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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
2010 põe Alckmin contra Serra e Aécio
Presidenciável decide que não trabalhará pelo fim da reeleição se vencer Lula e desagrada os candidatos do PSDB a governador
Coordenador da campanha
de Alckmin tenta contornar insatisfação e afirma que já "ficou claro que ele não será candidato à reeleição"
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao revelar que sua proposta
de reforma política não contempla o fim da reeleição, o
candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, abriu nova crise entre seu grupo e as
alas do partido comandadas pelo governador de Minas Gerais,
Aécio Neves, e pelo ex-prefeito
de São Paulo, José Serra.
Correligionários de Aécio e
Serra, que já trabalham nos
bastidores para concorrer ao
Planalto pelo PSDB em 2010,
dizem que o presidenciável
mudou o tom por ter subido sete pontos na pesquisa Datafolha. Quando ainda derrapava e
precisava unir a sigla, Alckmin
teria se comprometido a acabar
com a reeleição em um encontro com Serra, Aécio, Fernando
Henrique Cardoso e Tasso Jereissati, presidente do partido.
Anteontem à noite, no programa "Roda Viva" (TV Cultura), questionado sobre se iria
trabalhar pelo fim da reeleição,
conforme projeto de lei do líder
de seu partido na Câmara, Jutahy Magalhães Jr. (BA), Alckmin foi categórico: "Não".
Momentos antes, ele havia
afirmado que, se eleito, enviará
um projeto de reforma política
ao Congresso, mas sem tocar
no assunto da reeleição.
Ontem, questionado sobre o
assunto, Alckmin primeiro se
esquivou: "Seria uma desconsideração minha para com o Aécio e com o Serra achar que eles
me ajudariam ou deixariam de
ajudar por causa disso".
Mas, em seguida, deu o recado: "Nós, do PSDB, apoiamos a
reeleição quando ela foi implantada [em 1997, no governo
FHC]. Também não podemos
ficar ao sabor do momento,
mas não vou trabalhar para
mantê-la não".
O candidato a presidente
transferiu a responsabilidade
para o Congresso e acenou com
a hipótese de não concorrer em
2010 se for eleito neste ano e a
reeleição for mantida. "É possível fazer muita coisa em quatro
anos, é com essa hipótese que
estou trabalhando", afirmou.
Mas não quis assumir um
compromisso formal. "Seria
colocar o carro na frente dos
bois. Minha campanha começa
amanhã [hoje]", disse Alckmin.
Direto ao ponto
Já o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra
(PE), foi explícito: "Ficou claro
que ele não será candidato à
reeleição. Isso está mais do que
claro, tanto para o Serra quanto
para o Aécio".
O presidenciável ligou para
Aécio e tentou contornar a crise. Ele teria dito que todas as
conversas sobre o tema ainda
são prematuras. Recado semelhante foi enviado a Serra.
De sua parte, Aécio negou
conflitos e defendeu o mandato
de cinco anos, como propõe o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. "Prefiro um mandato de
cinco anos, como muitos no
partido. Essa é uma decisão que
no momento certo será submetida ao Congresso. O que o nosso candidato disse é que, de seu
ponto de vista, não é filiado a
essa idéia [fim da reeleição],
mas não acredito na oposição
dele se ela vigorar."
Alckmin diverge. "Sou totalmente contra mandato de cinco anos. Com ele, teríamos eleição todo ano no Brasil."
Danilo de Castro, secretário
de Governo de Aécio, resume o
mal-estar causado pela declaração de Alckmin: "Em Minas,
todos são contra a reeleição".
Jutahy Jr. diz que manterá
seu projeto. "Eu concordo com
o Alckmin em muita coisa. Mas
nesse ponto, não."
À noite, Alckmin iria até Pindamonhangaba, sua cidade natal. O tucano iria procurar o seu
diploma de médico para registrar hoje sua candidatura na
Justiça Eleitoral.
Também hoje será definido o
teto dos gastos do PSDB com a
campanha de Alckmin. A Folha
apurou que o total de gastos
deve ser mais que R$ 60 milhões, porém menos do que os
R$ 80 milhões do PT.
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