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Cidade tem 73% do PIB dependente da prefeitura
Candidato da oposição desiste da disputa um mês antes do pleito; moradores devem optar pela reeleição por medo de perder emprego
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A POÇO DANTAS (PB)
Encravado no extremo noroeste paraibano, com seus limites territoriais na divisa com
o Rio Grande do Norte e com o
Ceará, Poço Dantas tem o prefeito como o único patrão do
município, fato que motivou o
candidato da oposição a jogar a
toalha um mês antes das eleições. Para Gentil Freitas
(DEM), a reeleição de Itamar
Moreira (PMDB) é inevitável.
A reeleição parece tão certa,
que nem se vê campanha. Há,
no máximo, cartazes do prefeito colocados na parede de algumas casas. Não há carros de
som, bandeiras ou cabos eleitorais. "Só entrei na disputa para
marcar posição", admite o candidato do DEM, que, aparentemente, estava mais preocupado
com a reforma de sua casa. "Dá
um trabalho danado."
Já o prefeito minimiza: "Parece que vamos ganhar".
Poço Dantas é o segundo colocado nacional entre os municípios mais dependentes da administração pública listados
pelo IBGE (Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística ) em 2005. 72,8% de seu
PIB é vinculado à máquina oficial -o restante distribui-se em
agropecuária, impostos e atividades como comércios, aluguéis e construções menores.
Isolado por estradas de terra
-em alguns trechos os carros
são obrigados a cruzar pequenos riachos- Poço Dantas tem
3.919 habitantes e 3.227 eleitores. Apenas três ruas, no centro
da cidade, são de paralelepípedo. O restante é terra. Não há
emprego, exceto na prefeitura.
Na cidade não há agência
bancária, correio, posto de
combustível e supermercado,
por exemplo. Há apenas um
caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal, usado pelas
587 famílias que recebem o
Bolsa Família. Mesmo os funcionários da prefeitura precisam viajar pelo menos uma vez
por mês até Uiraúna (a 20 km)
para sacar o salário -e acabam
fazendo compras por lá mesmo, aquecendo a economia do
município vizinho.
Direta ou indiretamente,
quem se beneficia são os candidatos à reeleição, como ocorreu
em 2000. Os 240 funcionários
da administração sabem que, se
mudar o comando, trocam-se
os subordinados.
Rejanea da Silva, 35, votará
pela reeleição. Contratada pelo
prefeito em 2005 para trabalhar na creche municipal e mãe
de três filhos, ela recebe um salário mínimo mensal, além de
R$ 60 do Bolsa Família. O marido, Wellington, 29, trabalha no
quintal de casa, numa lavoura
de subsistência. "Hoje o dinheiro da feira está garantido."
NA INTERNET
http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br
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