São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Sabatina Folha - Dilma Rousseff

Ex-guerrilheira, a ministra disse que mudou com os anos e hoje recusa a violência como ação política, declarou-se favorável à descriminalização do aborto e afirmou que que o maior legado do governo Lula são as obras do PAC e o crescimento com inclusão social

Choque de gestão é conceito de propaganda, diz Dilma

AINDA que se recuse a falar em corrida presidencial, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, 59, não hesita em combater expressão "choque de gestão", propalada nas campanhas do PSDB. Em sabatina da Folha, disse que é um "conceito propagandístico". Durante pouco mais de duas horas de entrevista, Dilma reagiu às críticas dos peemedebistas de que estaria resistindo às indicações do partido. "Queria deixar claro que sou assessora do presidente Lula. Não tenho iniciativas pessoais." Ela foi entrevistada por Valdo Cruz (repórter especial), Eliane Cantanhêde (colunista do jornal), Renata Lo Prete (editora do "Painel") e Fernando de Barros e Silva (editor de Brasil).

Leia a seguir os principais temas discutidos na entrevista.

 

CHOQUE DE GESTÃO
Dilma Rousseff criticou um dos principais pontos do discurso do PSDB alegando que "não se muda gestão com choque" e que mudanças como controle de despesas exigem um processo. "Só quem não administra acredita em choque de gestão. Com choque se faz uma maquiagem. Alterar gestão é alterar processo. Processo não se altera com choque", disse a ministra, recomendando: "Desconfie quando falarem o seguinte: um governo fez ajuste em um ano. Desconfie."

ALCKMIN
Ela recusou-se a identificar os destinatários da crítica. Mas, lembrada que o "choque de gestão" habita o receituário tucano, comentou: "O candidato Alckmin falava, durante a eleição, que tinha de haver choque de gestão e dava como exemplo o pregão eletrônico. Introduzimos o pregão eletrônico em 2005 [antes da eleição]".
A ministra se valeu de um artifício -um decreto do governador José Serra (PSDB), tornando obrigatório o uso de pregões- para desqualificar o discurso de Alckmin:
"Recentemente, se não me engano, em março, o governador Serra -aliás, parabéns para ele- introduziu o pregão eletrônico em São Paulo". "Uma coisa é o discurso, e outra coisa é a prática", ironizou.
Alckmin, no entanto, já adotava pregão eletrônico para compras em seu governo.


BARGANHA
Dilma reagiu às críticas dos peemedebistas segundo os quais estaria resistindo às indicações do partido. "Queria deixar claro que sou assessora do presidente Lula. Não tenho nenhuma iniciativa que não seja iniciativa do governo. Não tenho iniciativas pessoais."
Ela defendeu a profissionalização do serviço público para descartar "barganha" com o PMDB. "O presidente não estabeleceu em hipótese alguma uma mesa de barganha. Nossa relação com o PMDB, neste aspecto, é programática", dizendo que o aliado pode integrar o governo desde que indicando técnicos capacitados. Para ela, ainda é preciso "melhorar as práticas políticas no Brasil". Dilma brincou ao comentar ser alvo de queixas do PMDB. " Ninguém me diz pessoalmente. Então, li pelos jornais."


QUEDA
A ministra deixou claro que o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, não sobreviverá no cargo. "Zuanazzi permanece na presidência da agência porque está acordada uma transição na Anac. O ministro [Nelson] Jobim, que é o responsável pelo setor, está fazendo uma substituição de todos os dirigentes da Anac sem ruptura. Assim que os indicados forem sendo aprovados no Senado, as substituições vão sendo feitas".


MANGABEIRA
Dilma revelou divergência com o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, segundo o qual uma política industrial não é tão relevante para o país quanto o empreendedorismo da classe média. "Existe política industrial do governo", reagiu.


IMPRENSA
A ministra afirmou que ela e o governo fazem restrições ao comportamento de setores da mídia. "Nós achamos que há, de fato em alguns momentos, uma posição de mídia absolutamente, eu diria não crítica, mas acrítica. Porque a crítica é generalizada. É difícil achar um ponto bom no que nós fizemos. A gente sabe que isso não é real."
Ela defendeu a pluralidade de idéias, inclusive com a criação da rede de TV pública. "Não queremos que haja no Brasil uma posição de uma só concepção. Achamos que a multiplicidade é fundamental para que a gente de fato tenha um país crescendo diferenciadamente."


VALE
Contrária à idéia de reestatização da Vale do Rio Doce, a ministra da Casa Civil criticou as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, o ex-presidente "fez coisas muito competentes". Mas "não houve avanços sociais". Os programas do Avança Brasil, disse, "não saíam do papel".


TELEFONIA
Dilma negou que um esforço do governo pela fusão de duas companhias telefônicas, a OI, antiga Telemar, com a Brasil Telecom, seja reestatizante.
"O governo não está fazendo procedimento para fundir A com B. O que o governo está olhando é a situação da telefonia nesse cenário de convergência de mídia. Estejam elas juntas ou separadas, a Previ e o BNDESpar integrarão o controle de parte do capital. Para saber se tem estatização ou não, você tem que revirar a composição, fazer o cálculo. Não tem como provar que tem estatização. A Vale tem uma participação bastante grande da Previ e do BNDESpar."


CONCESSÕES
A ministra defendeu a revisão do modelo de concessões de comunicação porque "estamos vivendo hoje num mundo bastante diferente daquele dos anos 90 e do final dos anos 90." "A convergência de mídia tende a exigir da nossa parte uma reflexão", pregou. "Por que o Brasil abriu essa discussão sobre o marco regulatório? Se não fizermos agora, seremos atropelados pela realidade, a realidade indisciplinada."


CHÁVEZ
A ministra rechaçou comparações feitas entre o governo Lula e o do venezuelano Hugo Chávez, que negou a renovação de concessão de emissora de TV do país. Dilma disse que é lamentável quando acusam o governo Lula de atitudes chavistas. "Estamos na fase de coibir abuso e não há nada de chavismo nisso. Não é possível usar o metro para medir a Venezuela igual ao metro usado para medir o Brasil. Não tem nada a ver a Venezuela com o Brasil", afirmou.

Veja o vídeo da sabatina

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