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Estatal afasta acusado no caso Sarney
Ulisses Assad deixa o cargo após ser acusado de receber propina de Fernando Sarney -que nega a acusação
Valec diz que diretor foi tirado depois de sindicância; PF calcula que o esquema desviou R$ 45 milhões da obra da ferrovia Norte-Sul
HUDSON CORRÊA
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
Acusado pela Polícia Federal
de receber propina do empresário Fernando Sarney, o diretor de Engenharia da estatal
Valec, Ulisses Assad, foi afastado. Vinculada ao Ministério dos
Transportes, a Valec é responsável por construções de ferrovias. Em 2007, administrou um
orçamento de R$ 1,4 bilhão.
Segundo a PF, um grupo de
Fernando montou esquema
para desviar ao menos R$ 45
milhões da ferrovia Norte-Sul,
obra da Valec. Filho de José
Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, Fernando nega.
A Valec disse ontem que o
ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, determinou
uma investigação que resultou
no afastamento de Assad.
Embora as suspeitas contra
ele tenham surgido há um ano,
ele permanecia no cargo e era
poupado até pela PF, que deixou de fazer busca e apreensão
e instalar escuta ambiental na
sala dele, apesar de ordem judicial. A PF alegou à Justiça que
as ações não eram necessárias
porque houve vazamento da investigação em agosto de 2008.
O afastamento de Assad, confirmado só ontem à Folha pela
estatal, ocorreu no dia 21, uma
semana após o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva desqualificar, durante discurso em Anápolis (GO), suspeitas de irregularidades na obra da ferrovia.
O presidente disse que a diretoria da Valec precisa "fazer
50 viagens a Brasília para convencer os ministros do Tribunal de Contas de que o projeto
está certo e o preço está certo".
Lula foi o aliado mais forte
que Sarney contou para se
manter na presidência do Senado diante da série de acusações que enfrentou na Casa.
A construção da Norte-Sul,
que cortará Goiás, Tocantins,
Maranhão e Pará, começou como um dos escândalos do governo Sarney (1985-1990).
Em 13 de maio de 1987, a Folha publicou reportagem que
apontava fraude na licitação.
Sarney determinou, então, a
anulação da concorrência, que
envolvia cerca de US$ 2,5 bilhões (R$ 4,7 bilhões).
Em julho passado, o TCU
(Tribunal de Contas da União)
apontou irregularidades graves
na ferrovia em trecho orçado
em R$ 778,1 milhões.
O TCU questionou a entrega
de parte da obra por empresas
contratadas pela Valec a outras
firmas. Em inquérito que investiga Fernando Sarney, a PF
já havia apontado suposta ilegalidade na subcontratação.
A Constran ganhou licitação
para um trecho da ferrovia (de
R$ 245,5 milhões) e entregou
parte da obra, no valor de R$ 45
milhões, para a Lupama, diz a
PF. A Lupama, segundo a investigação, é empresa de fachada ligada ao grupo de Fernando
Sarney no Maranhão e serviria
para desviar dinheiro.
Ainda segundo a PF, Fernando mandava seu motorista pagar propina a Assad em 2008.
Noutro trecho do inquérito, a
PF reproduz um e-mail de julho de 2008 enviado a Assad no
qual um empresário pede que o
diretor deposite no banco R$
62 mil. Segundo a mensagem
eletrônica, o dinheiro é referente a parte do pagamento por
uma fazenda de 2.000 hectares,
avaliada em R$ 1,6 milhão.
A compra foi realizada em
nome de uma empresa da qual
Assad foi sócio até 2003. Para a
PF, Assad pode ter usado a empresa "para mascarar" que ele é
o verdadeiro dono do imóvel.
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