São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2004 / RIO DE JANEIRO

Com a entrega de cheques de R$ 100, alimentos e empregos, secretário peemedebista quer conquistar eleitorado de sua cidade natal

Garotinho distribui cheques em Campos

Paulo S. Pinheiro/Folha Imagem
Garotinho beija Rosinha na inauguração de pedra fundamental para a construção de uma ponte


SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS

Com a distribuição de alimentos, cheques de R$ 100 e empregos, o ex-governador Anthony Garotinho, que deseja ser candidato do PMDB à Presidência da República em 2006, tenta convencer o eleitorado de Campos (a 280 km do Rio) a votar no candidato que apóia na disputa pela prefeitura de sua cidade natal.
Embora continue à frente da Secretaria Estadual de Segurança Pública, Garotinho tem dedicado boa parte de seu tempo à campanha eleitoral no norte do Estado, região em que Campos é o principal município.
Só em Campos, o governo Rosinha Matheus (PMDB), mulher de Garotinho, está distribuindo pelo menos 5.000 cheques-cidadãos, segundo informou a Secretaria Estadual de Ação Social.
Cada cheque-cidadão vale R$ 100, trocados por comida em mercados conveniados.
A secretaria também informou que pelo menos 900 famílias campistas estão recebendo cestas de alimentos por meio do programa Nutrição 10, implantado no fim de julho. A ONG Instituto Visão, que tem Garotinho como integrante, também distribui comida para os pobres da cidade.
Para os que têm de 16 a 24 anos, o governo estadual está arrumando empregos. Cerca de 6.000 rapazes e moças participam do programa Jovens pela Paz em todo o Estado. Em Campos, são 500. Dois deles foram detidos na terça-feira pela PF (Polícia Federal) sob a acusação de estarem distribuindo panfletos do PMDB. Um vestia a camisa oficial do programa. A PF não divulgou os nomes dos rapazes, que foram liberados no mesmo dia.
Também em Campos, o governo Rosinha acaba de empregar 133 jovens, integrantes do projeto Voluntários da Paz. Cada um deles vai ganhar R$ 380, mais tíquetes-refeição e vales-transportes no valor de R$ 200.
Para os pescadores de Campos, o Estado anunciou na semana passada a distribuição de cheques de R$ 100 a serem pagos mensalmente a partir deste mês e até dezembro. O problema é que Campos tem 1.200 pescadores, e só há 250 cheques disponíveis.
Os cheques para os pescadores serão distribuídos em todo o Estado, sob a alegação de garantir a subsistência das famílias no período de defeso, quando a pesca é proibida para as espécies procriarem. Só que o defeso durou de março a junho.
O governo justifica o pagamento fora do defeso porque a produção de pescados andaria baixa.
O presidente da colônia de pescadores do município de Campos, Gilson Monteiro, contesta o argumento.
"Aqui nunca foi feita nenhuma estatística", disse à Folha.
Com chances duvidosas no Rio -o ex-prefeito Luiz Paulo Conde (PMDB) está bem atrás do líder nas pesquisas Cesar Maia (PFL)- e ameaçado por adversários em cidades importantes, como Niterói, Nova Iguaçu e Macaé, os Garotinho estão preocupados com a possibilidade de não elegerem o peemedebista Geraldo Pudim prefeito de Campos.
Com cerca de 450 mil habitantes, Campos é um dos mais ricos municípios fluminenses, por causa dos royalties do petróleo. O Orçamento da cidade para 2005 gira em torno de R$ 1 bilhão.
Se perderem para os candidatos Paulo Feijó (PSDB) ou Carlos Alberto Campista (PDT), Garotinho e Rosinha chegarão a 2006 fragilizados. Campos é o reduto do casal. Garotinho se elegeu prefeito da cidade duas vezes (1988 e 1996). Daí a insistência em atuar na campanha, pois Pudim corre o risco de não se eleger.
Terceiro lugar na eleição presidencial de 2000, Garotinho insiste em voltar à disputa pelo Planalto. Na quinta-feira, Rosinha disse: "Garotinho foi o melhor governador que o Estado teve e vai ser o melhor presidente deste Brasil".

Comícios
Garotinho e Rosinha viajaram para Campos na quinta-feira, quando ele disse em seu programa de rádio que só voltará ao Rio na terça-feira.
Na quinta à noite, acompanhado da governadora, ele participou de dois comícios.
Na noite de sexta, estava prevista sua participação em mais dois comícios, nas comunidades Tapera e Jardim Carioca.
Em um dos comícios de quinta, Garotinho criticou o jornal local "Folha da Manhã".
"Quando nós chegamos o fotógrafo da "Folha da Manhã" e a repórter já estavam procurando o pessoal que ia brigar", disse antes de ser interrompido por uma pancadaria.
Militantes cercaram a equipe do jornal de Campos. O fotógrafo Diomarcelo Pessanha teve que se refugiar em uma casa.
O repórter da Folha, que acompanhava o comício, foi questionado por um correligionário de Pudim sobre a razão de estar gravando o discurso. Até o fim do comício, os jornalistas foram vigiados.
No discurso, Garotinho disse ter sido perseguido pela Folha na campanha presidencial de 2000.
"Quero avisar para o pessoal desse jornaleco aí ["Folha da Manhã"]. Estou acostumado a enfrentar "O Globo", a Folha de S. Paulo. Vocês, eu tiro de cosquinha. Fui candidato a presidente da República com eles no meu pé 24 horas. Dizendo que ia desistir, dizendo que eu ia ter 3% dos votos. Quando abriram as urnas, tive 15 milhões no primeiro turno", declarou o secretário em seu discurso no comício.


Texto Anterior: Projeto deve ampliar punições a bacharéis
Próximo Texto: Outro lado: Ex-governador se recusa a falar sobre campanha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.