São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Correios escolhem agência que trabalhou para ministro

Empresa ocupava o 6º lugar no ranking de notas e acabou em 1º após revisão

Assessoria de Hélio Costa diz que outra empresa do mesmo publicitário fez sua campanha em 2002, mas não existe registro no TSE

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A agência de publicidade Casablanca, que venceu a disputa técnica para a propaganda institucional dos Correios, trabalhou na campanha ao Senado, em 2002, do atual ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG). Os Correios são estatal vinculada à pasta de Costa, que a controla e acompanha seu desempenho.
A assessoria do ministro informou, no início da noite de ontem, que a agência que trabalhou para a campanha eleitoral foi a Setembro Propaganda, pertencente ao presidente da Casablanca, Almir Sales. Informada de que há duas notas fiscais em nome da Casablanca na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral e nenhuma da Setembro, o ministério ficou de explicar a contradição -o que não havia acontecido até as 19h30 de ontem.
A Casablanca, de Belo Horizonte (MG), ficou em primeiro lugar na disputa pelo lote três da licitação dos Correios, avaliado em R$ 23 milhões, depois que a comissão de licitação revisou o primeiro resultado e desclassificou concorrentes.
A agência ficara em sexto lugar no ranking das melhores notas técnicas divulgado no início de julho -a empresa diz que ocupara o terceiro lugar. Com as alterações, concluídas no dia 31 e reveladas ontem pelo "Painel", a Casablanca passou ao primeiro lugar.
Os Correios informaram ontem, em nota, que "eventuais equívocos de interpretação" no primeiro processo de avaliação foram "muito bem explorados" pelas agências que recorreram do primeiro resultado (leia texto acima).
A revisão também alterou o resultado dos outros dois lotes, destinados às propagandas com Sedex e telegramas, avaliados em R$ 45 milhões e R$ 22 milhões anuais. Foram excluídas a agência Nova S/B, de João Roberto Vieira da Costa, que chefiou a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) em 2002, sob gestão do PSDB, e a agência MPM, do publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro do ex-candidato à Presidência José Serra (PSDB) em 2002.
A Setembro, do presidente da Casablanca, Almir Sales, trabalhou também na campanha vitoriosa de Fernando Collor à Presidência, em 89.
O diretor administrativo da Casablanca, Juliano Sales, filho de Almir, disse que seu pai atuou na campanha de 2002 "possivelmente com planejamento e assessoramento" de Hélio Costa. "Alguma coisa de planejamento, assessoria de comunicação, planejamento de comunicação", disse Juliano.
Indagado se Almir Sales ou a agência mantiveram contatos com Costa depois que ele assumiu o ministério, Juliano respondeu: "Não sei, a empresa creio que não. Do Almir, não sei do relacionamento pessoal dele [com o ministro]".
A princípio, o diretor negou que a Casablanca tivesse trabalhado na campanha de Costa. Ao ser informado sobre os gastos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de R$ 2,66 mil com "serviços de propaganda", Juliano reconheceu: "Desculpe, mas não estou lembrado, se tem nota fiscal, é porque trabalhou".
A fase técnica é a mais importante numa licitação para serviços de publicidade, mas a disputa dos Correios ainda não acabou. Restam prazos para novos recursos e o julgamento do melhor preço (quase sempre a agência que ganha na técnica e perde no preço por fim aceita realizar o mesmo serviço por um preço inferior).


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