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FOLCLORE POLÍTICO
De ontem e de hoje
RONALDO COSTA COUTO
Circulou no início dos anos
80. O dinâmico e extrovertido
governador visita uma fábrica de
automóveis. Adora o novo modelo de luxo. Com a maior naturalidade, comunica que vai levar um
para casa.
Cheio de dedos, o elegante presidente da empresa explica que
não pode fazer doações, só vendas. O governador esclarece que
não quer nada de graça, imagine!
Diz que aceita pagar um preço
simbólico, 500 cruzeiros.
Espanto. É um submúltiplo
miudinho do valor do carro.
Constrangidíssimo, o empresário
concorda. O governador tira do
bolso uma cédula de 1.000 cruzeiros. O presidente, desconcertado:
"Mas eu não tenho troco, governador."
"Não tem importância. Eu levo
dois", responde ele.
Olhos nos olhos
O baiano Rui Barbosa, jurista
superior, apelidado de Águia de
Haia pelo brilho na defesa de tese
de igualdade entre as nações, considerado "o mais inteligente dos
brasileiros", perdeu as eleições
presidenciais de 1910 para o marechal Hermes da Fonseca.
Eram opostos em quase tudo.
Lema da campanha civilista de
Rui: "A pena contra a espada".
Símbolo eleitoral de Hermes: a
vassoura. "Para varrer a roubalheira dos civilistas", dizia.
Apesar de suspeitas de fraude, a
eleição vale. Propaga-se, então,
agressivo anedotário sobre Hermes, pintado como bronco, azarado e coisas piores.
Ninguém bate mais nem melhor do que Rui. De todo jeito, inclusive com ironia e bom humor.
Inventa e espalha histórias. Segue
uma delas.
Hermes volta de consulta ao oftalmologista e é recebido pelo filho Mário Hermes, seu ajudante-de-ordens: "Que disse o médico,
pai?". "Ele falou que é catarata no
olho." "Não diga isso, pai. É pleonasmo vicioso." Chega o ministro
da Saúde. Quer saber o diagnóstico. Hermes: "Ainda não sei direito, ministro. O doutor disse que é
catarata no olho, mas o Mariozinho garante que é pleonasmo vicioso".
Aviso aos postulantes
De Tancredo Neves (1910-1985):
"Se Deus não lhe deu a graça da
humildade, peça a Ele a da dissimulação e finja que é modesto".
De Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada (1870-1946): "Façamos
a revolução antes que o povo a faça".
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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