São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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Cidade tem 73% do PIB dependente da prefeitura

Candidato da oposição desiste da disputa um mês antes do pleito; moradores devem optar pela reeleição por medo de perder emprego

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A POÇO DANTAS (PB)

Encravado no extremo noroeste paraibano, com seus limites territoriais na divisa com o Rio Grande do Norte e com o Ceará, Poço Dantas tem o prefeito como o único patrão do município, fato que motivou o candidato da oposição a jogar a toalha um mês antes das eleições. Para Gentil Freitas (DEM), a reeleição de Itamar Moreira (PMDB) é inevitável.
A reeleição parece tão certa, que nem se vê campanha. Há, no máximo, cartazes do prefeito colocados na parede de algumas casas. Não há carros de som, bandeiras ou cabos eleitorais. "Só entrei na disputa para marcar posição", admite o candidato do DEM, que, aparentemente, estava mais preocupado com a reforma de sua casa. "Dá um trabalho danado."
Já o prefeito minimiza: "Parece que vamos ganhar".
Poço Dantas é o segundo colocado nacional entre os municípios mais dependentes da administração pública listados pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ) em 2005. 72,8% de seu PIB é vinculado à máquina oficial -o restante distribui-se em agropecuária, impostos e atividades como comércios, aluguéis e construções menores.
Isolado por estradas de terra -em alguns trechos os carros são obrigados a cruzar pequenos riachos- Poço Dantas tem 3.919 habitantes e 3.227 eleitores. Apenas três ruas, no centro da cidade, são de paralelepípedo. O restante é terra. Não há emprego, exceto na prefeitura.
Na cidade não há agência bancária, correio, posto de combustível e supermercado, por exemplo. Há apenas um caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal, usado pelas 587 famílias que recebem o Bolsa Família. Mesmo os funcionários da prefeitura precisam viajar pelo menos uma vez por mês até Uiraúna (a 20 km) para sacar o salário -e acabam fazendo compras por lá mesmo, aquecendo a economia do município vizinho.
Direta ou indiretamente, quem se beneficia são os candidatos à reeleição, como ocorreu em 2000. Os 240 funcionários da administração sabem que, se mudar o comando, trocam-se os subordinados.
Rejanea da Silva, 35, votará pela reeleição. Contratada pelo prefeito em 2005 para trabalhar na creche municipal e mãe de três filhos, ela recebe um salário mínimo mensal, além de R$ 60 do Bolsa Família. O marido, Wellington, 29, trabalha no quintal de casa, numa lavoura de subsistência. "Hoje o dinheiro da feira está garantido."

NA INTERNET
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br
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