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Socióloga vê erro de "desenvolvimentistas"
Cobrar mudança na economia agora foi falta de habilidade política, diz Maria Victoria Benevides, para quem pressão voltará implacável
Professora da USP diz que há "movimentos" para retomar as reuniões regulares entre intelectuais ligados ao PT e integrantes do governo Lula
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para a socióloga da USP Maria Victoria Benevides, a chamada "ala desenvolvimentista"
do governo cometeu um erro
tático na semana passada ao
anunciar o fim da era Palocci
-o que foi desautorizado pelo
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Mas ela aposta que o movimento está apenas no começo: "A pressão vai ser impaciente, implacável, muito maior do
que no primeiro mandato".
Benevides diz que o erro dos
ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais) foi de timing: "Faltou habilidade. Não é
o momento oportuno, quando
Lula ainda está vendo o que vai
acontecer para montar o governo. A alma sindicalista e negociadora dele aí pesa muito", diz.
A socióloga afirma, porém,
que tanto a esquerda petista e
os intelectuais quanto os movimentos sociais que apoiaram o
PT -do MST a alas da Igreja
Católica- estão a postos para
cobrar o governo.
Mas o que garante que não se
reeditará o filme do primeiro
mandato, quando a influência
desses grupos minguou ou praticamente desapareceu? Para
Benevides, o motivo é pragmático: a sucessão de 2010.
Segundo ela, a única maneira
de os petistas se viabilizarem
na próxima disputa presidencial é fazer mudanças na política econômica e aprofundar a
política social: "A única saída
para a eleição é fazer não um
governo socialista ou de esquerda, mas social, que tenha
um projeto de desenvolvimento", afirma Benevides.
"Quem está entre os 20 melhores países do mundo, em
crescimento econômico e outros indicadores sociais, pode
ter hesitações. Quem está na
rabeira, como nós, não", diz.
A socióloga rechaça o "lulismo" -porque "personifica" e
subtrai importância da equipe
de governo responsável por políticas setoriais exitosas-, mas
também confia no cuidado de
Lula com sua própria biografia
para forçar alterações de rumo.
"O presidente tem uma preocupação muito grande com sua
passagem para a história. Ele
sabe muito bem o que pode ser
trágico no segundo mandato."
No partido
Petista, Benevides cobra mudanças no PT: "Não adianta dizer que todo mundo faz. Cobro
a saída do [Ricardo] Berzoini,
não porque acho que ele é culpado, mas porque está envolvido". E completa: "Ou eles fazem esse esforço ou essa idéia
de refundação acabou, vai virar
um PMDB do "D'", diz a socióloga, que integrou a Comissão de
Ética Pública da Presidência e o
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social.
Ela se fia no discurso de Lula
aos militantes no último domingo, na avenida Paulista:
"Como Lula diz, não podemos
mais errar. Não temos o direito
e nem tempo para isso".
Benevides diz que lhe dão
"calafrios" as alianças políticas
que se desenham para o segundo mandato, mas se define como "otimista à moda gramsciana": "Pessimista no diagnóstico, mas otimista na ação".
A professora da USP diz que
outro fator de pressão para mudanças no governo é o retorno
de alguns setores da intelligentsia de esquerda à órbita de
apoio do governo -ela cita a
declaração de apoio do sociólogo Francisco de Oliveira ao presidente no segundo turno.
Benevides diz que há "movimentos" para retomar os encontros de um grupo de intelectuais ligados ao PT e integrantes do governo -as reuniões foram interrompidas em
meados do ano passado. O grupo nasceu na campanha de
2002 e, de lá para cá, contabilizou dissidências -como a do
próprio Oliveira e do filósofo
Paulo Arantes.
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