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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT
Secretário-geral do partido pediu licença do cargo e apuração em comissão de ética
Silvio Pereira sai sozinho e amplia crise na cúpula do PT
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para surpresa e desgosto do presidente do PT, José Genoino, o secretário-geral do partido, Silvio
Pereira, antecipou-se à reunião de
hoje da Executiva Nacional do
partido e se afastou ontem do comando petista para dedicar-se
"integralmente" à sua defesa. Ele é
um dos acusados pelo deputado
Roberto Jefferson (PTB-RJ) de
envolvimento no escândalo do
"mensalão".
Silvinho, como é chamado, se licenciou da função avisando a petistas que seu "compromisso é
com a verdade". Ele também solicitou a abertura de um processo
sobre sua conduta na comissão de
ética do partido.
A decisão -expressa em duas
notas enviadas no fim da tarde ao
partido- debilita a situação de
Genoino, desmontando o plano
traçado para debelar a crise.
Segundo integrantes da Executiva, Genoino falou com Silvinho
ao telefone após receber as notas.
E perguntou, por exemplo, se deveria tornar público seu teor. Silvinho defendeu sua divulgação.
No partido, a leitura é que, queixando-se de desamparo -"Não
confio em mais ninguém", desabafava-, o secretário-geral não
quis esperar por sua degola.
O golpe abalou Genoino, que
apostava suas fichas em seu desempenho na entrevista de ontem
ao programa "Roda Viva", da TV
Cultura. Se sua performance fosse
boa, a intenção seria protelar para
sábado, dia da reunião do Diretório Nacional, qualquer decisão sobre o destino dele próprio, de Silvinho e do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Outra alternativa seria negociar a saída de Delúbio e
Silvinho da Executiva, deixando
seu futuro para sábado.
Agora, o afastamento de Silvinho pôs Delúbio no foco da reunião de hoje, quando pode renunciar. Como o tesoureiro não quer
sair só, pode precipitar substituições na Executiva ainda hoje.
Há um mês, Silvinho vinha
ameaçando sair sob o argumento
de que a demora poderia arranhar ainda mais a imagem do
partido. Mas, segundo contou a
interlocutores, a direção do partido não só foi contrária à idéia como proibiu que concedesse entrevistas sobre o assunto. "Se eu falar, quem vai me proteger? Não
tenho imunidade. Posso sair algemado de uma CPI", repetia ele, lamentando que apenas Delúbio tivesse a oportunidade de defesa.
Silvinho tem afirmado que tudo
o que fez foi sob orientação do
partido. Em conversas, diz que
cansou de ser "um homem de retaguarda", que cumpre ordens.
"Quero ser responsabilizado apenas por minhas decisões. Não pelas dos outros."
Silvinho nega qualquer participação em negociações com partidos aliados em 2004, argumentando que foi afastado do núcleo
de decisões após criticar a estratégia petista para as eleições municipais. À época, reclamou de o PT
concentrar esforços em algumas
capitais.
Hoje, diz que a nascente de toda
a crise foi a tentativa de evitar o
isolamento do PT em São Paulo,
numa insinuação de que o partido
começou a cortejar PL e PTB para
garantir aliados para a então prefeita Marta Suplicy.
Nas conversas, Silvinho diz que
se limitou à montagem do governo -distribuição de cargos para
aliados. "Sei que o que fiz já não
era saudável. Mas nunca ouvi falar em mensalão", diz ele, lembrando que passou rapidamente
por uma reunião com o PTB, na
sede do PT em Brasília. Segundo
Jefferson, foi nela que o PT prometeu pagar R$ 20 milhões ao
PTB em troca de apoio nas cidades. "Tudo que eu fiz foi perguntar "E o Bittar?" Já estavam entregando a cabeça dele", conta, numa referência ao candidato do PT
à Prefeitura do Rio, Jorge Bittar,
que seria excluído da lista de
alianças com os petebistas.
Silvinho também costuma reclamar do apetite do PT na partilha de cargos. Segundo lembra, a
ganância de petistas por vagas de
maior salário deixou para aliados
postos nos quais é possível haver
desvio de dinheiro público, como
as delegacias do Departamento
Nacional de Produção Mineral
(DNPM) e do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (DNIT). Por isso, não seria capaz de negar que exista "corrupção sistêmica" no governo.
Ele também se queixa de líderes
petistas como o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, e o
ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). Chega a relatar uma conversa
com Gushiken, após o ministro
propor a "despetização" do governo. "Não aceito a acusação de
aparelhamento da máquina. Foram os ministros que aparelharam", diz ele, contando ter perguntando a Gushiken quem o PT
indicou para sua equipe. Na mesma conversa, Silvinho rejeitou ser
comparado a Dirceu "Tenho sangue em minhas veias", reagiu.
Embora alegue ter pouco a contar sobre o "mensalão", Silvinho
poderá falar à CPI sobre a estrutura da máquina administrativa. "O
meu compromisso será com a
verdade. Não é com partido. Com
ninguém."
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