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São Paulo, quarta-feira, 05 de novembro de 2003

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GOVERNO MINADO

Ex-secretário afirma que Dirceu foi contra a sua nomeação

Luiz Eduardo acusa petistas de fazer escuta clandestina

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares cobrou ontem do PT um posicionamento a respeito do que chama de "práticas ditatoriais", que teriam sido cometidas contra ele por petistas ligados à secretaria e levado ao seu pedido de demissão do cargo. Luiz Eduardo cita a escuta clandestina de suas conversas e um dossiê contendo supostas irregularidades que teriam sido cometidas por ele.
"Dossiê apócrifo é um método aceitável de operação política? Isso, que era típico da ditadura e de setores fisiológicos de governos mais conservadores, pode continuar sendo uma prática no governo do PT? Quero que o presidente do partido, José Genoino, se pronuncie. O PT deve ser claro que é contrário a métodos predatórios stalinistas", afirmou o sociólogo, em entrevista à Folha.
Luiz Eduardo também atacou o ministro da Casa Civil, José Dirceu, que estaria por trás de sua "fritura" no governo. Disse que Dirceu foi contra a sua nomeação para o cargo, por não ter se dedicado à campanha pela reeleição da então governadora do Rio, Benedita da Silva, hoje ministra da Assistência Social. O ex-secretário disse que, num encontro com o ministro em 2002, o então deputado Marcos Rolim (PT-RS) perguntou qual seria a função de Luiz Eduardo no governo.
"Ele [Dirceu] disse: "Se depender de mim, nenhuma, porque ele boicotou a campanha da Benedita no Rio". Isso é inaceitável. Desde aquele momento, ele já mostrava uma interpretação negativa em relação a mim, uma má vontade", afirmou o ex-secretário.
Um dossiê apócrifo com denúncias contra Luiz Eduardo, divulgado há duas semanas, teria sido um dos motivos que provocaram sua saída do governo. O documento traz supostas denúncias de superfaturamento na compra de automóveis, distribuição irregular de diárias e passagens aéreas e favorecimento do município de Canoas (RS) com recursos públicos.
Soares pediu demissão do cargo depois que veio a público a informação de que contratara a atual mulher, Miriam Krezengier Azambuja Guindani, e a ex-mulher, Bárbara Soares.
As intrigas envolveriam ainda uma tentativa de escuta ilegal. Um funcionário do ministério lhe contou que se recusara a gravar clandestinamente uma entrevista sua ao jornal americano "Washington Post". "Ele me disse que essa ordem partiria de funcionários da burocracia do ministério, mas que ele não iria compactuar com essa canalhice", afirmou.
O ex-secretário não revela os nomes dos dois funcionários da secretaria que lhe teriam prejudicado, alegando que só tem provas testemunhais contra os dois.
O dossiê, afirmou o ex-secretário, teria sido montado por um funcionário da própria Secretaria Nacional de Segurança Pública, que estaria interessado em beneficiar um banco estrangeiro na elaboração do cadastro único de identificação civil.
Em troca de um empréstimo com pagamento a longo prazo e juros menores, o banco indicaria as empresas que seriam beneficiadas, num "processo licitatório viciado", segundo Soares.
"Esse é um projeto de bilhões de dólares. Fui contra a indicação do banco e indiquei o IME [Instituto Militar de Engenharia] para fazer o projeto", afirmou.
Soares acusou ainda outra funcionária da secretaria, ligada ao PT, de estar por trás das intrigas que levaram à sua demissão. Ela estaria insatisfeita com o fato de ele não estar favorecendo administrações petistas com recursos do Fundo Nacional de Segurança.


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