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Em visita à América Central, foco de Lula é biocombustível
Presidente chega hoje ao México; expectativa é de acordo relativo ao petróleo
Nos outros países, Nicarágua, Honduras, Panamá e Jamaica, Brasil quer marcar posição com álcool frente a Chávez
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO
Foco da gestão do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva em
matéria energética, os biocombustíveis são o ponto comum
da viagem que o petista fará, a
partir de hoje, ao México e a outros quatro países da América
Central: Nicarágua, Honduras,
Panamá e Jamaica.
Na visita, 15º destino internacional de Lula neste ano, a
promessa é falar do tema "à
exaustão". Estão previstos
acordos de cooperação em praticamente todos os países por
onde a comitiva brasileira passará até o próxima sexta-feira,
quando retorna ao Brasil.
Tirando o México, quinto
maior parceiro comercial do
Brasil, com intercâmbio que
chegou a US$ 5,75 bilhões em
2006, o comércio com os outros países é irrelevante. Mal
chega a 1% do total que o Brasil
importa e exporta.
Mas o governo e os cerca de
50 empresários que acompanharão a missão enxergam
oportunidades de investimentos. O interesse é usar a América Central como plataforma de
exportação de álcool para os
EUA; os países detêm acordo
de livre comércio com os americanos e não têm limites para
exportação de álcool.
Além disso, de acordo com o
Itamaraty, a visita tem um viés
político. Será a primeira vez,
por exemplo, que um presidente brasileiro vai a Honduras,
Nicarágua e Jamaica.
A região está cada vez mais
sob o domínio do presidente
venezuelano, Hugo Chávez,
que usa o dinheiro do petróleo
para financiar os vizinhos e
tentar fomentar a sua Alba (Alternativa Bolivariana para as
Américas). Há cinco meses,
Chávez esteve em parte destes
países e criticou projetos de expansão das plantações de cana-de-açúcar e milho para ampliar
a produção de álcool.
No México são esperados os
resultados mais relevantes. Está prevista a assinatura de um
memorando de entendimento
em relação ao petróleo, uma
tentativa de aproximar a Petrobras à Pemex, a estatal que detém o monopólio sobre o petróleo no México.
Há um interesse dos países
em explorar águas profundas
no Golfo do México, onde a Pemex estima a existência de
aproximadamente 29 bilhões
de barris. Daí a possibilidade de
parceria: a Pemex não tem tecnologia para produzir em águas
profundas. A Petrobras, presente desde 2003 em território
mexicano, é líder mundial na
tecnologia de extração de petróleo em águas profundas.
Há pendências políticas para
as ambições saírem do papel. O
presidente mexicano, Felipe
Calderón, tem simpatia pela
entrada de investimentos e tecnologia estrangeira no setor.
Mas enfrenta resistências para
manter o monopólio da Pemex.
Os mexicanos também têm interesse no álcool. Hoje, praticamente o país não tem conhecimento para a produção de álcool a partir da cana-de-açúcar.
Os acordos na área energética devem ser o ponto pragmático da visita de Lula ao México,
já que, segundo o Itamaraty, a
negociação de acordo de livre
comércio entre os dois países,
neste momento, está descartada devido a resistências mexicanas. A visita está centrada
numa agenda mais concreta e
"possível" a curto prazo.
O interesse brasileiro em
ocupar uma cadeira como
membro permanente no Conselho de Segurança das Nações
Unidas será citado com cuidado. O México defende um assento rotativo.
No caso dos outros países,
constantemente sob a ameaça
de apagão, a energia é o tema de
consenso. "Para estes países a
conta de petróleo é implacável
como uma conta de aluguel.
Você tem que pagar, pagar, e
não recebe nada de volta a não
ser o uso da coisa. A opinião que
temos é que o desenvolvimento
na cooperação de álcool permitirá, assim como no Brasil, uma
economia brutal em termos de
gastos com combustíveis", teorizou o embaixador Gonçalo
Mourão, diretor do Departamento de México, América
Central e Caribe do Itamaraty.
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