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PROPAGANDA
Depois da posse de Lula, veículos das organizações passaram a ter participação maior no investimento federal com publicidade
Com PT, Globo aumenta sua fatia no bolo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os veículos de comunicação
das Organizações Globo tiveram
um aumento na participação do
bolo publicitário estatal federal no
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As empresas
desse grupo, o maior do país nessa área, estão em primeiro lugar
em três categorias (TV, rádio e
jornal) como as que recebem
mais verbas de propaganda sob
comando do Planalto.
Em 2002, último ano da administração de Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), os jornais, rádios, revistas e TVs da Globo faturaram R$ 260,4 milhões em verbas publicitárias estatais federais.
No ano seguinte, com o PT no Palácio do Planalto, o valor ficou
quase estável: 262,4 milhões. O
salto veio em 2004, com o montante pulando para R$ 335,1 milhões -alta de 27,7%.
A maneira mais correta de aferir
o aumento, entretanto, não é com
os números absolutos. É mais fácil perceber a proeminência das
Organizações Globo medindo o
quanto representam percentualmente no total de verbas publicitárias gastas pelo governo federal.
Nos dois últimos anos de FHC,
o valor recebido pelas Globos por
veiculação de publicidade estatal
federal representou 34,8% (2001)
e 37% (2002) do total gasto pela
administração pública. Esses percentuais pularam para 42,5% em
2003 e 38,4% em 2004.
Os 42,5% recebidos pelas Globos em 2003 são uma demonstração de que pode ter ocorrido uma
preocupação no primeiro ano do
governo Lula para não reduzir a
receita publicitária dos veículos
desse grupo empresarial.
Com a chegada do PT ao poder,
muitos contratos de propaganda
estavam vencendo. Outros eram
suspensos. Por conseqüência,
minguaram as verbas publicitárias federais de maneira generalizada. A queda foi de 12,2% -dos
R$ 703,6 milhões em 2002 para
R$ 617,7 milhões em 2003.
Não se tratava de uma política
deliberada de redução de despesas. A queda foi apenas resultado
da troca de comando no Planalto.
Mesmo com a maioria dos veículos de comunicação do país experimentando algum tipo de redução nas verbas estatais em
2003, o baque não foi sentido pelas Globos, que registraram até
um leve acréscimo.
Como o valor total despendido
em publicidade pela administração pública caiu, o percentual
abocanhado pelas Organizações
Globo teve expressivo avanço.
Saiu dos 37% do total de investimento publicitário estatal federal
em 2002 para 42,5%, em 2003.
No ano seguinte, em 2004, o
percentual caiu. Mas, desta vez, o
valor absoluto é que subiu.
É importante registrar que os
veículos das Organizações Globo
estão entre os que atraem mais
audiência (TVs e rádios) e leitores
(jornais e revistas).
O caso mais evidente é o da TV
Globo. De acordo com números
do Ibope, a audiência média nacional dessa emissora, medida
das 6h às 24h é de 9,83% (para
2004). Ou seja, de todos os televisores ligados nesse período,
9,83% sintonizam a Globo.
O SBT fica em segundo lugar,
com 3,4%. A TV Globo tem, portanto, quase o triplo de audiência
média na comparação com seu
principal concorrente no setor.
Essa audiência média é aferida
por meio de aparelhos instalados
pelo Ibope em 3.500 domicílios
do país inteiro. O percentual de
audiência é calculado sobre o total
de casas com TV que são atingidas pela amostra do instituto.
Ao se observar o que a TV Globo recebeu de verba estatal federal
em 2004 (R$ 285,7 milhões), verifica-se que o valor equivale a 3,9
vezes do que foi direcionado ao
SBT (R$ 73,5 milhões). É possível
argumentar que a audiência média da Globo é apenas 2,9 vezes a
do SBT. Haveria, por essa lógica,
uma desproporção entre audiência e verbas recebidas.
Essa conta não é totalmente correta, pois não se sabe em quais horários foram veiculados os anúncios estatais na Globo e no SBT. É
sabido que no chamado horário
nobre -final da tarde e início da
noite- a audiência da Globo fica
na faixa dos 40 ou 50 pontos, muito à frente do segundo colocado.
Outras Globos
Em outros meios, as empresas
de comunicação da Globo também se destacam.
As duas emissoras de rádio que
mais receberam verbas estatais
em 2004 foram a Globo e a CBN,
ambas pertencentes às Organizações Globo. Juntas, tiveram R$ 12
milhões -ou 13,6% de tudo o
que a administração Lula investiu
nesse meio de comunicação.
Não há aferição de audiência
média nacional para as redes de
rádio. O Ibope calcula apenas as
audiências locais. Por essa razão,
não é possível fazer uma relação
precisa entre os valores recebidos
por veiculação de propaganda estatal e a penetração no mercado.
Quando se analisa jornais diários, "O Globo" é o primeiro colocado. Com circulação média de
257,5 mil exemplares, recebeu
R$ 10,6 milhões pela veiculação de
publicidade estatal federal em
2004. Logo atrás está a Folha, com
R$ 10,2 milhões recebidos e uma
circulação média de 307,7 mil
exemplares -ou 19,5% a mais
que o diário concorrente do
Rio.
(FERNANDO RODRIGUES)
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