São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT

Secretário-geral do partido pediu licença do cargo e apuração em comissão de ética

Silvio Pereira sai sozinho e amplia crise na cúpula do PT

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para surpresa e desgosto do presidente do PT, José Genoino, o secretário-geral do partido, Silvio Pereira, antecipou-se à reunião de hoje da Executiva Nacional do partido e se afastou ontem do comando petista para dedicar-se "integralmente" à sua defesa. Ele é um dos acusados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de envolvimento no escândalo do "mensalão".
Silvinho, como é chamado, se licenciou da função avisando a petistas que seu "compromisso é com a verdade". Ele também solicitou a abertura de um processo sobre sua conduta na comissão de ética do partido.
A decisão -expressa em duas notas enviadas no fim da tarde ao partido- debilita a situação de Genoino, desmontando o plano traçado para debelar a crise.
Segundo integrantes da Executiva, Genoino falou com Silvinho ao telefone após receber as notas. E perguntou, por exemplo, se deveria tornar público seu teor. Silvinho defendeu sua divulgação.
No partido, a leitura é que, queixando-se de desamparo -"Não confio em mais ninguém", desabafava-, o secretário-geral não quis esperar por sua degola.
O golpe abalou Genoino, que apostava suas fichas em seu desempenho na entrevista de ontem ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. Se sua performance fosse boa, a intenção seria protelar para sábado, dia da reunião do Diretório Nacional, qualquer decisão sobre o destino dele próprio, de Silvinho e do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Outra alternativa seria negociar a saída de Delúbio e Silvinho da Executiva, deixando seu futuro para sábado.
Agora, o afastamento de Silvinho pôs Delúbio no foco da reunião de hoje, quando pode renunciar. Como o tesoureiro não quer sair só, pode precipitar substituições na Executiva ainda hoje.
Há um mês, Silvinho vinha ameaçando sair sob o argumento de que a demora poderia arranhar ainda mais a imagem do partido. Mas, segundo contou a interlocutores, a direção do partido não só foi contrária à idéia como proibiu que concedesse entrevistas sobre o assunto. "Se eu falar, quem vai me proteger? Não tenho imunidade. Posso sair algemado de uma CPI", repetia ele, lamentando que apenas Delúbio tivesse a oportunidade de defesa.
Silvinho tem afirmado que tudo o que fez foi sob orientação do partido. Em conversas, diz que cansou de ser "um homem de retaguarda", que cumpre ordens. "Quero ser responsabilizado apenas por minhas decisões. Não pelas dos outros."
Silvinho nega qualquer participação em negociações com partidos aliados em 2004, argumentando que foi afastado do núcleo de decisões após criticar a estratégia petista para as eleições municipais. À época, reclamou de o PT concentrar esforços em algumas capitais.
Hoje, diz que a nascente de toda a crise foi a tentativa de evitar o isolamento do PT em São Paulo, numa insinuação de que o partido começou a cortejar PL e PTB para garantir aliados para a então prefeita Marta Suplicy.
Nas conversas, Silvinho diz que se limitou à montagem do governo -distribuição de cargos para aliados. "Sei que o que fiz já não era saudável. Mas nunca ouvi falar em mensalão", diz ele, lembrando que passou rapidamente por uma reunião com o PTB, na sede do PT em Brasília. Segundo Jefferson, foi nela que o PT prometeu pagar R$ 20 milhões ao PTB em troca de apoio nas cidades. "Tudo que eu fiz foi perguntar "E o Bittar?" Já estavam entregando a cabeça dele", conta, numa referência ao candidato do PT à Prefeitura do Rio, Jorge Bittar, que seria excluído da lista de alianças com os petebistas.
Silvinho também costuma reclamar do apetite do PT na partilha de cargos. Segundo lembra, a ganância de petistas por vagas de maior salário deixou para aliados postos nos quais é possível haver desvio de dinheiro público, como as delegacias do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT). Por isso, não seria capaz de negar que exista "corrupção sistêmica" no governo.
Ele também se queixa de líderes petistas como o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, e o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). Chega a relatar uma conversa com Gushiken, após o ministro propor a "despetização" do governo. "Não aceito a acusação de aparelhamento da máquina. Foram os ministros que aparelharam", diz ele, contando ter perguntando a Gushiken quem o PT indicou para sua equipe. Na mesma conversa, Silvinho rejeitou ser comparado a Dirceu "Tenho sangue em minhas veias", reagiu.
Embora alegue ter pouco a contar sobre o "mensalão", Silvinho poderá falar à CPI sobre a estrutura da máquina administrativa. "O meu compromisso será com a verdade. Não é com partido. Com ninguém."


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