São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Historietas Nordestinas

JARBAS PASSARINHO

José Sarney, governador do Maranhão, recebeu, cavalheiresco, o ministro da Educação que fora proferir a aula inaugural da Universidade Federal.
À tarde, o programa ficou por conta do ministro, que percorreu a universidade, gravou mensagem para a TV local, recebeu delegação de estudantes e ouviu concisa explanação do reitor, o escritor e acadêmico Josué Montelo. A cidade de São Luís estava muito bem tratada. O poeta José Sarney mudara os nomes das ruas, fazendo-os voltar às românticas designações coloniais ou do início do Segundo Império. O jantar seria no Palácio dos Leões, uma bela arquitetura, sede do governo e residência oficial do governante.
Como o Ministério da Educação era também o da Cultura, foi preparado, para o ministro, um evento cultural típico do folclore maranhense: a demonstração do Boi Bumbá.
Um palanque fora providenciado para receber as autoridades, enquanto o povo acompanhava na orla marítima, próxima ao Palácio, a evolução do aplaudido elenco servido por pequeno conjunto musical.
Ao fim da exibição, o governador convidou o ministro para confraternizar com os integrantes do Boi Bumbá. Desceram todos do palanque e ficaram em torno dos figurantes que continuavam a dançar.
O "tripa", que simulava o boi, volteando ao som da música, veio fingir que chifrava o ministro, que não conhecia suficientemente o auto folclórico.
Uma, duas, três vezes, até que o governador Sarney lhe sussurrou ao pé do ouvido: "Ministro, esse boi quer ração..."
Só então o visitante entendeu que precisava abrir a carteira de dinheiro...
Já na Bahia, onde não havia o Boi Bumbá, o governador preparou manifestação popular de agradecimento ao ministro. Terminada a cerimônia, desceram todos do palanque e dirigiram-se para os automóveis.
Um popular, porém, não largou o braço do governador que, afinal, meteu a mão na carteira e dela retirou uma nota, oferecendo-a ao insistente admirador.
Mas não era "ração" o que ele queria. Recusou a nota e disse: "Governador, não quero dinheiro, quero é consideração..."


JARBAS PASSARINHO, 82, ex-governador do Pará (1964 a 1966), ex-ministro do Trabalho no governo de Costa e Silva e da Justiça no governo de Fernando Collor, escreve aos sábados nesta seção



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