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ELEIÇÕES 2006/CANDIDATOS NA FOLHA
'Eu quero desencarnar do PT', diz Heloísa
Flávio Florido/Folha Imagem
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A candidata à Presidência da República Heloísa Helena (PSOL) durante sabatina ontem na Folha |
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-petista e ex-admiradora
de Luiz Inácio Lula da Silva, a
candidata do PSOL à Presidência, senadora Heloísa Helena,
44, afirmou ontem, durante a
sabatina promovida pela Folha, que quer sepultar as relações que teve com o PT. E acrescentou que rejeita comparações com "a majestade barbuda". "Eu quero desencarnar.
Não agüento mais esse negócio
de PT. Estou em outra fase."
Expulsa da legenda em 2003,
ela insinuou que é melhor anular o voto a votar no candidato
petista. "Ainda respeito mais o
voto nulo do que aqueles que
estão votando na legitimação
do banditismo político. Sabe
que é corrupto e continua votando", disse.
De volta ao passado, foi questionada sobre o episódio da cassação do então senador Luiz
Estevão (PMDB-DF). Na época
do escândalo da violação do
painel eletrônico, circularam
listas de autenticidade não-comprovada em que a senadora
teria votado pela absolvição de
Estevão. Direta, ela negou ter
tido um relacionamento com o
ex-senador. "Eu não durmo
com homem rico e ordinário.
Vomito em cima."
Sobre o mensalão, disse que
não tem "nada a ver com aquela
gangue" e que nunca soube da
existência do esquema.
Heloísa Helena pregou um
novo modelo econômico. Ponderou que não é David Copperfield, mas sua retórica faz parecer que as mudanças viriam como num passe de mágica.
A taxa de crescimento anual
seria de 7%; as tarifas administradas seriam controladas e reduzidas pelo Estado; o Orçamento seria uma obra coletiva
com a sociedade; a relação com
o Congresso não seria espúria
nem um balcão de negócios; haveria queda imediata dos juros;
as metas de inflação seriam
mantidas; haveria expressivo
aumento de gastos públicos para incrementar o PIB. Isso tudo
sem fuga de capitais, surtos inflacionários nem comprometimento fiscal. A candidata afirmou inclusive que Lula teria a
obrigação constitucional de
evitar a fuga de capitais se ela
for eleita em outubro, controlando a venda de dólares pelo
Banco Central.
Contra o aborto e a pena de
morte, Heloísa disse ter dúvidas sobre a eficácia da descriminalização das drogas. Se eleita, proibiria propagandas de
bebidas alcoólicas. Ela defendeu a união civil de homossexuais e rejeitou a pecha de conservadora. "À minha esquerda,
só o abismo", brincou.
Veja os principais trechos:
Primeira ação de governo
Disse que tem a obrigação de
abrir processo de auditoria dos
governos Luiz Inácio Lula da
Silva e Fernando Henrique
Cardoso. Enfatizou que, na primeira reunião do Conselho
Monetário Nacional, vai estabelecer uma nova meta de crescimento econômico.
Crescimento
Fixou a meta de 7% ao ano.
Garantiu que haverá alteração
na política de juros porque o
Comitê de Política Monetária
terá de trabalhar conforme a
meta de crescimento do PIB.
Metas de inflação
Prometeu manter a meta (de
4%, com intervalo de tolerância
de 2,5 pontos percentuais abaixo ou acima). Sinalizou que pode haver controle dos preços
administrados para evitar inflação. "Pode ser feito isso também." Disse que só haverá inflação se a demanda superar a
produção. "Se a meta é de aumento dos gastos públicos em
setores que dinamizam a economia local e possibilitam a
maior produção de mercadorias, não tem racionalidade técnica em dizer que haverá inflação", argumentou.
Juros e câmbio
Disse que o problema do
câmbio é o juro alto. "Tem que
ser flutuante [o câmbio], mas
monitorado. Não é fixo, porque
aí vai quebrar." Defendeu o
controle de capitais. Disse ainda que não precisa de decreto
presidencial para baixar os juros. "Embora, se houvesse necessidade, poderia ser feito
[por decreto]", disse. "A política de juros é definida conforme
a minha meta de crescimento.
Se eu estou estabelecendo que
o Brasil tem que dobrar a meta
de crescimento, como vai crescer? Não dá para chamar o David Copperfield". O crescimento estaria ligado, para a senadora, ao aumento de gastos públicos, para dinamizar a economia
e gerar emprego e renda.
Fuga de capitais
"Só haverá se o presidente
deixar que isso aconteça. Nem
o Fernando Henrique deixou.
Aí é crime de lesa pátria, aí é demais!", disse. Pregou que o BC
controle a troca de moedas em
nome da soberania.
Congresso
Minimizou a necessidade de
governar com maioria. "Eu não
vou precisar mandar para o
Congresso um projeto com o
qual não me identifico." Alegou
que só precisaria do Congresso
para aprovar o Orçamento e a
reforma tributária.
Orçamento
Disse que esse é o "coração da
administração pública" e que
quer um novo modelo, em que
todos os setores da sociedade
elaborem a proposta. Segundo
a senadora, a governabilidade
não pode ser obtida só a custa
de mensaleiros e sanguessugas.
O PT e o mensalão
Disse que a esquerda do partido sempre fez questionamentos, mas que desconhecia esquemas de corrupção no governo. "E eu lá sabia que o filho do
Lula ia virar dono de R$ 15 milhões? Eu sabia lá disso, de
mensalão, de sanguessuga?"
Fez críticas a Lula. "Não aceito
comparação com a majestade
barbuda. Não tenho nada a ver
com aquela gangue." Disse que
sempre criticou liberação de
cargos e emendas, alianças suspeitas, "mensalões sofisticados". "Quero desencarnar. Não
agüento mais esse negócio de
PT. Estou em outra fase, no
PSOL."
Lula ou Alckmin?
"Vocês acham que eu responderia isso aqui? Eu vou estar no
segundo turno."
Aborto
É contra, mas não porque
quer ganhar votos de igreja.
"Não estou nem aí para isso."
Disse que não criminaliza as
mulheres que fizeram.
Luiz Estevão
Afirmou que não o absolveu.
"Disseram que eu dormia com
o cara. Aí eu fui para a tribuna
dizer que eu não durmo com
homem rico e ordinário. Eu vomito em cima." Desafiou jornalistas sobre a autenticidade de
listas com o placar da cassação
que teriam sido reveladas a
partir da violação do painel eletrônico. "Cadê a lista? Entre a
minha palavra e a palavra do
ACM, a minha vale mais", afirmou. O senador Antonio Carlos
Magalhães se envolveu no escândalo da violação do painel.
Drogas
Disse ter dúvidas sobre a eficácia da descriminalização.
"Acho que só daria certo se nos
outros países fosse fazer também. Senão o Brasil vira um
mercado potencial", concluiu.
União homossexual
É a favor. "Se duas pessoas do
mesmo sexo vivem juntas,
constróem um patrimônio juntas, é inaceitável que, na morte
de uma delas, a outra não possa
se apropriar do patrimônio."
PSOL e PT
Rejeitou a possibilidade de
caminhar ao lado do PT, inclusive em 2010. "Não tem a menor condição. Eles sigam a vida deles, nós seguiremos a nossa.
Só não podem se reivindicar de
esquerda". O PT, acusou a senadora, "conseguiu se transformar na ferramenta da propaganda do triunfo neoliberal".
Aerolula
Não usaria o avião presidencial. "Pensei em abrir para visitação pública." Alegou que não
vai viajar pelo mundo. E que
pretende usar avião de carreira.
Voto obrigatório e nulo
Disse ter dúvidas sobre a
obrigatoriedade do voto. Acha
que o ideal seria não haver imposição legal, mas teme uma
ausência grande do eleitor caso
seja facultativo. Sobre o voto
nulo, acha que auxilia mais
quem está à frente nas pesquisas. "Preferia que os indignados, ao invés de anular, possibilitassem uma mudança. Mas eu
ainda respeito mais o voto nulo
do que aqueles que estão votando na legitimação do banditismo político. Sabe que é corrupto e continua votando."
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