|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO MILITAR
Após convocação "irrecusável", Alencar terá o objetivo de buscar um entendimento com as Forças Armadas
Viegas sai magoado com Lula; autoridade do vice definiu troca
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A escolha do vice-presidente José Alencar para ministro da Defesa foi justificada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva como
forma de nomear uma pessoa
com "autoridade inquestionável"
para comandar as Forças Armadas. Segundo um interlocutor do
presidente, ao mesmo tempo em
que prestigia os militares, colocando o vice na Defesa, Lula diz
que não quer que ocorram novas
tentativas de "atropelar" o ministro, como aconteceu com José
Viegas. Viegas deixa o governo irritado com o Exército e magoado
com o presidente Lula.
Convidado em conversa na última terça-feira, Alencar terá como
missão, além de acalmar as Forças
Armadas após a crise provocada
pela nota do Exército defendendo
o golpe militar de 1964, negociar a
abertura de arquivos da ditadura.
A disposição do vice é buscar
um entendimento com os três comandantes, mas comentou com
interlocutores que não tem perfil
para ser "Quintão nem Viegas", se
referindo a dois antecessores.
Geraldo Quintão, nomeado pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002), foi colocado no posto para fazer figuração.
Já Viegas, que tentou se impor, foi
queimado pelos militares. Alencar aceitou porque Lula lhe fez
uma "convocação irrecusável".
O vice contou a interlocutores
que não tinha como recusar, mas
no início do governo viu problemas em assumir um ministério.
"Imaginem o presidente sendo
obrigado a demitir o vice", disse a
amigos na ocasião, quando foi cotado para assumir o Ministério do
Desenvolvimento ou da Defesa.
No meio militar, a avaliação é
que o vice não ficará em definitivo
na pasta. Será nomeado como titular, mas deverá permanecer até
que conclua a missão que o presidente lhe delegou. Essa possibilidade é negada pelo governo, mas
foi ouvida pela Folha inclusive
dentro do Palácio do Planalto.
Conservador e de temperamento "mandão", Alencar é tido por
Lula como alguém capaz de dialogar, mas também de se impor aos
militares. Pesou favoravelmente à
sua escolha o bom relacionamento que mantém com o comandante do Exército, Francisco Albuquerque, pivô da crise que derrubou Viegas. As mulheres de Alencar e Albuquerque são amigas.
Viegas contra Exército
Viegas defendia a demissão do
comandante do Exército. Sua
principal queixa era a de que o general não obedecia a suas ordens e
tinha linha direta com a Presidência por meio do senador Aloizio
Mercadante (PT-SP) e do ministro Luiz Gushiken (Comunicação
de Governo). Assessores do ministro demissionário comentam
que em nenhum momento Viegas acreditou na versão de Albuquerque -a de que ele não conhecia o teor da nota divulgada.
A nota foi publicada pela imprensa no dia 17 de outubro em
resposta a uma reportagem do
jornal "Correio Braziliense" que
trazia fotos de um homem nu,
identificado como sendo o jornalista Vladimir Herzog, morto em
1975 sob custódia do Exército.
Dois dias depois, o Exército foi
obrigado a se retratar. Viegas queria mais: a demissão de Albuquerque ou, pelo menos, a punição
dos autores da primeira nota.
Não houve punições e Viegas
não conseguiu o que desejava.
Apesar de preservá-lo na nota que
divulgou ontem, Viegas ficou magoado com o comportamento de
Lula. Em sua avaliação, faltou
vontade política para enfrentar
Albuquerque. Já Lula considera
que o ministro não conseguia
controlar seus subordinados.
Ao sentir que o general tinha
mais força do que ele, o ministro
da Defesa decidiu então sair. Ele
tinha a opção de aguardar a reforma ministerial, quando trocaria a
pasta por uma embaixada na Europa. Mas encaminhou sua carta
de demissão no dia 22 para ter a
oportunidade de manifestar já a
sua contrariedade. Aceitou, porém, pedido de Lula para esperar
o fim das eleições municipais,
quando ele buscaria um nome.
Lula não tem a intenção de afastar Albuquerque. O próprio comandante, porém, já teria manifestado seu desejo de deixar o cargo no próximo ano para assumir
uma posição militar na ONU.
Texto Anterior: Carta de Viegas deixa militares preocupados Próximo Texto: Questão militar: Arquivos do regime serão problema para vice Índice
|