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PF vê indício de caixa dois no MA em 2006
Diálogo envolvendo nora de Sarney é base da suspeita da polícia; mesmo sem empregados, factoring movimentou R$ 11,6 milhões
Na sexta, Fernando Sarney atribuiu as acusações a "interesses políticos"; ele não comentou as suspeitas sobre lavagem de dinheiro
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Um diálogo entre Teresa Sarney e uma mulher não identificada é apontado no relatório da
Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, como um dos principais indícios de que a família
do empresário Fernando Sarney utilizou uma factoring para
formar um caixa dois supostamente empregado na campanha de 2006.
De propriedade de Teresa,
mulher de Fernando, a São
Luiz Factoring não tem nenhum empregado registrado
nem linha telefônica, mas movimentou R$ 11,6 milhões naquele ano.
Conforme a Folha publicou
em janeiro, a PF iniciou as investigações do caso a partir do
rastreamento de saques em dinheiro vivo de R$ 3,5 milhões
feitos de empresas da família
Sarney no período eleitoral de
2006. Desse valor, Fernando
sacou R$ 2 milhões nos dias 25
e 26 de outubro -três dias antes do segundo turno.
Em escuta autorizada pela
Justiça, a PF captou, no dia 10
de janeiro, por volta das 20h,
uma conversa entre a mulher
de Fernando Sarney e uma mulher não identificada com referência a reportagem publicada
naquele dia.
O diálogo diz o seguinte:
MNI (Mulher não identificada): "Tu já olhou alguma coisa
na internet a respeito da família Sarney?"
Teresa: "Vi, meu nome tá lá."
MNI: "Que doidice é essa?"
Teresa: "Aquele dinheiro que
a gente sacava na época da
campanha."
MNI: "Da campanha, né?"
Teresa: "Ahã."
Fernando é filho do senador
José Sarney (PMDB-AP) e irmão da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) e do deputado Sarney Filho (PV-MA). A
suspeita dos policiais é que o
dinheiro do suposto caixa dois
tenha sido usado na campanha
de Roseana ao governo do Estado, quando disputou e perdeu a eleição para Jackson Lago (PDT).
Na sexta-feira, Fernando
Sarney disse ser um homem do
setor privado e atribuiu as acusações a "interesses políticos".
Na ocasião, ele não quis se manifestar sobre as suspeitas de
lavagem de dinheiro alegando
não ter tido acesso ao inquérito
policial. A Folha não conseguiu localizá-lo ontem.
De acordo com a PF, a São
Luiz Factoring foi criada para
acobertar a movimentação de
recursos do grupo Mirante
(principal negócio da família
Sarney) com a provável finalidade de "sonegação tributária
e/ou formação de caixa dois".
Pagamentos
A empresa funciona no mesmo endereço da TV Mirante e é
operada por Luzia Campos de
Souza, funcionária do grupo, de
confiança de Fernando Sarney.
A Polícia Federal descreve vários pagamentos e tarefas pessoais realizadas por Luzia a
mando de Fernando.
A polícia rastreou 23 cheques
da factoring para Maria Raimunda Campos Barbosa, irmã
de Luzia, no valor somado de
R$ 351 mil. Todos foram sacados em dinheiro na boca do caixa, entre 2005 e 2006.
"A mesma [Maria Raimunda]
não ostenta status social compatível com tal movimentação,
evidenciando que a mesma
também pode ter sido usada como laranja do grupo", escreveram os policiais.
"Outro ponto suspeito" levantado pela PF foi a identificação de centenas de depósitos
em espécie em favor da São
Luiz, o que não é compatível
com a atuação de uma factoring, segundo a PF.
Os policiais
constataram também "grande
quantidade de cheques" da
Gráfica Escolar e da Televisão
Mirante (ambas da família Sarney) para a São Luiz, alguns de
valor superior a R$ 200 mil.
"Tal situação pode configurar, ainda, a mera troca de cheques, o que é vedado para [uma]
factoring, uma vez que os títulos de créditos vendidos a factoring devem ser embasados
em operações oriundas da atividade comercial da empresa
cedente dos créditos."
Conforme a Folha publicou
ontem, no inquérito da Operação Boi Barrica a PF acusa Fernando Sarney de tráfico de influência no Ministério de Minas e Energia, na Eletrobrás, na
Eletronorte, na Valec (estatal
do Ministério dos Transportes
responsável pela construção da
Ferrovia Norte-Sul) e na Caixa
Econômica Federal, para favorecer negócios privados.
Segundo a PF, Fernando Sarney e sua família montaram
uma rede de lavagem de dinheiro, em alguns dos casos
com a utilização de prováveis
laranjas, pela qual movimentaram nos últimos três anos mais
de R$ 10 milhões irregularmente. O principal braço do esquema, de acordo com os policiais, é a São Luiz Factoring.
Colaborou ELVIRA LOBATO , da Sucursal do Rio
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