São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2001

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JANIO DE FREITAS

Questão de fé

O noticiário em torno da ação comandada pelos Estados Unidos já está, em quase tudo o que nele seria importante, reduzido a uma questão de fé.
Quem sabe do incidente forjado para a invasão nazista da Áustria, ou do ataque forjado pelo Pentágono e pela CIA a um navio americano em águas vietnamitas, quem se lembra de como foram iniciadas tantas ações bélicas não pode aceitar, a priori, os "elementos convincentes" citados como justificativa para a operação militar na Ásia Menor. Tanto mais que o comedimento da França, na admissão de que os elementos "são convincentes", vêm do único integrante da Otan com política externa bastante independente dos Estados Unidos.
Nada mais certo do que a obtenção de provas contra os acusados, indivíduo e país, pelo governo americano desde suas primeiras reações verbais ao ataque a Nova York e ao Pentágono. Não as encontrar seria, de uma parte, desmoralizar o governo e, de outra, fortalecer a inaceitação internacional à ação militar de que o governo americano tanto precisa, para dar uma satisfação ao seu povo.
A necessidade de ter provas, boas ou não -e aparentemente a qualquer custo-, reforça o retraimento muito saudável diante do sigilo de tais provas, para justificar uma operação de guerra cujo dispositivo, pela dimensão física e pelos envolvimentos nacionais, está sugerindo alguma coisa imensa como ação militar.
A mesma reação é provocada por notícias do tipo "os serviços de informação do governo tiveram [antes de 11 de setembro" muitos indícios de que planejavam ataques aos Estados Unidos", embora "não indicações fiéis do que iria acontecer". Nisso o secretário de Estado Colin Powell faz o óbvio. É preciso salvar a imagem da CIA, do FBI e da Agência Nacional de Segurança na opinião dos americanos. E, mais urgente, é preciso agir para evitar o inquérito que muitos no Congresso desejam, para saber por que os US$ 30 a 40 bilhões postos naqueles serviços não deram o mais necessário dos resultados.
As providências militares e diplomáticas estão sob censura declarada, aos repórteres não restando mais do que um hábito duvidoso, que é o de deduzir sem muitos motivos para isso, e o pior dos seus hábitos, que é o de acionar a imaginação quando os fatos não se oferecem.

Sob controle
Pela teoria de que o importante é estar nas páginas e nas telas, a confusão que o governador Itamar Franco armou em torno de si mesmo, ao longo da hipótese de sua candidatura à Presidência, foi-lhe proveitosa. Mas, hoje, dia final para mudança de partido, Itamar Franco está na mesma situação de quando começou as convoluções.
Ou seja, com a promessa de que, se desistir de transferir-se do PMDB, o partido lhe dará todas as condições de disputar a indicação para se candidatar. Uma promessa não para ser cumprida, mas para reter a possível candidatura de Itamar Franco sob o freio partidário, como ficou estabelecido entre o PMDB e Fernando Henrique Cardoso.


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