrevista, cobrou do
governo: "Espero que o governo
federal fique absolutamente firme
diante das propostas acordadas
com os governadores, porque começar a abrir mão por uma pressão setorial aqui e ali, deste ou daquele ponto, pontos que significam perda de receita para todos
os Estados, sem garantir uma
compensação para aquela perda,
é criar dificuldades para essas votações".
Aécio tratou desse assunto na
visita que Lula fez anteontem a
Minas. E o governador disse ter
obtido do presidente a garantia de
que as questões acordadas com os
governadores serão todas cumpridas.
Os Estados vão trabalhar no
Congresso para viabilizar a questão. O Confaz vai preparar um
texto a ser entregue aos deputados e senadores, explicando que a
desvinculação não vai significar
menos recursos para as áreas sociais. Aécio disse que os governadores também vão explicar isso,
que querem apenas mais "flexibilidade". "Nenhum governo cometerá a irresponsabilidade de
diminuir os investimentos sociais", afirmou.
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