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JANIO DE FREITAS
O conjunto da obra
As circunstâncias estão embaralhando duas questões
que não se confundem. Se José
Genoino e seu parceiro de operações financeiras devem ser retirados da direção do PT ou não
é problema interno do partido,
a ser resolvido segundo a sua capacidade digestiva -que, têm
mostrado certas alianças, é
enorme.
O que importa não está no PT
nem em outro partido, está no
governo. Está no próprio grupo
integrante do dispositivo presidencial. Sobram indícios de escapismos e armações para despejar sobre Delúbio Soares as
responsabilidades pelos malfeitos que não possam ser negados
até o fim.
Delúbio Soares é um simplório. Não teria condições pessoais
nem representatividade para
montar, por iniciativa e comprometimento próprios, a engrenagem de subornos e movimentação de verbas que, aos
poucos, está aparecendo.
Não sobrevive nenhuma dúvida, por exemplo, da utilização
da publicidade oficial como
uma das chaves decisivas da engrenagem. E, havendo verba de
publicidade oficial, a Secretaria
de Comunicação, na qual o ministro Luiz Gushiken concentrou toda a orientação da propaganda oficial, é parte original
no caso.
A engrenagem não se alimentou de um ou outro anúncio, decidido por este ou aquele setor
de comunicação de empresa estatal ou de ministério.
Movimentou muitos milhões,
e ainda há outros de contratos
vigentes, em montantes e finalidades sujeitos à palavra de ordem da Secretaria de Comunicação da Presidência. Há gente
saindo de fininho da história.
Caso se queira apurar -ou
pelo menos entender no essencial o processo que levou à atual
crise- é fundamental considerar, sempre, esta realidade instalada desde a posse de Lula: até
a exclusão de José Dirceu, os integrantes do grupo operador da
Presidência (que inclui o ministro Antonio Palocci) brigaram
muito entre eles, talvez mesmo
com um ou dois casos de hostilidade rancorosa, mas agiram em
conjunto, seguiram todos um
plano comum.
Foram condôminos de todas
as decisões estratégicas e táticas,
tanto de governo como no outro
condomínio, entre o governo e o
setor dominante do PT.
O que há de discutível nisso
tudo é a posição de Lula. Em favor de sua ingenuidade parcial
ocorrem, sempre, evidências de
alienação como a sua festa junina no sábado, desconsideração
afrontosa à sociedade tensamente mobilizada com a crise
do governo.
Porém convenhamos que seria
alienação demais ver, por exemplo, tantas transferências para
partidinhos governistas, até do
PSDB mais de 20, e nem ao menos perguntar a José Dirceu como conseguia aquilo.
Razões sérias e interesses mesquinhos podem proteger Lula
da torrente de denúncias que o
concubinato PT/governo provocou. Mas daí a atribuir a responsabilidade inicial e maior a
um tipo como Delúbio Soares,
aliviando o estado-maior do governo e do concubinato, é aderir
ao cinismo a que José Genoino
não faz restrição alguma.
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