São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Socióloga vê erro de "desenvolvimentistas"

Cobrar mudança na economia agora foi falta de habilidade política, diz Maria Victoria Benevides, para quem pressão voltará implacável

Professora da USP diz que há "movimentos" para retomar as reuniões regulares entre intelectuais ligados ao PT e integrantes do governo Lula

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para a socióloga da USP Maria Victoria Benevides, a chamada "ala desenvolvimentista" do governo cometeu um erro tático na semana passada ao anunciar o fim da era Palocci -o que foi desautorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ela aposta que o movimento está apenas no começo: "A pressão vai ser impaciente, implacável, muito maior do que no primeiro mandato".
Benevides diz que o erro dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais) foi de timing: "Faltou habilidade. Não é o momento oportuno, quando Lula ainda está vendo o que vai acontecer para montar o governo. A alma sindicalista e negociadora dele aí pesa muito", diz.
A socióloga afirma, porém, que tanto a esquerda petista e os intelectuais quanto os movimentos sociais que apoiaram o PT -do MST a alas da Igreja Católica- estão a postos para cobrar o governo.
Mas o que garante que não se reeditará o filme do primeiro mandato, quando a influência desses grupos minguou ou praticamente desapareceu? Para Benevides, o motivo é pragmático: a sucessão de 2010.
Segundo ela, a única maneira de os petistas se viabilizarem na próxima disputa presidencial é fazer mudanças na política econômica e aprofundar a política social: "A única saída para a eleição é fazer não um governo socialista ou de esquerda, mas social, que tenha um projeto de desenvolvimento", afirma Benevides.
"Quem está entre os 20 melhores países do mundo, em crescimento econômico e outros indicadores sociais, pode ter hesitações. Quem está na rabeira, como nós, não", diz.
A socióloga rechaça o "lulismo" -porque "personifica" e subtrai importância da equipe de governo responsável por políticas setoriais exitosas-, mas também confia no cuidado de Lula com sua própria biografia para forçar alterações de rumo.
"O presidente tem uma preocupação muito grande com sua passagem para a história. Ele sabe muito bem o que pode ser trágico no segundo mandato."

No partido
Petista, Benevides cobra mudanças no PT: "Não adianta dizer que todo mundo faz. Cobro a saída do [Ricardo] Berzoini, não porque acho que ele é culpado, mas porque está envolvido". E completa: "Ou eles fazem esse esforço ou essa idéia de refundação acabou, vai virar um PMDB do "D'", diz a socióloga, que integrou a Comissão de Ética Pública da Presidência e o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Ela se fia no discurso de Lula aos militantes no último domingo, na avenida Paulista: "Como Lula diz, não podemos mais errar. Não temos o direito e nem tempo para isso".
Benevides diz que lhe dão "calafrios" as alianças políticas que se desenham para o segundo mandato, mas se define como "otimista à moda gramsciana": "Pessimista no diagnóstico, mas otimista na ação".
A professora da USP diz que outro fator de pressão para mudanças no governo é o retorno de alguns setores da intelligentsia de esquerda à órbita de apoio do governo -ela cita a declaração de apoio do sociólogo Francisco de Oliveira ao presidente no segundo turno.
Benevides diz que há "movimentos" para retomar os encontros de um grupo de intelectuais ligados ao PT e integrantes do governo -as reuniões foram interrompidas em meados do ano passado. O grupo nasceu na campanha de 2002 e, de lá para cá, contabilizou dissidências -como a do próprio Oliveira e do filósofo Paulo Arantes.


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