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Foco
Após 36 anos, ministra revê companheira de cela em prisão da ditadura
DA REPORTAGEM LOCAL
A sabatina da Folha foi palco de um reencontro após 36
anos. Quando a sessão foi
aberta para questões da platéia, a psicóloga Lucia Salvia
Coelho, 70, fez a seguinte pergunta à ministra da Casa Civil:
"Em agosto de 1971, eu estava presa no DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] com mais 11 companheiras. O convívio com elas me
marcou profundamente, de
modo positivo. Entre elas, havia uma menina chamada Dilma. Será que é você? Gostaria
muito de reencontrar essas
amigas antes de morrer. Por
isso procuro cada uma delas.
Por favor, responda-me".
Dilma Rousseff parou por
um momento, desconcertada.
Pensou e disse: "Não tinha outra Dilma em São Paulo. Era
eu, sim. Vamos conversar depois da entrevista".
Após a sabatina, conversaram um pouco. Logo Dilma
saiu e Lucia, mãe do crítico de
teatro da Folha, Sérgio Salvia
Coelho, sorria. Dizia se sentir
aliviada com o reencontro. Ela
foi presa pelo regime militar
por pertencer a uma organização clandestina de esquerda,
cujo nome diz não recordar.
Lucia, que se diz eleitora do
presidente Lula, "embora ele
não seja suficientemente de
esquerda", guarda boas recordações da ministra.
"Ela tentava mostrar o valor
de todas as opiniões", conta
Lucia, professora da USP. "É
muito inteligente, como mostrou hoje, e era a mais reservada. Hoje me esparramei, ela é
mais contida."
Ela diz se orgulhar da ministra. "Acho que a única que teve
sucesso foi a Dilma. Pelo que
eu soube, as famílias das outras se desestruturaram. Eu só
tive problemas profissionais."
Dilma participou de organizações de esquerda, da luta armada e ficou presa entre 1970
e 1972. Foi torturada por 22
dias, segundo depoimento ao
projeto Brasil Nunca Mais. Só
recuperou os direitos políticos
em 1979, com a Lei de Anistia.
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