|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Carta tem "custo" político de 1.609 novos municípios
Dados da Secretaria do Tesouro Nacional mostram que os
gastos dessas prefeituras são 25% maiores que receitas
Outros 806 municípios esperam a aprovação em 24 Estados; se fossem criados, Brasil teria 6.371 cidades e cerca de 59 mil vereadores
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Vinte anos e 1.288 novos municípios depois, a Constituição
de 1988 continua dando margem à proliferação de mais cidades independentes no Brasil,
com todo o custo envolvido para manter prefeitos, secretários, vereadores e estruturas
administrativas.
As Assembléias Legislativas
de 24 Estados do país têm hoje
pelo menos 806 pedidos para a
criação de novos municípios,
segundo a CNM (Confederação
Nacional dos Municípios). Se
fossem aprovados, o Brasil passaria a ter 6.371 cidades e cerca
de 59 mil vereadores.
Segundo levantamento do
Iedi (Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial), boa parte das prefeituras
já existentes no país tem um
"custo político" apenas suportável pelo fato de receberem repasses de verbas da União.
De acordo com o estudo, feito
com base em dados oficiais enviados por 5.000 municípios à
STN (Secretaria do Tesouro
Nacional), existem no Brasil
1.609 prefeituras que têm um
"custo político" superior a 25%
de suas receitas líquidas.
Entram no chamado "custo
político" calculado pelo Iedi os
seguintes itens: o total de gastos com o Legislativo; despesas
relacionadas ao Judiciário;
30% dos gastos administrativos, incluindo salários de prefeitos, secretários e funções comissionadas; e 10% da despesa
com "encargos especiais".
O total desses gastos foi contraposto à receita total das cidades. Ela inclui todos os impostos cobrados (como IPTU,
ISS etc.) e as transferências diretas da União. Não foram consideradas receitas e transferências "carimbadas", como os repasses para saúde e educação.
Novos municípios
A criação desses 806 novos
municípios (a maioria de distritos ou bairros que querem
emancipação) está nas mãos do
Congresso. Ele deve regulamentar até novembro a Emenda Constitucional 15, de 1996,
que suspendeu a prerrogativa
dada aos Estados pela Constituição de 1988 de autorizar ou
não a criação de novas cidades.
Mesmo após a Emenda 15,
houve a emancipação de 57
municípios, agora ameaçados
de extinção pelo Supremo Tribunal Federal caso não haja regulamentação até novembro.
Mas o plenário do Senado espera apreciar antes disso projeto finalizado na CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça), que
estabelecerá as novas regras
para a criação de municípios.
Pelos critérios do projeto, a
população necessária para um
município se candidatar à
emancipação deve ser, no momento de sua criação, de 10 mil
habitantes, no mínimo, nas regiões Nordeste e Centro-Oeste,
5.000 na região Norte e 15 mil
nas regiões Sudeste e Sul.
No caso dos 57 criados entre
1996 e 2007, eles ficariam mantidos desde que as prefeituras e
as Câmaras Municipais estejam empossadas e funcionando
regularmente.
Segundo estimativas da
CNM, se a regra já estivesse em
vigor entre 1996 e 2006, apenas
103 dos 590 municípios (17,5%)
emancipados no período teriam condições de se tornar independentes.
"Tendência mundial"
Paulo Ziulkoski, presidente
da CNM, não concorda com a
nova regra e sustenta que os ganhos em qualidade de vida,
principalmente nas áreas de
saúde e educação, foram "enormes" nas regiões emancipadas.
"A descentralização administrativa é uma tendência mundial. Os EUA têm 156 mil unidades locais. A França, 50 mil.
O problema no Brasil é outro: a
indústria do emprego público."
Ziulkoski diz, por exemplo,
que os tetos de gastos permitidos com os poderes legislativos
municipais no Brasil são muito
elevados, o que daria margem a
desperdícios. No caso dos municípios de até 100 mil habitantes, o teto equivale a até 8% da
receita tributária bruta.
No caso específico do Estado
de São Paulo, a Constituição de
1988 provocou um aumento de
13% no número de novos municípios, de 571 para 645.
Para Marcos Monti, presidente da APM (Associação
Paulista de Municípios), "o Estado teve critério e houve muitas melhoras com as emancipações, que sempre foram analisadas pela Secretaria de Planejamento do Estado".
Texto Anterior: Seria mais difícil governar se PT tivesse feito Carta, diz Lula Próximo Texto: Artigo: Perdas e ganhos 20 anos depois Índice
|