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Discussão sobre
salários gerou
atritos na pasta
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Os atritos entre o ministro José
Viegas (Defesa) e os comandantes
das Forças Armadas (Marinha,
Exército e Aeronáutica) ganharam destaque em abril deste ano,
com a discussão do reajuste salarial dos militares.
Na Defesa, porém, o início das
discordâncias remonta ao primeiro semestre de 2003, quando a
pasta contratou a FGV (Fundação
Getúlio Vargas) para elaborar um
projeto de "reengenharia de gestão das Forças Armadas". Hoje,
ainda em fase de estudo, o projeto
visa retirar dos comandos os processos de licitação para a compra
de alimentos e uniformes.
À época, a atitude da pasta foi
vista pelos militares como afronta
às Forças Armadas, principalmente pelo fato de a coordenação
do projeto estar sob a responsabilidade de Antônio Bogado, homem de confiança de Viegas. Assessores próximos a Viegas dizem
que a presença de um civil no "comando" dos militares trouxe carga óbvia e natural de resistências.
Inegável, porém, foi a discussão
salarial como o principal ponto de
atrito entre os lados. Tudo começou quando mulheres de militares
fizeram uma manifestação em cerimônia de troca da bandeira, na
praça dos Três Poderes. Enfraquecido na ocasião, Viegas era
visto pelos comandos como incapaz de negociar um reajuste digno com o Palácio do Planalto.
A provocação dos militares
veio, em seguida, por meio de
uma nota oficial da Aeronáutica.
Assinado por seu comandante,
brigadeiro Luiz Carlos Bueno, o
texto dizia que a defasagem salarial nas Forças acarretava uma
"possibilidade real de florescer insatisfações sociais".
Foi aí que Viegas reagiu, enviando aos comandantes um ofício no
qual os desautorizava a qualquer
tipo de manifestação sobre os soldos dos militares. Como único interlocutor com o Planalto, ganhou sustentação no cargo e colocou, em julho, um ponto final nos
rumores de sua demissão ao conseguir um reajuste linear de 10% a
partir de setembro.
Um novo capítulo sobre o reajuste, desta vez com um novo ministro à frente das negociações,
deve começar em 2005, pois a
proposta dos militares era de 10%
em 2004 e 23% (mais inflação) no
primeiro trimestre de 2005.
A efervescência dos atritos veio
no mês passado, quando o Exército foi obrigado a se retratar publicamente em relação a uma nota à
imprensa na qual defendeu as
ações de repressão da ditadura
militar (1964-1985).
Feita sob pressão de Viegas e do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a retratação do general Francisco Roberto Albuquerque causou uma onda de descontentamento nas Forças Armadas.
Para alguns, o Exército deveria
ter mantido a primeira nota sob a
tese de que as ações repressivas na
ditadura foram absolutamente
necessárias para conter suposta
onda revolucionária esquerdista.
Já outra corrente entre os militares da reserva critica diretamente o general Albuquerque, na linha de que ele, na condição de comandante da Força, deveria ter
assumido toda a responsabilidade
pelo teor da primeira nota, e não
ter jogado explicitamente a culpa
no Centro de Comunicação Social
do Exército.
(EDUARDO SCOLESE)
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