São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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SÃO PAULO

Jogado à própria sorte, Alckmin enfrenta Serra e expõe racha no PSDB

Apesar de Serra ter colaborado com captação de recursos, seus aliados não se dedicaram à candidatura tucana, e sim à do DEM

Um dos erros de Alckmin foi buscar apoio de Aécio, que, como Serra, quer disputar a sucessão de Lula; gesto afastou governador de SP

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA

DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 3 de junho do ano passado, Geraldo Alckmin, 55, retornava de uma curta temporada nos EUA, onde fora estudar administração pública. No aeroporto, um grupo de correligionários o recebeu aos gritos de "prefeito". Entre eles, não havia um único homem de confiança do primeiro escalão do governo José Serra (PSDB).
Começava ali uma novela repleta de erros, idas e vindas que culminariam no maior cisma do PSDB paulista, partido que chega hoje, 20 anos completos, às eleições municipais de São Paulo praticamente com dois candidatos: Alckmin, que acabaria se impondo no processo interno, e Gilberto Kassab (DEM), o atual prefeito, vice de Serra até março de 2006.
Era um "recado" claro do governador de que, naquela altura, seu grupo trabalhava com a construção de uma candidatura Kassab à reeleição. Mais do que isso: parte dos "serristas" já havia decidido "esvaziar politicamente" Alckmin.
Hoje, tucanos afirmam que, se Serra tivesse insistido na oferta de um projeto que incluísse sua candidatura ao governo do Estado em 2010, o que passaria pela presidência nacional do PSDB, Alckmin talvez tivesse desistido da disputa pela prefeitura.
Alckmin imaginou que, em 2010, os serristas trabalhariam com outro nome, afora a possibilidade de o próprio Serra concorrer à reeleição. Além disso, repetia que, como líder nas pesquisas para 2010, não precisaria de apoio para ser candidato a governador.
No início do ano, o entorno de Alckmin o convenceu de que sua sobrevivência política dependia da candidatura.
Semanas antes do retorno ao Brasil, Serra e Alckmin haviam se encontrado nos EUA. Alckmin jura ter recebido de Serra a garantia de que seria o candidato do PSDB se quisesse -o que é apontado por serristas como um erro do governador.
Apesar de Serra ter colaborado com a captação de recursos e autorizado a participação de secretários na campanha, seus aliados -muitos deles saídos da equipe de Kassab- não se dedicaram à candidatura.
Acusando Alckmin de personalista, serristas chegaram a sugerir que o governador o enfrentasse na convenção. Hoje, culpam Serra por omissão.
Apoiar Kassab tinha dois objetivos: amarrar o DEM a uma possível candidatura Serra a presidente e enfraquecer deputados alckmistas, adversários de serristas no Estado.
Os secretários Aloysio Nunes Ferreira (Casa Civil) e Alberto Goldman (Desenvolvimento) foram determinantes nesse movimento.
Do lado de Alckmin, Edson Aparecido, Silvio Torres, José Aníbal e Julio Semeghini, todos deputados federais e sem participação significativa nas máquinas do Estado e da prefeitura, trabalharam pela candidatura própria do PSDB.
De junho até o final de 2007, os dois lados mantiveram canais de comunicação abertos. Neste ano, foram pelo menos três encontros reservados entre Alckmin e Kassab.
Mas o fraco desempenho de Kassab nas pesquisas, aliado aos bons índices de Alckmin, credenciava a candidatura do PSDB, enquanto o DEM reivindicava a legitimidade da reeleição do prefeito.

Fator Minas
Sem o apoio explícito de Serra, Alckmin buscou, em Minas, o governador Aécio Neves, que também sonha disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PSDB.
Recebido como tentativa de pressão, o gesto afastou ainda mais Serra de Alckmin e é considerado um dos erros cruciais da campanha do PSDB.
Nos meses de maio e junho e sob a liderança de vereadores e secretários municipais, os tucanos kassabistas se prepararam para o confronto na convenção do partido.
A 21 dias da convenção, a Folha revelou que os defensores do prefeito já tinham assinaturas necessárias para inscrever a chapa alternativa.
Mas, na véspera da convenção, a pedido de Serra, Nunes Ferreira chamou os vereadores em sua casa para pedir que desistissem do embate.
"Se vencermos, vamos ter de carregar o corpo durante a eleição", teria dito.
O cálculo era que, se Alckmin não fosse candidato e Kassab fosse derrotado pela petista Marta Suplicy, a conta seria cobrada de Serra e seu grupo.
Também surgiu a tese de que, se Kassab enfrentasse Alckmin no primeiro turno, poderia ganhar "musculatura" para vencer Marta no segundo turno. Diante do diagnóstico, Serra teria decretado: "Vamos vencer o Geraldo no voto".
Alckmin foi escolhido candidato, mas, quando a campanha começou, em julho, ele estava sem um discurso definido, de situação ou oposição. A única certeza: o racha consolidado.


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