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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVOS RUMOS
Relator Osmar Serraglio admite ouvir presidente e tesoureiro do PT acerca do empréstimo que tinha Marcos Valério como avalista
CPI estuda convocar Genoino e Delúbio
FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O relator da CPI dos Correios,
deputado Osmar Serraglio
(PMDB-PR), admitiu ontem a
possibilidade de o presidente do
PT, José Genoino, e do tesoureiro,
Delúbio Soares, serem convocados para explicar o pagamento de
uma dívida do partido por um
fornecedor da estatal, o publicitário Marcos Valério de Souza.
A oposição já quer aprovar hoje
os requerimentos de convocação
de Delúbio e Genoino, além de
um pedido de acareação entre o
ex-ministro José Dirceu e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Os governistas não concordam
com esses procedimentos e acusam os parlamentares do PSDB e
do PFL de quererem transformar
a comissão em palanque.
Reportagem da revista "Veja"
desta semana revelou que Marcos
Valério foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões tomado
pelo PT no banco BMG e que pagou uma parcela dessa dívida, no
valor de R$ 350 mil. Ele vai depor
amanhã na CPI dos Correios.
O senador Delcídio Amaral
(PT-MS), presidente da CPI, qualificou de "graves" as denúncias
apresentadas na reportagem da
revista "Veja" e afirmou que "têm
de ser investigadas".
Marcos Valério é apontado por
Jefferson como o operador do
"mensalão" -mesada de R$ 30
mil que seria paga pelo tesoureiro
do PT a deputados da base aliada
para que votassem com o governo
na Câmara.
"Na lógica de que Marcos Valério é fornecedor dos Correios e foi
avalista de um empréstimo do PT
é plausível que Genoino e Delúbio
Soares sejam convocados para
depor", afirmou Serraglio.
O "Jornal Nacional", da Rede
Globo, informou ontem que, segundo novo relatório da Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras), os saques feitos por Marcos Valério, entre
2003 e 2005, superaram os R$ 20
milhões divulgados inicialmente.
Segundo a reportagem, um novo levantamento repassado à CPI
mostrou movimentação, em dinheiro, de mais de R$ 70 milhões.
Como esses dados eram de apenas dois bancos (Banco do Brasil e
Banco Rural), o valor poderia ser
maior.
O presidente da CPI, senador
Delcídio Amaral (PT-MS) disse
que a comissão ainda não tinha
recebido novos dados do Coaf.
Amaral afirmou ter informação
extra-oficial de que o valor seria
maior que os R$ 70 milhões, sem
esclarecer se a cifra se referia a saques ou a movimentação.
Quando o tema é o "mensalão"
Serraglio e a tropa de choque do
governo têm a mesma opinião: se
não for instalada nesta semana a
CPI do "mensalão", a comissão
parlamentar de inquérito dos
Correios vai ter de investigar o suposto pagamento de mesada.
Os governistas avaliam que isso
será inevitável. "Se não houver a
CPI do "mensalão", a dos Correios
vai ter que investigar tudo", disse
a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).
A leitura do requerimento de criação da CPI mista do "mensalão"
está prevista para hoje. Há ainda
um pedido para o funcionamento
de uma CPI da compra de votos
na Câmara dos Deputados, que
investigaria não só o suposto
"mensalão", mas também denúncia de compra de votos na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Na CPI dos Correios a sessão
hoje deve ser dominada pela queda-de-braço entre governo e oposição em torno da convocação de
Delúbio e Genoino. Serraglio ressalta que o momento para o comparecimento dos dois dependerá
do plenário da comissão.
A oposição quer ainda fixar data
para o depoimento de Silvio Pereira, que se licenciou ontem do
cargo de secretário-geral do PT. O
depoimento de Silvio já foi aprovado pela CPI.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), tratou
com ironia ontem o grande número de denúncias de corrupção
que recaem sobre parlamentares.
"Do jeito que vai, nem Jesus Cristo escapa. Tem mais denúncia
nessa Casa do que deputado",
afirmou o pepista.
"Mas presidente, se nem Jesus
escapa, o senhor também não",
retrucou um repórter. "É que eu
estou acima de Cristo", brincou o
deputado.
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