São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A LISTA DE VALÉRIO

Deputado petista afirma que R$ 50 mil sacados da conta de Valério foram usados para pesquisa de viabilidade eleitoral em seu reduto

Dinheiro foi para PT de Osasco, diz João Paulo

CATIA SEABRA
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O deputado João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara, disse, em reunião da Executiva Nacional do PT, ontem, que os R$ 50 mil que admite ter recebido do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza foram destinados a pagar pesquisa de viabilidade eleitoral do PT em Osasco (SP), seu reduto político.
O deputado afirmou que não vai renunciar: "Vou levar o processo até o fim", disse, segundo relatos à Folha. Disse ter certeza de que será absolvido e que nunca ouviu falar em "mensalão".
João Paulo admitiu saber que os R$ 50 mil vinham do empresário mineiro, que disse conhecer desde 2002, mas afirmou ignorar o tamanho do esquema. Na lista de sacadores entregue por Valério, o deputado aparece como recebedor de R$ 200 mil.
Sabatinado pela Executiva, o ex-presidente da Câmara, que aceitou convite informal para prestar esclarecimentos feito pelo comando do partido, falou por dez minutos e afirmou que vai entregar sua defesa por escrito. Segundo presentes na reunião, João Paulo, que saiu sem falar com a imprensa, se mostrou emocionado, mas firme.
Na defesa, ele justificou os contratos de publicidade da Câmara em sua gestão e lembrou sua trajetória no PT: "Geri um orçamento de milhões na Câmara. Por que iria me comprometer por R$ 50 mil?", disse, segundo relatos.
O deputado João Magno (MG), apontado como beneficiário de R$ 350 mil da SMPB, que tem como sócio Marcos Valério, também prestou esclarecimentos ontem à Executiva. Ele disse ter apresentado comprovante de gastos de R$ 250 mil referentes à campanha de 2004 à Prefeitura de Ipatinga (MG). Os outros R$ 100 mil, afirmou, pagaram despesas da campanha de 2002.
João Magno descartou renunciar: "Não cometi crime porque não roubei a população. Cometi um desvio contra a lei porque esta é a regra do jogo, infelizmente".
Segundo o deputado, a captação foi feita "com consentimento de Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT]", e o contato foi com Valério porque "a SMPB dá assessoria para a Usiminas, e fica na cidade onde fui prefeito. Tenho relação antiga com a Usiminas", disse.
Como só João Paulo e Magno atenderam ao pedido informal do comando petista para explicar o envolvimento com o suposto "mensalão", na reunião de ontem a Executiva decidiu convocar 15 parlamentares para que prestem esclarecimentos, em até dez dias, ao PT. A direção enviará cartas aos citados em acusações.

Comissão de ética
A Executiva decidiu também -por seis votos a favor contra cinco, e mais quatro abstenções- manter Danilo de Camargo como relator do processo da Comissão de Ética do PT que investiga os atos de Delúbio Soares.
No último sábado, um integrante da comissão questionou a isenção de Camargo para atuar no caso e levou a questão à Executiva. O placar apertado e o peso das abstenções demonstram a fragilidade de Camargo, que deve decidir até domingo se se afasta voluntariamente. Abstiveram-se: o presidente do PT, Tarso Genro, o secretário-geral Ricardo Berzoini, o tesoureiro José Pimentel e Francisco Campos.
A Executiva elaborou também documento para entregar ao Diretório Nacional do partido, amanhã. Entre as propostas, está o afastamento de Delúbio por 60 dias e a abertura de processo na Comissão de Ética do PT para investigar a participação de cerca de 15 parlamentares no escândalo do suposto "mensalão".
O Diretório também analisará proposta de Tarso Genro para regularização de "eventuais recebimentos não contabilizados", segundo a qual o comando do partido daria um prazo de 15 dias para que os diretórios regionais apresentassem uma relação de doações feitas via caixa dois para a campanha de 2004, "com as devidas notas de despesas". Segundo Tarso, daí se iniciaria "um processo formal de regularização".
Uma proposta de Valter Pomar também será avaliada amanhã: a de montar um grupo de trabalho para investigar as todas denúncias que envolvem o partido. A instância substituiria os processos na Comissão de Ética.
O Diretório também deve decidir o que fazer para viabilizar financeiramente o PED, o processo de eleição do partido marcado para setembro. O Campo Majoritário discute hoje em São Paulo a possibilidade de pedir o adiamento do PED. A esquerda petista reage: "Não vamos aceitar morte por inanição", disse Markus Sokol, da corrente "O Trabalho".


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