São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2006/CANDIDATOS NA FOLHA

'Eu quero desencarnar do PT', diz Heloísa

Flávio Florido/Folha Imagem
A candidata à Presidência da República Heloísa Helena (PSOL) durante sabatina ontem na Folha


DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-petista e ex-admiradora de Luiz Inácio Lula da Silva, a candidata do PSOL à Presidência, senadora Heloísa Helena, 44, afirmou ontem, durante a sabatina promovida pela Folha, que quer sepultar as relações que teve com o PT. E acrescentou que rejeita comparações com "a majestade barbuda". "Eu quero desencarnar. Não agüento mais esse negócio de PT. Estou em outra fase."
Expulsa da legenda em 2003, ela insinuou que é melhor anular o voto a votar no candidato petista. "Ainda respeito mais o voto nulo do que aqueles que estão votando na legitimação do banditismo político. Sabe que é corrupto e continua votando", disse.
De volta ao passado, foi questionada sobre o episódio da cassação do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF). Na época do escândalo da violação do painel eletrônico, circularam listas de autenticidade não-comprovada em que a senadora teria votado pela absolvição de Estevão. Direta, ela negou ter tido um relacionamento com o ex-senador. "Eu não durmo com homem rico e ordinário. Vomito em cima."
Sobre o mensalão, disse que não tem "nada a ver com aquela gangue" e que nunca soube da existência do esquema.
Heloísa Helena pregou um novo modelo econômico. Ponderou que não é David Copperfield, mas sua retórica faz parecer que as mudanças viriam como num passe de mágica.
A taxa de crescimento anual seria de 7%; as tarifas administradas seriam controladas e reduzidas pelo Estado; o Orçamento seria uma obra coletiva com a sociedade; a relação com o Congresso não seria espúria nem um balcão de negócios; haveria queda imediata dos juros; as metas de inflação seriam mantidas; haveria expressivo aumento de gastos públicos para incrementar o PIB. Isso tudo sem fuga de capitais, surtos inflacionários nem comprometimento fiscal. A candidata afirmou inclusive que Lula teria a obrigação constitucional de evitar a fuga de capitais se ela for eleita em outubro, controlando a venda de dólares pelo Banco Central.
Contra o aborto e a pena de morte, Heloísa disse ter dúvidas sobre a eficácia da descriminalização das drogas. Se eleita, proibiria propagandas de bebidas alcoólicas. Ela defendeu a união civil de homossexuais e rejeitou a pecha de conservadora. "À minha esquerda, só o abismo", brincou.
Veja os principais trechos:

Primeira ação de governo
Disse que tem a obrigação de abrir processo de auditoria dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Enfatizou que, na primeira reunião do Conselho Monetário Nacional, vai estabelecer uma nova meta de crescimento econômico.

Crescimento
Fixou a meta de 7% ao ano. Garantiu que haverá alteração na política de juros porque o Comitê de Política Monetária terá de trabalhar conforme a meta de crescimento do PIB.

Metas de inflação
Prometeu manter a meta (de 4%, com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais abaixo ou acima). Sinalizou que pode haver controle dos preços administrados para evitar inflação. "Pode ser feito isso também." Disse que só haverá inflação se a demanda superar a produção. "Se a meta é de aumento dos gastos públicos em setores que dinamizam a economia local e possibilitam a maior produção de mercadorias, não tem racionalidade técnica em dizer que haverá inflação", argumentou.

Juros e câmbio
Disse que o problema do câmbio é o juro alto. "Tem que ser flutuante [o câmbio], mas monitorado. Não é fixo, porque aí vai quebrar." Defendeu o controle de capitais. Disse ainda que não precisa de decreto presidencial para baixar os juros. "Embora, se houvesse necessidade, poderia ser feito [por decreto]", disse. "A política de juros é definida conforme a minha meta de crescimento. Se eu estou estabelecendo que o Brasil tem que dobrar a meta de crescimento, como vai crescer? Não dá para chamar o David Copperfield". O crescimento estaria ligado, para a senadora, ao aumento de gastos públicos, para dinamizar a economia e gerar emprego e renda.

Fuga de capitais
"Só haverá se o presidente deixar que isso aconteça. Nem o Fernando Henrique deixou. Aí é crime de lesa pátria, aí é demais!", disse. Pregou que o BC controle a troca de moedas em nome da soberania.

Congresso
Minimizou a necessidade de governar com maioria. "Eu não vou precisar mandar para o Congresso um projeto com o qual não me identifico." Alegou que só precisaria do Congresso para aprovar o Orçamento e a reforma tributária.

Orçamento
Disse que esse é o "coração da administração pública" e que quer um novo modelo, em que todos os setores da sociedade elaborem a proposta. Segundo a senadora, a governabilidade não pode ser obtida só a custa de mensaleiros e sanguessugas.

O PT e o mensalão
Disse que a esquerda do partido sempre fez questionamentos, mas que desconhecia esquemas de corrupção no governo. "E eu lá sabia que o filho do Lula ia virar dono de R$ 15 milhões? Eu sabia lá disso, de mensalão, de sanguessuga?" Fez críticas a Lula. "Não aceito comparação com a majestade barbuda. Não tenho nada a ver com aquela gangue." Disse que sempre criticou liberação de cargos e emendas, alianças suspeitas, "mensalões sofisticados". "Quero desencarnar. Não agüento mais esse negócio de PT. Estou em outra fase, no PSOL."

Lula ou Alckmin?
"Vocês acham que eu responderia isso aqui? Eu vou estar no segundo turno."

Aborto
É contra, mas não porque quer ganhar votos de igreja. "Não estou nem aí para isso." Disse que não criminaliza as mulheres que fizeram.

Luiz Estevão
Afirmou que não o absolveu. "Disseram que eu dormia com o cara. Aí eu fui para a tribuna dizer que eu não durmo com homem rico e ordinário. Eu vomito em cima." Desafiou jornalistas sobre a autenticidade de listas com o placar da cassação que teriam sido reveladas a partir da violação do painel eletrônico. "Cadê a lista? Entre a minha palavra e a palavra do ACM, a minha vale mais", afirmou. O senador Antonio Carlos Magalhães se envolveu no escândalo da violação do painel.

Drogas
Disse ter dúvidas sobre a eficácia da descriminalização. "Acho que só daria certo se nos outros países fosse fazer também. Senão o Brasil vira um mercado potencial", concluiu.

União homossexual
É a favor. "Se duas pessoas do mesmo sexo vivem juntas, constróem um patrimônio juntas, é inaceitável que, na morte de uma delas, a outra não possa se apropriar do patrimônio."

PSOL e PT
Rejeitou a possibilidade de caminhar ao lado do PT, inclusive em 2010. "Não tem a menor condição. Eles sigam a vida deles, nós seguiremos a nossa. Só não podem se reivindicar de esquerda". O PT, acusou a senadora, "conseguiu se transformar na ferramenta da propaganda do triunfo neoliberal".

Aerolula
Não usaria o avião presidencial. "Pensei em abrir para visitação pública." Alegou que não vai viajar pelo mundo. E que pretende usar avião de carreira.

Voto obrigatório e nulo
Disse ter dúvidas sobre a obrigatoriedade do voto. Acha que o ideal seria não haver imposição legal, mas teme uma ausência grande do eleitor caso seja facultativo. Sobre o voto nulo, acha que auxilia mais quem está à frente nas pesquisas. "Preferia que os indignados, ao invés de anular, possibilitassem uma mudança. Mas eu ainda respeito mais o voto nulo do que aqueles que estão votando na legitimação do banditismo político. Sabe que é corrupto e continua votando."


Texto Anterior: Cúpula do PT vai à Europa tentar recuperar a imagem do partido
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.