São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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Colarinho branco exige mais rigor, diz Fonteles

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, 62, anunciou sua aposentadoria ontem. Deixa o Ministério Público Federal, onde atuou durante 35 anos, afirmando que os tribunais superiores deveriam ser mais rigorosos nos julgamentos envolvendo crimes de colarinho branco.
"A sociedade brasileira está desprotegida e brutalmente sangrada pelo crime de colarinho branco. Esses criminosos têm de ser punidos, têm de ir para a cadeia. Eu gostaria que houvesse resposta mais efetiva, principalmente das Cortes superiores", afirmou Fonteles.
"Louvo muito os magistrados dos primeiro e segundo graus, que têm dado resposta serena contra a malversação do dinheiro público que deveria ir para escolas e hospitais." Ele defende o aprofundamento da "cultura do trabalho contínuo e conjunto da Polícia Federal e do Ministério Público Federal".
Fonteles foi o responsável pela criação da força-tarefa CC5, no final dos anos 90, que antecedeu o caso Banestado, levando a numerosas condenações e seqüestros de bens.
Criticado ao assumir o cargo, no governo Lula, por haver desmontado o Gaeld (grupo de procuradores que trocavam experiências sobre o combate à lavagem de dinheiro), Fonteles afirmou que promoveu uma "mudança de filosofia" na Procuradoria e estreitou os contatos com todas as equipes que atuavam na área criminal.
"Pela primeira vez, houve uma integração com outros órgãos. Surgiu a Enccla (Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro) e foram criadas as varas especializadas para julgar esses crimes. O resultado foram as operações da Polícia Federal, a partir de 2003", afirmou.
Sucessor de Geraldo Brindeiro, que ganhou a imagem de "engavetador" de processos, no governo FHC, Fonteles tornou-se, durante sua gestão, a "voz única" da Procuradoria. Apagou os refletores de procuradores mais expostos à mídia, como Luiz Francisco de Souza, que pregava uma "simbiose" entre o Ministério Público e a imprensa. Essa tese foi condenada por Fonteles em trabalho oferecido durante encontro nacional de procuradores.
Fonteles poderia ficar na Procuradoria Geral da República até os 70 anos. Católico, franciscano, alimentou polêmica por sua posição contrária ao uso de células-tronco em pesquisas. Diz que "está deixando definitivamente o mundo jurídico". Não vai atuar como advogado. Vai se dedicar aos estudos de teologia e a atender comunidades de dependentes químicos. Está com a agenda cheia para proferir palestras.


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