São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

De ontem e de hoje

RONALDO COSTA COUTO

Circulou no início dos anos 80. O dinâmico e extrovertido governador visita uma fábrica de automóveis. Adora o novo modelo de luxo. Com a maior naturalidade, comunica que vai levar um para casa.
Cheio de dedos, o elegante presidente da empresa explica que não pode fazer doações, só vendas. O governador esclarece que não quer nada de graça, imagine! Diz que aceita pagar um preço simbólico, 500 cruzeiros.
Espanto. É um submúltiplo miudinho do valor do carro. Constrangidíssimo, o empresário concorda. O governador tira do bolso uma cédula de 1.000 cruzeiros. O presidente, desconcertado: "Mas eu não tenho troco, governador."
"Não tem importância. Eu levo dois", responde ele.

Olhos nos olhos
O baiano Rui Barbosa, jurista superior, apelidado de Águia de Haia pelo brilho na defesa de tese de igualdade entre as nações, considerado "o mais inteligente dos brasileiros", perdeu as eleições presidenciais de 1910 para o marechal Hermes da Fonseca.
Eram opostos em quase tudo. Lema da campanha civilista de Rui: "A pena contra a espada". Símbolo eleitoral de Hermes: a vassoura. "Para varrer a roubalheira dos civilistas", dizia.
Apesar de suspeitas de fraude, a eleição vale. Propaga-se, então, agressivo anedotário sobre Hermes, pintado como bronco, azarado e coisas piores.
Ninguém bate mais nem melhor do que Rui. De todo jeito, inclusive com ironia e bom humor. Inventa e espalha histórias. Segue uma delas.
Hermes volta de consulta ao oftalmologista e é recebido pelo filho Mário Hermes, seu ajudante-de-ordens: "Que disse o médico, pai?". "Ele falou que é catarata no olho." "Não diga isso, pai. É pleonasmo vicioso." Chega o ministro da Saúde. Quer saber o diagnóstico. Hermes: "Ainda não sei direito, ministro. O doutor disse que é catarata no olho, mas o Mariozinho garante que é pleonasmo vicioso".

Aviso aos postulantes
De Tancredo Neves (1910-1985): "Se Deus não lhe deu a graça da humildade, peça a Ele a da dissimulação e finja que é modesto".
De Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946): "Façamos a revolução antes que o povo a faça".


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna



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