São Paulo, terça-feira, 05 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVOS RUMOS

Relator Osmar Serraglio admite ouvir presidente e tesoureiro do PT acerca do empréstimo que tinha Marcos Valério como avalista

CPI estuda convocar Genoino e Delúbio

FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), admitiu ontem a possibilidade de o presidente do PT, José Genoino, e do tesoureiro, Delúbio Soares, serem convocados para explicar o pagamento de uma dívida do partido por um fornecedor da estatal, o publicitário Marcos Valério de Souza.
A oposição já quer aprovar hoje os requerimentos de convocação de Delúbio e Genoino, além de um pedido de acareação entre o ex-ministro José Dirceu e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Os governistas não concordam com esses procedimentos e acusam os parlamentares do PSDB e do PFL de quererem transformar a comissão em palanque.
Reportagem da revista "Veja" desta semana revelou que Marcos Valério foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões tomado pelo PT no banco BMG e que pagou uma parcela dessa dívida, no valor de R$ 350 mil. Ele vai depor amanhã na CPI dos Correios.
O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI, qualificou de "graves" as denúncias apresentadas na reportagem da revista "Veja" e afirmou que "têm de ser investigadas".
Marcos Valério é apontado por Jefferson como o operador do "mensalão" -mesada de R$ 30 mil que seria paga pelo tesoureiro do PT a deputados da base aliada para que votassem com o governo na Câmara.
"Na lógica de que Marcos Valério é fornecedor dos Correios e foi avalista de um empréstimo do PT é plausível que Genoino e Delúbio Soares sejam convocados para depor", afirmou Serraglio.
O "Jornal Nacional", da Rede Globo, informou ontem que, segundo novo relatório da Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), os saques feitos por Marcos Valério, entre 2003 e 2005, superaram os R$ 20 milhões divulgados inicialmente.
Segundo a reportagem, um novo levantamento repassado à CPI mostrou movimentação, em dinheiro, de mais de R$ 70 milhões. Como esses dados eram de apenas dois bancos (Banco do Brasil e Banco Rural), o valor poderia ser maior.
O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse que a comissão ainda não tinha recebido novos dados do Coaf. Amaral afirmou ter informação extra-oficial de que o valor seria maior que os R$ 70 milhões, sem esclarecer se a cifra se referia a saques ou a movimentação.
Quando o tema é o "mensalão" Serraglio e a tropa de choque do governo têm a mesma opinião: se não for instalada nesta semana a CPI do "mensalão", a comissão parlamentar de inquérito dos Correios vai ter de investigar o suposto pagamento de mesada.
Os governistas avaliam que isso será inevitável. "Se não houver a CPI do "mensalão", a dos Correios vai ter que investigar tudo", disse a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). A leitura do requerimento de criação da CPI mista do "mensalão" está prevista para hoje. Há ainda um pedido para o funcionamento de uma CPI da compra de votos na Câmara dos Deputados, que investigaria não só o suposto "mensalão", mas também denúncia de compra de votos na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Na CPI dos Correios a sessão hoje deve ser dominada pela queda-de-braço entre governo e oposição em torno da convocação de Delúbio e Genoino. Serraglio ressalta que o momento para o comparecimento dos dois dependerá do plenário da comissão.
A oposição quer ainda fixar data para o depoimento de Silvio Pereira, que se licenciou ontem do cargo de secretário-geral do PT. O depoimento de Silvio já foi aprovado pela CPI.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tratou com ironia ontem o grande número de denúncias de corrupção que recaem sobre parlamentares. "Do jeito que vai, nem Jesus Cristo escapa. Tem mais denúncia nessa Casa do que deputado", afirmou o pepista.
"Mas presidente, se nem Jesus escapa, o senhor também não", retrucou um repórter. "É que eu estou acima de Cristo", brincou o deputado.


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