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CONGRESSO
Senador mora com assessora, mas ganha auxílio-moradia
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Único representante do
PSOL no Senado, José Nery
(PA) recebe R$ 3.800 mensais de auxílio-moradia, mas
mora no apartamento de
uma assessora do seu gabinete em Brasília. O partido
do senador paraense foi responsável por duas representações no Conselho de Ética
contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP),
por quebra de decoro.
Assistente parlamentar
com salário mensal de R$
2.800, Cecília Rodrigues
Torres é proprietária de um
imóvel na Asa Sul. É lá que
Nery fica durante os dias em
que está em Brasília. Primeiro-suplente, ele ganhou a cadeira que pertencia a Ana Júlia Carepa (PT), que renunciou à vaga para assumir o
governo do Pará em 2007.
Cecília disse à Folha que
são amigos desde a juventude, quando atuavam no movimento católico no Ceará,
Estado de origem do senador. "Trabalhamos juntos na
diocese. É uma longa história de amizade, de cumplicidade", afirmou a assessora.
"Antes de qualquer coisa,
nós somos amigos e irmãos.
É uma alegria muito boa
compartilhar isso com ele."
Como senador, Nery tem
direito a apartamento funcional cedido pelo Senado.
Mas preferiu o auxílio-moradia porque, segundo ele
próprio, teria menos gastos.
"Pode até ser [questionável], mas foi a solução que eu
encontrei", disse. "Levante
quanto gasta em um apartamento funcional. Tem energia. Tem de ter todos os equipamentos para funcionar."
Nery afirmou que usa o dinheiro do auxílio-moradia
para ajudar nas despesas do
apartamento. "Uso um quarto. Pago a uma pessoa que
mora na casa R$ 1.800 para
fazer a limpeza e lavar minhas roupas. Além disso,
quando posso, faço minhas
refeições em casa", disse.
O direito ao auxílio-moradia é previsto no Ato da Mesa Diretora 24/1992. Segundo a norma, um senador que
mora em imóvel próprio ou
cedido pode receber auxílio-moradia. Nesse caso, o congressista não precisa comprovar os gastos, mas tem de
avisar à Diretoria Geral.
"Fica dispensado da apresentação dos comprovantes
de despesa o senador que tiver ocupado imóvel próprio
ou cedido, no Distrito Federal, ficando, entretanto, obrigado a comunicar tal fato à
Diretora Geral", diz o texto
do ato. Nery afirmou que não
informou seu caso à direção.
Em maio, a Folha mostrou que o Senado pagava
auxílio-moradia para 42
congressistas sem respaldo
legal. Isso porque o ato 24/
1992 havia sido revogado pelo colegiado em 2002.
O Senado revalidou o ato
de forma retroativa para que
os senadores não tivessem
de devolver recursos recebidos nos últimos cinco anos.
A reportagem revelou ainda que entre os 42 senadores
que recebiam auxílio-moradia estava o presidente da
Casa José Sarney. Desde fevereiro, ele tem à sua disposição a residência oficial da
Presidência do Senado e não
teria direito ao benefício.
Após ter negado, num primeiro momento, que recebia
o benefício, ele pediu desculpas por ter passado a informação errada sobre o caso.
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