São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002

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NO AR

Mais frio, mais crítico

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Duda Mendonça, marqueteiro de Lula, falou que o eleitor está menos apaixonado, mais racional, e ecoou em Alexandre Garcia.
Um e outro devem saber, conhecedores que são das paixões irracionais dos brasileiros, de outras temporadas. No dizer de Garcia:
- O eleitor está mais frio, mais crítico em relação ao seu próprio candidato.
Deve haver razões as mais variadas para isso, mas uma delas pode ser lembrada desde logo. Jamais a Rede Globo fez uma cobertura de campanha presidencial com a proporção que faz este ano.
E jamais a Rede Globo foi tão agressiva, tão crítica, quanto nas longas entrevistas das últimas semanas no Jornal Nacional, no Jornal da Globo, no Bom Dia Brasil. Sobrou para os quatro presidenciáveis -diante do telespectador-eleitor.
A emissora, que sempre gosta de contar entre as suas glórias históricas o impeachment e as diretas-já, pode acrescentar mais essa. Politizou o eleitor brasileiro.
 
A campanha de José Serra nem começou a atacar Lula, pelo menos não da maneira organizada com que atacou Ciro Gomes, e o petista já parte para o confronto.
Os tucanos reclamaram da "tabelinha" entre Lula, Ciro e Garotinho no debate da Record. De bate-pronto, Lula chamou Serra de "chorão":
- O candidato não quer o ônus da máquina do governo. Só quer o bônus.
Quanto a Ciro, como destacou o Jornal da Record, os repórteres ainda procuram tirar dele mais xingamentos ao tucano. Mas ele se recusa, cara amarrada, como se nem ouvisse.
A campanha de Ciro, se for descontada a emoção toda das estréias da indústria cultural, como no filme de ontem, amontoa más notícias.
Seus correligionários ficam responsabilizando um ao outro pelo tombo na intenção de voto -como Roberto Freire, ontem, com ACM. E seu vice, dia após dia, aparece na televisão ligado ou respondendo a denúncias de irregularidade.
 
Enquanto os outros três se ocupam uns dos outros, Garotinho está mais sorridente do que nunca. Garante à televisão, insistentemente:
- Vamos crescer e vamos para o segundo turno.
Faz até contas para provar, dizendo que vai herdar os pontos que Ciro e Serra vierem a perder. Portanto, como declarou ao Bom Dia Brasil, não é de seis pontos a diferença, mas de "três, na verdade".
E, claro, prosseguiu nos telejornais noturnos:
- Estou, com certeza, no segundo turno.



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