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Acordo por voto aberto não põe fim a votações secretas
Governo e oposição concordam com texto que trata apenas de cassação de mandatos
Proposta original era de eliminar todas as votações secretas no Congresso; acordo mantém brecha para uso de sigilo em cassação
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Governo e oposição fecharam acordo para votar hoje na
Câmara dos Deputados a
emenda que retira da Constituição a obrigatoriedade de que
cassações de mandato ocorram
por meio de votações secretas.
Do jeito que estava redigida ontem, entretanto, a proposta
mantém brecha para que determinadas votações de cassação
continuem sigilosas de forma
relativamente simples.
A articulação pela aprovação
do "voto aberto" ganhou força
devido aos escândalos dos sanguessugas e do mensalão. A
maioria dos líderes partidários
avalia que o voto secreto dá
mais chances ao acusado de escapar da punição. No caso do
mensalão, dos 14 acusados julgados pelo plenário da Câmara,
11 foram absolvidos.
A proposta original era de
acabar com todas as votações
secretas no Congresso -além
das cassações, a analise dos vetos presidenciais e as eleições
dos integrantes das Mesas da
Câmara e do Senado. Devido à
resistência da oposição, a tendência é que a emenda se restrinja às votações de cassação.
"Houve uma comissão que
aprovou uma proposta de voto
aberto para todos os casos,
criou-se uma frente em defesa
do voto aberto. "Pipocar" agora
não faz sentido", reclamou o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) que defende o voto
aberto para todos os casos.
José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição, defendeu a brecha para que, em alguns casos de cassação, a votação secreta seja mantida. Isso
se daria da seguinte forma: o
acordo fechado ontem prevê
tão somente o fim da "obrigatoriedade" do voto secreto, ou seja, não o inviabiliza.
O artigo 188 do regimento interno da Câmara diz que se um
décimo da Casa (51 deputados)
apresentar requerimento, e ele
for aprovado pelo plenário com
maioria simples, qualquer votação pode ser secreta.
O argumento defendido por
Aleluia é que, em determinados
casos, o sigilo é benéfico ao interesse público. Isso se daria
em acusações de cunho político
ou quando o parlamentar acusado use de ameaças para que
colegas não votem contra ele.
Mas o texto poderia ser reescrito. "Estamos trabalhando
em um texto que permita a votação da matéria o mais rapidamente possível", afirmou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Para entrar em vigor, a
emenda tem de ser aprovada
em dois turnos de votação por
pelo menos 308 dos 513 deputados e, em duas votações, por
49 dos 81 senadores. O Congresso só terá votações nesta
semana, pois estará em "recesso branco" até às eleições.
Ainda pelo acordo de ontem,
ficou acertado que governo e
oposição votariam de forma
simbólica 20 medidas provisórias que têm prioridade na votação. Isso poderia ocorrer na
noite de ontem ou na manhã de
hoje, tudo dependeria do quórum. Até às 18h de ontem, só
208 deputados estavam na Câmara. O mínimo para o início
das votações era 257.
Leia lista dos relatores www.folha.com.br/062472
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