São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

2010 põe Alckmin contra Serra e Aécio

Presidenciável decide que não trabalhará pelo fim da reeleição se vencer Lula e desagrada os candidatos do PSDB a governador

Coordenador da campanha de Alckmin tenta contornar insatisfação e afirma que já "ficou claro que ele não será candidato à reeleição"

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao revelar que sua proposta de reforma política não contempla o fim da reeleição, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, abriu nova crise entre seu grupo e as alas do partido comandadas pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e pelo ex-prefeito de São Paulo, José Serra.
Correligionários de Aécio e Serra, que já trabalham nos bastidores para concorrer ao Planalto pelo PSDB em 2010, dizem que o presidenciável mudou o tom por ter subido sete pontos na pesquisa Datafolha. Quando ainda derrapava e precisava unir a sigla, Alckmin teria se comprometido a acabar com a reeleição em um encontro com Serra, Aécio, Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati, presidente do partido.
Anteontem à noite, no programa "Roda Viva" (TV Cultura), questionado sobre se iria trabalhar pelo fim da reeleição, conforme projeto de lei do líder de seu partido na Câmara, Jutahy Magalhães Jr. (BA), Alckmin foi categórico: "Não".
Momentos antes, ele havia afirmado que, se eleito, enviará um projeto de reforma política ao Congresso, mas sem tocar no assunto da reeleição.
Ontem, questionado sobre o assunto, Alckmin primeiro se esquivou: "Seria uma desconsideração minha para com o Aécio e com o Serra achar que eles me ajudariam ou deixariam de ajudar por causa disso".
Mas, em seguida, deu o recado: "Nós, do PSDB, apoiamos a reeleição quando ela foi implantada [em 1997, no governo FHC]. Também não podemos ficar ao sabor do momento, mas não vou trabalhar para mantê-la não".
O candidato a presidente transferiu a responsabilidade para o Congresso e acenou com a hipótese de não concorrer em 2010 se for eleito neste ano e a reeleição for mantida. "É possível fazer muita coisa em quatro anos, é com essa hipótese que estou trabalhando", afirmou.
Mas não quis assumir um compromisso formal. "Seria colocar o carro na frente dos bois. Minha campanha começa amanhã [hoje]", disse Alckmin.

Direto ao ponto
Já o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE), foi explícito: "Ficou claro que ele não será candidato à reeleição. Isso está mais do que claro, tanto para o Serra quanto para o Aécio".
O presidenciável ligou para Aécio e tentou contornar a crise. Ele teria dito que todas as conversas sobre o tema ainda são prematuras. Recado semelhante foi enviado a Serra.
De sua parte, Aécio negou conflitos e defendeu o mandato de cinco anos, como propõe o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Prefiro um mandato de cinco anos, como muitos no partido. Essa é uma decisão que no momento certo será submetida ao Congresso. O que o nosso candidato disse é que, de seu ponto de vista, não é filiado a essa idéia [fim da reeleição], mas não acredito na oposição dele se ela vigorar."
Alckmin diverge. "Sou totalmente contra mandato de cinco anos. Com ele, teríamos eleição todo ano no Brasil."
Danilo de Castro, secretário de Governo de Aécio, resume o mal-estar causado pela declaração de Alckmin: "Em Minas, todos são contra a reeleição".
Jutahy Jr. diz que manterá seu projeto. "Eu concordo com o Alckmin em muita coisa. Mas nesse ponto, não."
À noite, Alckmin iria até Pindamonhangaba, sua cidade natal. O tucano iria procurar o seu diploma de médico para registrar hoje sua candidatura na Justiça Eleitoral.
Também hoje será definido o teto dos gastos do PSDB com a campanha de Alckmin. A Folha apurou que o total de gastos deve ser mais que R$ 60 milhões, porém menos do que os R$ 80 milhões do PT.


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