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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RETÓRICA DA CRISE
No quarto discurso em 24 horas, Lula cita origem pobre da própria família para falar de esperança e anuncia obras para o Nordeste
Presidente usa mãe como exemplo e chora
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A CANTO DO BURITI
Num discurso a agricultores em
Canto do Buriti (470 km ao sul de
Teresina), o quarto em menos de
24 horas no Piauí, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva chorou a
ponto de paralisar sua fala e embargar a voz por vários segundos,
quando fez menção às origens pobres de sua família.
Lula visitava, no semi-árido
piauiense, um núcleo de produção de mamona, cuja semente é
usada para produzir biodiesel.
Para cerca de 1.500 pessoas, o
presidente discorria sobre a valorização que sua gestão dá ao Nordeste, segundo ele discriminado
por outros governos -o assunto
deu a tônica dos discursos do dia,
em que inaugurou uma outra fábrica de biodiesel e o trecho recuperado de uma estrada federal.
Citou sua mãe como exemplo
de persistência. "Convivi com minha mãe até 1980, quando ela
morreu, e nunca vi, em nenhuma
situação, nenhuma, por pior que
fosse, ela perder a esperança. Não
tinha jeito de você ver a minha
mãe sentar numa mesa, mesmo
quando não tinha o que comer
[chora], e perder a esperança."
Lula parou de falar e enxugou os
olhos com um lenço. Seguiu-se o
discurso, e o choro continuou.
"Digo isso porque cada vez que
venho para o Nordeste a gente
olha a cara do povo e a gente percebe o povo sofrido, e muitas vezes as pessoas perdem a esperança, muitas vezes desanimam e vão
para São Paulo. E quem chega a
São Paulo hoje não tem a mesma
sorte que eu tive em 50. Naquele
tempo era menos violência, a gente tinha mais oportunidade. Não
era hoje, que chega a São Paulo e,
se não tem parente, vai para baixo
de uma ponte."
Após contar que ele e sua família comeram "o pão que o diabo
amassou" durante a viagem de
pau-de-arara de Pernambuco a
Santos, o presidente se disse orgulhoso em ver o projeto de agricultura familiar na Fazenda Santa
Clara, da empresa Brasil Ecodiesel, que abriga 619 famílias.
Seguindo tendência crescente
desde que se agravou a crise política do governo, o comportamento do presidente no interior parecia o de um candidato em campanha. Um dia depois de dizer que
os adversários terão que o "engolir", Lula prometeu grandes obras
para o Nordeste: a rodovia Transnordestina, cujo investimento de
R$ 4 bilhões deve ser anunciado
"possivelmente dentro dos próximos dias", a transposição do rio
São Francisco, a instalação de
uma refinaria de petróleo em Pernambuco e a construção de uma
rodovia litorânea do Rio Grande
do Norte à Bahia.
Sobre a obra do São Francisco,
disse que visa "minorar o sofrimento de 12 milhões de famílias
que às vezes andam até 16 léguas
para pegar um pote d'água".
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