São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIO GASPARI

Transporte sem tunga? Conheça Nova York


Os transportecas nacionais massacram seus passageiros habituais, os trabalhadores

PASSADA A ELEIÇÃO, chegou a hora da tunga. A administração tucano-pefelê de São Paulo avisa que a patuléia ganhará um aumento de tarifas de transporte público. Os trabalhadores paulistanos e cariocas que tomam duas conduções para ir ao trabalho e outras duas para voltar às suas casas já estão há tempos no Primeiro Mundo. Pagam mais caro que a choldra de Nova York e passarão a pagar um pouco mais. Aos números:
Em Nova York, a passagem unitária custa US$ 2 (R$ 4,20). Se o trabalhador compra um cartão que vale por 30 dias, paga US$ 76 (R$ 160) e tem direito ao uso ilimitado da malha de trilhos e da rede de ônibus. Se faz duas viagens por dia, cada uma delas sai pelo equivalente a R$ 2,70. Se toma duas conduções para ir e outras duas para voltar, esse preço baixa à metade (R$ 1,33).
Em São Paulo, a patuléia paga R$ 2,10 na tarifa unitária, sem chance de desconto. Pagando R$ 3 pelo bilhete integrado, o trabalhador pode usar cumulativamente o metrô, a malha ferroviária e a rede de ônibus. Paga R$ 20 mensais a mais que seu similar americano.
No Rio, o sistema é mais complicado. O bilhete unitário, que leva uma pessoa da Pavuna à Gávea, custa R$ 2,30. Quem faz um percurso que demanda o uso do metrô e de um ônibus desembolsa R$ 4,20. Os rodocratas do Rio não querem ouvir falar em integração.
A tarifa unitária dos americanos é mais cara e a mensal é mais barata, porque lá os transportecas cultivam seus passageiros habituais, os trabalhadores. O metrô do Rio acredita que até o fim do próximo ano oferecerá tarifas diferenciadas. A ver.
O de São Paulo, que suprimiu os descontos, está correndo atrás de um aumento. Admitindo-se que a tarifa passe de R$ 2,10 para R$ 2,30, o bilhete integrado poderá subir para algo como R$ 3,30, pelo menos.
Cláudio Lembo, José Serra e Gilberto Kassab devem convidar os eleitores para uma grande festa dos otários. Com a nova tarifa, o cidadão que mora em Cidade Tiradentes, trabalha na avenida Paulista e usa o bilhete único gastará R$ 198 por mês.
No Rio, o eleitor que mora na região de Campo Grande e trabalha em Botafogo desembolsa pelo menos R$ 6,60 por dia na rede de trilhos. Nos dois casos pagarão R$ 38 mais que o similar nova-iorquino. (Se o carioca sair da rede de trilhos para a das empresas de ônibus, gastará quase o dobro do que se paga em Nova York.)
Lula teve 73,6% dos votos de Campo Grande e 71% em Cidade Tiradentes.

DONA LOTA ASSOMBRARÁ O PREFEITO CESAR MAIA

Com o loteamento do aterro do Flamengo para a construção de uma marina-shopping, espera-se que o fantasma de Lota de Macedo Soares não dê trégua ao prefeito Cesar Maia.
Pessoa fenomenal, Lota deu ao Brasil seu melhor parque urbano. Usava um prendedor de cabelos desenhado pelo escultor Alexander Calder. Graças a ela -e ao governador Carlos Lacerda-, criou-se uma estrutura jurídica que durante quase meio século dificultou a privatização daquela maravilha.
O aterro foi a última manifestação de inteligência urbanística de um administrador público no Rio.
Sua preservação foi garantida por manifesto assinado por Manuel Bandeira, Lúcio Costa, Nelson Rodrigues, Tonia Carrero e mais 12.400 cidadãos. A privataria, favorecida pela sonolência, quer atropelar o Instituto do Patrimônio Histórico, que protege áreas tombadas como o aterro.
Tinha razão a poeta americana Elisabeth Bishop, namorada de Lota: "O Rio não é uma cidade maravilhosa. É apenas um cenário maravilhoso para uma cidade".
Lota matou-se em 1967, quando seu projeto já estava roído pela picaretagem.

FICA
O senador Tasso Jereissati ficará na presidência do PSDB até o fim de seu mandato, em novembro do ano que vem.

CHAVE DO COFRE
Nosso Guia diz que aprendeu muito no governo. Aprendeu a usar as empreiteiras de grandes obras públicas para alavancar projetos de infra-estrutura. Até aí tudo bem, mas aprendeu também o método JK de torrar o dinheiro da Viúva: janta-se com o empreiteiro, acerta-se a obra sem atenção pelos custos e deixa-se a conta para o próximo governo. No caso das hidrelétricas, para a patuléia.

FOI O BURGER
O ministro Márcio Thomaz Bastos prestou uma ajuda aos interessados na discussão da liberdade de imprensa quando lembrou que um juiz da Corte Suprema americana disse que o essencial é que a imprensa seja livre, e não que seja justa. Para que o registro fique redondo, a observação é do juiz Warren Burger, que presidiu a Corte de 1969 a 1986. Foi homem de muita pompa e pouco brilho. Num caso de 1974, em que o "Miami Herald" negara o direito de resposta a um sindicalista, Burger deu razão ao jornal e redigiu o voto unânime do tribunal. A certa altura, disse o seguinte: "Sem dúvida, uma imprensa responsável é um objetivo desejável, mas a Constituição não manda a imprensa ser responsável. Como muitas outras virtudes, não se pode legislar sobre a responsabilidade".

ERRO FATAL
O embaixador Roberto Abdenur, defenestrado da Embaixada em Washington, pode ter cometido muitos erros. O maior deles foi acreditar que Marco Aurélio Garcia, assessor-de-tudo do Nosso Guia, fosse seu aliado.

LULA TOURS
Nunca na história deste país o presidente da República decolou com seu avião para curtir um feriadão na Bahia, deixando no chão uma patuléia que virou lixo nos aeroportos. Reuniu colaboradores no Planalto para discutir a crise, deu um murro na mesa e foi ao Alvorada pegar a sunga azul. Por conta do desgoverno dos transportes aéreos, quem comprou passagens e reservou hotéis ficou no chão. O vôo de Lula saiu na hora, e a mordomia da Base Naval está impecável. No próximo feriadão Nosso Guia poderia oferecer os serviços da Lula Tours à escumalha.

COISA DE LOUCO
Os dez graduados da Força Aérea que trabalhavam nas salas de controle de vôo do aeroporto de Brasília no dia do desastre do Boeing da Gol informam que não podem prestar depoimento na Polícia Federal porque estão de licença médica, em tratamento psiquiátrico. Os familiares dos 154 mortos no desastre já voltaram às suas atividades normais.

LERO AÉREO
Em 2003, quando discursou numa cerimônia em Brasília, Nosso Guia disse que o aeroporto de Congonhas passaria a servir apenas a vôos com até 90 minutos de duração. O falecido DAC e sua versão piorada, a Anac, trataram a fala como se fosse lero-lero. Era. Congonhas continua cuidando, em média, de 620 operações de pouso e decolagem por dia, ou 39 por hora. Depois da derrapagem de um Boeing, os presidentes da Anac e da Infraero anunciaram que metade das operações de Congonhas seriam transferidas para Guarulhos e Campinas. Era lero-lero. Lula diz que em quatro anos aprendeu muito. Talvez precise de mais 20.


Texto Anterior: Alckmin diz que atuará em instituto tucano
Próximo Texto: Socióloga vê erro de "desenvolvimentistas"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.