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DITADURA
Tarso diz que concessão de anistia a Cabo Anselmo é questionável
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou ontem ter
dúvidas sobre a real perseguição sofrida por José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, na ditadura (1964-1985). Para ele, há indícios de
que o ex-marinheiro já era, à
época da rebelião que precipitou a queda do governo
João Goulart, "agente infiltrado dos golpistas".
À Folha, contudo, o ministro disse que falava em tese
por desconhecer o processo
protocolado na Comissão de
Anistia do órgão em que Anselmo pede anistia e reparação econômica pela perseguição que diz ter sofrido.
"Não cabe a aplicação da
Lei da Anistia a pessoas que
deliberadamente atuaram
como agente do Estado, seja
para desestabilizar um regime legal, como era o governo
João Goulart, seja depois,
numa estrutura paralela",
afirmou Tarso.
Líder da rebelião dos marinheiros que levou ao golpe
em 64, Anselmo militou em
organizações de esquerda
antes de virar informante da
repressão. Sua parceria com
a ditadura colaborou com a
captura e morte de muitos
militantes -inclusive sua
companheira grávida. Após
45 anos, ele tenta reaver seus
documentos originais.
Para Tarso, se for negada a
anistia e o pedido de reparação a Anselmo, caberá a ele
entrar com "ação ordinária"
contra a União solicitando
indenização, já que ele trabalhou no aparato extraoficial
do regime e "não teve do Estado o reconhecimento pela
prestação desse regime".
Dizendo-se perseguido
ainda hoje, ele acusa o governo Lula de segurar seu processo. "Ele pode ficar absolutamente tranquilo que o caso será julgado com total
isenção ideológica e a partir
de provas", rebateu Tarso. 6
Presidente da Comissão
de Anistia, Paulo Abrão diz
que pretende julgar o caso
ainda neste ano -falta juntar os novos documentos do
ex-marujo ao processo.
(LUCAS FERRAZ)
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