São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Casos de guerra

Conforme-se, caso esteja entre os que deploram os pontapés verbais como método de disputar a Presidência da República.
A grande imprensa dos Estados Unidos caiu com as torres de Nova York e ainda não se levantou, sendo improvável até que se erga antes que novas torres o façam. Por isso tanto é falado e escrito sobre a guerra pretendida pelo presidente Bush contra o Iraque sem, no entanto, questionamentos sérios aos motivos alegados para o ataque. Nem ousam, com exceções raríssimas, mencionar o motivo reconhecível para tanta ansiedade por novas ações bélicas.
Três milhares de americanos morreram nas torres, mas Bush salvou-se ali. Seu duvidoso prestígio ruía no Congresso, na mídia e na opinião pública, quando o 11 de setembro levou-o ao êxtase propagandístico do estado de guerra e da caça ao inimigo pelo mundo afora. Mas não houve vitória na caçada, e hoje uma forte corrente militar já propõe parar de vez com isso.
A opinião pública passou a dar sinais crescentes de cansaço com o clima de exaltação mantido por Bush e seus secretários, valendo-se de sucessivas hipóteses de novos ataques terroristas. Os discursos não produzem sons, as conclamações não animam, aquele presidente com forçado andar de faroeste e batendo continência para soldado raso vira motivo de riso. Bush voltou a ser a vítima predileta dos principais programas de humor ridicularizante.
Uma guerra. Novo êxtase propagandístico, expectativas emocionantes de lutas no deserto e tensões patrióticas ante novos riscos de terrorismo vingativo. A recuperação do prestígio justifica, inclusive porque republicanos e democratas já começam as considerações preliminares para as futuras eleições.
Conformemo-nos, que por aqui a luta pelo poder não é mais dignificante, mas é inofensiva.

Insignificado
Diretora-executiva do Ibope, Marcia Cavallari Nunes reclama da observação, aqui feita, de que o Datafolha daria o voto de minerva entre as pesquisas do Ibope e Vox Populi, na semana passada. Escreveu para lembrar que, de certa vez, o Ibope já foi o voto de minerva e confirmou o Datafolha, como este agora o confirmou.
Nunca imaginei que a expressão voto de minerva pudesse, um dia, ser lida como maldosa, ofensa, ou qualquer coisa além ou aquém do que significa há séculos. Com tanta pesquisa, o voto subiu à cabeça do pessoal do Ibope. Calma, não foi o de minerva.



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