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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO
Deputado petista afirma que R$ 50 mil sacados da conta de Valério foram usados para pesquisa de viabilidade eleitoral em seu reduto
Dinheiro foi para PT de Osasco, diz João Paulo
CATIA SEABRA
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O deputado João Paulo Cunha
(SP), ex-presidente da Câmara,
disse, em reunião da Executiva
Nacional do PT, ontem, que os R$
50 mil que admite ter recebido do
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza foram destinados a pagar pesquisa de viabilidade eleitoral do PT em Osasco (SP),
seu reduto político.
O deputado afirmou que não
vai renunciar: "Vou levar o processo até o fim", disse, segundo
relatos à Folha. Disse ter certeza
de que será absolvido e que nunca
ouviu falar em "mensalão".
João Paulo admitiu saber que os
R$ 50 mil vinham do empresário
mineiro, que disse conhecer desde 2002, mas afirmou ignorar o
tamanho do esquema. Na lista de
sacadores entregue por Valério, o
deputado aparece como recebedor de R$ 200 mil.
Sabatinado pela Executiva, o ex-presidente da Câmara, que aceitou convite informal para prestar
esclarecimentos feito pelo comando do partido, falou por dez
minutos e afirmou que vai entregar sua defesa por escrito. Segundo presentes na reunião, João
Paulo, que saiu sem falar com a
imprensa, se mostrou emocionado, mas firme.
Na defesa, ele justificou os contratos de publicidade da Câmara
em sua gestão e lembrou sua trajetória no PT: "Geri um orçamento de milhões na Câmara. Por que
iria me comprometer por R$ 50
mil?", disse, segundo relatos.
O deputado João Magno (MG),
apontado como beneficiário de
R$ 350 mil da SMPB, que tem como sócio Marcos Valério, também prestou esclarecimentos ontem à Executiva. Ele disse ter
apresentado comprovante de gastos de R$ 250 mil referentes à
campanha de 2004 à Prefeitura de
Ipatinga (MG). Os outros R$ 100
mil, afirmou, pagaram despesas
da campanha de 2002.
João Magno descartou renunciar: "Não cometi crime porque
não roubei a população. Cometi
um desvio contra a lei porque esta
é a regra do jogo, infelizmente".
Segundo o deputado, a captação
foi feita "com consentimento de
Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do
PT]", e o contato foi com Valério
porque "a SMPB dá assessoria para a Usiminas, e fica na cidade onde fui prefeito. Tenho relação antiga com a Usiminas", disse.
Como só João Paulo e Magno
atenderam ao pedido informal do
comando petista para explicar o
envolvimento com o suposto
"mensalão", na reunião de ontem
a Executiva decidiu convocar 15
parlamentares para que prestem
esclarecimentos, em até dez dias,
ao PT. A direção enviará cartas
aos citados em acusações.
Comissão de ética
A Executiva decidiu também
-por seis votos a favor contra
cinco, e mais quatro abstenções- manter Danilo de Camargo como relator do processo da
Comissão de Ética do PT que investiga os atos de Delúbio Soares.
No último sábado, um integrante da comissão questionou a isenção de Camargo para atuar no caso e levou a questão à Executiva. O
placar apertado e o peso das abstenções demonstram a fragilidade
de Camargo, que deve decidir até
domingo se se afasta voluntariamente. Abstiveram-se: o presidente do PT, Tarso Genro, o secretário-geral Ricardo Berzoini, o
tesoureiro José Pimentel e Francisco Campos.
A Executiva elaborou também
documento para entregar ao Diretório Nacional do partido, amanhã. Entre as propostas, está o
afastamento de Delúbio por 60
dias e a abertura de processo na
Comissão de Ética do PT para investigar a participação de cerca de
15 parlamentares no escândalo do
suposto "mensalão".
O Diretório também analisará
proposta de Tarso Genro para regularização de "eventuais recebimentos não contabilizados", segundo a qual o comando do partido daria um prazo de 15 dias para
que os diretórios regionais apresentassem uma relação de doações feitas via caixa dois para a
campanha de 2004, "com as devidas notas de despesas". Segundo
Tarso, daí se iniciaria "um processo formal de regularização".
Uma proposta de Valter Pomar
também será avaliada amanhã: a
de montar um grupo de trabalho
para investigar as todas denúncias que envolvem o partido. A
instância substituiria os processos
na Comissão de Ética.
O Diretório também deve decidir o que fazer para viabilizar financeiramente o PED, o processo
de eleição do partido marcado para setembro. O Campo Majoritário discute hoje em São Paulo a
possibilidade de pedir o adiamento do PED. A esquerda petista reage: "Não vamos aceitar morte por
inanição", disse Markus Sokol, da
corrente "O Trabalho".
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