São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Após 36 anos, ministra revê companheira de cela em prisão da ditadura

DA REPORTAGEM LOCAL

A sabatina da Folha foi palco de um reencontro após 36 anos. Quando a sessão foi aberta para questões da platéia, a psicóloga Lucia Salvia Coelho, 70, fez a seguinte pergunta à ministra da Casa Civil:
"Em agosto de 1971, eu estava presa no DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] com mais 11 companheiras. O convívio com elas me marcou profundamente, de modo positivo. Entre elas, havia uma menina chamada Dilma. Será que é você? Gostaria muito de reencontrar essas amigas antes de morrer. Por isso procuro cada uma delas. Por favor, responda-me".
Dilma Rousseff parou por um momento, desconcertada. Pensou e disse: "Não tinha outra Dilma em São Paulo. Era eu, sim. Vamos conversar depois da entrevista".
Após a sabatina, conversaram um pouco. Logo Dilma saiu e Lucia, mãe do crítico de teatro da Folha, Sérgio Salvia Coelho, sorria. Dizia se sentir aliviada com o reencontro. Ela foi presa pelo regime militar por pertencer a uma organização clandestina de esquerda, cujo nome diz não recordar.
Lucia, que se diz eleitora do presidente Lula, "embora ele não seja suficientemente de esquerda", guarda boas recordações da ministra.
"Ela tentava mostrar o valor de todas as opiniões", conta Lucia, professora da USP. "É muito inteligente, como mostrou hoje, e era a mais reservada. Hoje me esparramei, ela é mais contida."
Ela diz se orgulhar da ministra. "Acho que a única que teve sucesso foi a Dilma. Pelo que eu soube, as famílias das outras se desestruturaram. Eu só tive problemas profissionais."
Dilma participou de organizações de esquerda, da luta armada e ficou presa entre 1970 e 1972. Foi torturada por 22 dias, segundo depoimento ao projeto Brasil Nunca Mais. Só recuperou os direitos políticos em 1979, com a Lei de Anistia.


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