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SÃO PAULO
Jogado à própria sorte, Alckmin enfrenta Serra e expõe racha no PSDB
Apesar de Serra ter colaborado com captação de recursos, seus aliados não se dedicaram à candidatura tucana, e sim à do DEM
Um dos erros de Alckmin foi buscar apoio de Aécio, que, como Serra, quer disputar a sucessão de Lula; gesto afastou governador de SP
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
No dia 3 de junho do ano passado, Geraldo Alckmin, 55, retornava de uma curta temporada nos EUA, onde fora estudar
administração pública. No aeroporto, um grupo de correligionários o recebeu aos gritos
de "prefeito". Entre eles, não
havia um único homem de confiança do primeiro escalão do
governo José Serra (PSDB).
Começava ali uma novela repleta de erros, idas e vindas que
culminariam no maior cisma
do PSDB paulista, partido que
chega hoje, 20 anos completos,
às eleições municipais de São
Paulo praticamente com dois
candidatos: Alckmin, que acabaria se impondo no processo
interno, e Gilberto Kassab
(DEM), o atual prefeito, vice de
Serra até março de 2006.
Era um "recado" claro do governador de que, naquela altura, seu grupo trabalhava com a
construção de uma candidatura Kassab à reeleição. Mais do
que isso: parte dos "serristas" já
havia decidido "esvaziar politicamente" Alckmin.
Hoje, tucanos afirmam que,
se Serra tivesse insistido na
oferta de um projeto que incluísse sua candidatura ao governo do Estado em 2010, o que
passaria pela presidência nacional do PSDB, Alckmin talvez
tivesse desistido da disputa pela prefeitura.
Alckmin imaginou que, em
2010, os serristas trabalhariam
com outro nome, afora a possibilidade de o próprio Serra concorrer à reeleição. Além disso,
repetia que, como líder nas pesquisas para 2010, não precisaria de apoio para ser candidato
a governador.
No início do ano, o entorno
de Alckmin o convenceu de que
sua sobrevivência política dependia da candidatura.
Semanas antes do retorno ao
Brasil, Serra e Alckmin haviam
se encontrado nos EUA. Alckmin jura ter recebido de Serra a
garantia de que seria o candidato do PSDB se quisesse -o que
é apontado por serristas como
um erro do governador.
Apesar de Serra ter colaborado com a captação de recursos e
autorizado a participação de
secretários na campanha, seus
aliados -muitos deles saídos
da equipe de Kassab- não se
dedicaram à candidatura.
Acusando Alckmin de personalista, serristas chegaram a
sugerir que o governador o enfrentasse na convenção. Hoje,
culpam Serra por omissão.
Apoiar Kassab tinha dois objetivos: amarrar o DEM a uma
possível candidatura Serra a
presidente e enfraquecer deputados alckmistas, adversários
de serristas no Estado.
Os secretários Aloysio Nunes
Ferreira (Casa Civil) e Alberto
Goldman (Desenvolvimento)
foram determinantes nesse
movimento.
Do lado de Alckmin, Edson
Aparecido, Silvio Torres, José
Aníbal e Julio Semeghini, todos
deputados federais e sem participação significativa nas máquinas do Estado e da prefeitura, trabalharam pela candidatura própria do PSDB.
De junho até o final de 2007,
os dois lados mantiveram canais de comunicação abertos.
Neste ano, foram pelo menos
três encontros reservados entre Alckmin e Kassab.
Mas o fraco desempenho de
Kassab nas pesquisas, aliado
aos bons índices de Alckmin,
credenciava a candidatura do
PSDB, enquanto o DEM reivindicava a legitimidade da reeleição do prefeito.
Fator Minas
Sem o apoio explícito de Serra, Alckmin buscou, em Minas,
o governador Aécio Neves, que
também sonha disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PSDB.
Recebido como tentativa de
pressão, o gesto afastou ainda
mais Serra de Alckmin e é considerado um dos erros cruciais
da campanha do PSDB.
Nos meses de maio e junho e
sob a liderança de vereadores e
secretários municipais, os tucanos kassabistas se prepararam para o confronto na convenção do partido.
A 21 dias da convenção, a Folha revelou que os defensores
do prefeito já tinham assinaturas necessárias para inscrever a
chapa alternativa.
Mas, na véspera da convenção, a pedido de Serra, Nunes
Ferreira chamou os vereadores
em sua casa para pedir que desistissem do embate.
"Se vencermos, vamos ter de
carregar o corpo durante a eleição", teria dito.
O cálculo era que, se Alckmin
não fosse candidato e Kassab
fosse derrotado pela petista
Marta Suplicy, a conta seria cobrada de Serra e seu grupo.
Também surgiu a tese de
que, se Kassab enfrentasse
Alckmin no primeiro turno,
poderia ganhar "musculatura"
para vencer Marta no segundo
turno. Diante do diagnóstico,
Serra teria decretado: "Vamos
vencer o Geraldo no voto".
Alckmin foi escolhido candidato, mas, quando a campanha
começou, em julho, ele estava
sem um discurso definido, de
situação ou oposição. A única
certeza: o racha consolidado.
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