São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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LEGISLATIVO

Disputa em SP tem menos candidatos que em 2004

Participação das mulheres cresce em relação à última eleição para a Câmara

O nível de escolaridade dos candidatos diminuiu; o total de concorrentes sem ensino superior também subiu de 43% para 46,7%

DIEGO BRAGA NORTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em comparação com as eleições municipais de 2004, a atual disputa por uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo tem menos concorrentes, mais mulheres e candidatos com um nível de escolaridade menor, segundo levantamento feito pela Folha a partir de informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O número de candidatos a vereador caiu 10,6% em relação a 2004. Hoje são 1.077, enquanto quatro anos atrás 1.205 pessoas concorreram a uma das 55 vagas na Câmara. Para o cientista político e professor do Ibmec-SP Carlos Melo, a diminuição pode ser conseqüência dos recentes casos de caixa dois de campanha. "Eu tenho uma hipótese.
Tivemos uma série de escândalos recentes em relação aos financiamentos de campanha. Me parece que hoje é mais difícil conseguir financiamento, aumentou a fiscalização. Isso pode ter contribuído para essa retração de cerca de 10%."
Outra mudança que os números apontam é o aumento da proporção das mulheres no pleito. Em 2004, elas representavam 19,4% dos candidatos, hoje alcançam 23,3%. Finn Andersen, coordenador-geral da ONG Voto Consciente, afirma que o aumento das candidatas não é um fato isolado.
"Há um crescimento da participação das mulheres em praticamente todas as áreas, a política segue a tendência. Isso é notado no Brasil todo, em cargos legislativos e executivos." O grau de escolaridade dos candidatos também diminuiu. O total de concorrentes sem ensino superior subiu de 43% para 46,7%. Já no ensino médio, há quatro anos, 20,7% declaravam ter completado esse nível escolar.
Hoje, o percentual está em 26,8%. "Isso [ter ensino superior completo] não é condição "sine qua non" para se fazer uma boa legislatura ou um bom governo. Temos um presidente da República que não tem grau superior e está sendo bem avaliado. Por outro lado, não dá para dizer que os candidatos que têm melhor formação estão abandonando a opção política, pois o superior completo manteve-se estável [44,32% em 2004 e 44,3% em 2008]", pondera Melo.

Patrimônio
A soma do patrimônio que os candidatos a vereador declararam no registro das candidaturas supera a marca dos R$ 325 milhões. No entanto, o montante é dividido de forma desigual. Os 42 candidatos (3,9%) que disseram possuir patrimônio igual ou superior a R$ 1 milhão detêm 65,3% do total. "Por esses dados, não podemos dizer que política é uma atividade só para os ricos, já que eles compõem a minoria dos candidatos.
O fato, aparentemente, poderia levar à conclusão de que o poder político não passa necessariamente pelo poder econômico, mas é prematuro afirmar, pois devemos ver como será a composição da nova Câmara", diz Melo. Há ainda outras maneiras de enxergar a distribuição desigual.
Andersen afirma que "há uma relação direta entre a candidatura e a possibilidade de arcar com os custos da campanha. Geralmente, não é regra, as pessoas com maior patrimônio e renda têm uma facilidade maior para se candidatarem.
As pessoas que têm pouco patrimônio e baixa renda hoje acabam tendo mais suporte dos partidos e das coligações. Isso é bom, é democrático". Mais de um quarto dos candidatos, 27,11%, disse que não tem bens a declarar à Justiça Eleitoral. Entre eles está o apresentador Sérgio Mallandro.
Apesar de ostentar em seu site o "sucesso astronômico" de seus discos e o "estouro de audiência" de seus programas na TV, o candidato do PTB declarou ao TSE não possuir bens. "Meus bens são a natureza, a alegria, o sorriso das pessoas.
Minha maior riqueza é o amor do povo. O que eu tive eu doei, cara. Eu nunca liguei muito pra grana", disse Mallandro. Na outra ponta, o candidato mais rico de São Paulo e do Brasil, o empresário Oscar Maroni (PT do B), declarou: "Eu sou o mais rico do Brasil porque eu declarei meu Imposto de Renda na íntegra.
Faz um ano e meio que não entra um tostão na minha conta bancária, estou praticamente quebrando. Estou com uma cobertura com quatro ou cinco meses de condomínio atrasado". Questionado sobre o patrimônio dos demais candidatos, Maroni respondeu com ironia.
"Tem candidatos aí que já têm mandatos e dizem que têm R$ 10 mil. E eu digo: "ha, ha, ha". É uma agressão para um cara inteligente como o brasileiro."
Colaborou NATALIE CATUOGNO CONSANI



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