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GOVERNO MINADO
Ex-secretário afirma que Dirceu foi contra a sua nomeação
Luiz Eduardo acusa petistas de fazer escuta clandestina
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo
Soares cobrou ontem do PT um
posicionamento a respeito do que
chama de "práticas ditatoriais",
que teriam sido cometidas contra
ele por petistas ligados à secretaria e levado ao seu pedido de demissão do cargo. Luiz Eduardo cita a escuta clandestina de suas
conversas e um dossiê contendo
supostas irregularidades que teriam sido cometidas por ele.
"Dossiê apócrifo é um método
aceitável de operação política? Isso, que era típico da ditadura e de
setores fisiológicos de governos
mais conservadores, pode continuar sendo uma prática no governo do PT? Quero que o presidente
do partido, José Genoino, se pronuncie. O PT deve ser claro que é
contrário a métodos predatórios
stalinistas", afirmou o sociólogo,
em entrevista à Folha.
Luiz Eduardo também atacou o
ministro da Casa Civil, José Dirceu, que estaria por trás de sua
"fritura" no governo. Disse que
Dirceu foi contra a sua nomeação
para o cargo, por não ter se dedicado à campanha pela reeleição
da então governadora do Rio, Benedita da Silva, hoje ministra da
Assistência Social. O ex-secretário
disse que, num encontro com o
ministro em 2002, o então deputado Marcos Rolim (PT-RS) perguntou qual seria a função de Luiz
Eduardo no governo.
"Ele [Dirceu] disse: "Se depender de mim, nenhuma, porque ele
boicotou a campanha da Benedita
no Rio". Isso é inaceitável. Desde
aquele momento, ele já mostrava
uma interpretação negativa em
relação a mim, uma má vontade",
afirmou o ex-secretário.
Um dossiê apócrifo com denúncias contra Luiz Eduardo, divulgado há duas semanas, teria sido um dos motivos que provocaram sua saída do governo. O documento traz supostas denúncias
de superfaturamento na compra
de automóveis, distribuição irregular de diárias e passagens aéreas e favorecimento do município de Canoas (RS) com recursos
públicos.
Soares pediu demissão do cargo
depois que veio a público a informação de que contratara a atual
mulher, Miriam Krezengier
Azambuja Guindani, e a ex-mulher, Bárbara Soares.
As intrigas envolveriam ainda
uma tentativa de escuta ilegal. Um
funcionário do ministério lhe
contou que se recusara a gravar
clandestinamente uma entrevista
sua ao jornal americano "Washington Post". "Ele me disse que
essa ordem partiria de funcionários da burocracia do ministério,
mas que ele não iria compactuar
com essa canalhice", afirmou.
O ex-secretário não revela os
nomes dos dois funcionários da
secretaria que lhe teriam prejudicado, alegando que só tem provas
testemunhais contra os dois.
O dossiê, afirmou o ex-secretário, teria sido montado por um
funcionário da própria Secretaria
Nacional de Segurança Pública,
que estaria interessado em beneficiar um banco estrangeiro na elaboração do cadastro único de
identificação civil.
Em troca de um empréstimo
com pagamento a longo prazo e
juros menores, o banco indicaria
as empresas que seriam beneficiadas, num "processo licitatório viciado", segundo Soares.
"Esse é um projeto de bilhões de
dólares. Fui contra a indicação do
banco e indiquei o IME [Instituto
Militar de Engenharia] para fazer
o projeto", afirmou.
Soares acusou ainda outra funcionária da secretaria, ligada ao
PT, de estar por trás das intrigas
que levaram à sua demissão. Ela
estaria insatisfeita com o fato de
ele não estar favorecendo administrações petistas com recursos
do Fundo Nacional de Segurança.
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