DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O tom duro adotado por José Viegas em sua carta de demissão do Ministério da Defesa provocou ressentimento e preocupação em parte da cúpula do Exército. Os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica silenciaram ontem e não se pronunciaram sobre a renúncia do diplomata.
A mudança na pasta da Defesa, que será assumida pelo vice-presidente José Alencar na segunda-feira, pegou de surpresa as três Forças, principalmente porque as cúpulas militares julgavam encerrado o episódio da nota divulgada pelo Exército há duas semanas, na qual a Força considera "legítimas" as formas de repressão política utilizadas no regime militar. Por ordem do presidente Lula, o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, divulgou nova nota lamentando a morte de Vladimir Herzog.
Na carta em que pede demissão, Viegas considera que a primeira nota do Exército representa "a persistência de um pensamento autoritário, ligado aos remanescentes da velha e anacrônica doutrina da segurança nacional". E exorta: "Já é hora de os representantes desse pensamento ultrapassado saírem de cena". Foi este o trecho que causou mais preocupação e ressentimento em setores do Exército: preocupação porque teme-se o revanchismo, e ressentimento porque a ala conservadora julga estar correta na sua avaliação sobre a ditadura.
Nos bastidores, a mudança na Defesa foi considerada "política" pelas cúpulas. Para Marinha e Aeronáutica, não há motivos para comentários oficiais ou mudanças -a máquina continuará funcionando.
O Exército, que ainda resiste a abrir arquivos, avaliou que Lula jogou duro. E que vai levar a cabo a divulgação dos papéis, como tem sinalizado. Abaixo do presidente, que é o comandante-em-chefe das Forças Armadas, apenas Alencar possui tanta autoridade sobre os militares -uma das principais dificuldades de Viegas no cargo.
(IURI DANTAS)


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