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Estudioso da Coluna Prestes era da CIA
Neill Macaulay, autor de dois livros traduzidos no Brasil, entrevistou Luiz Carlos Prestes em Moscou
ELIO GASPARI
COLUNISTA DA FOLHA
Morreu no final de outubro,
aos 72 anos, o professor americano Neill Macaulay, autor de
dois livros traduzidos no Brasil:
"A Coluna Prestes" e "D. Pedro
I", além de "The Sandino Affair", narrativa da luta do guerrilheiro nicaraguense contra os
americanos entre 1927 e 1930.
Pesquisando a Coluna, Macaulay entrevistou Luiz Carlos
Prestes, exilado em Moscou. O
então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro deu
"uma vista de olhos" nos originais antes da publicação. Pudera, Macaulay comparou a Coluna às marchas de Enéas depois
da queda de Tróia.
Macaulay rodou pelo Brasil e
pela Nicarágua, com uma biografia de revolucionário. Lutara junto com os guerrilheiros
de Fidel nas montanhas cubanas e chegara a tenente do exército dos barbudos. Uma das
suas missões foi treinar soldados para executar inimigos:
"Eu fiz o que tinha que fazer.
Esses sujeitos mereceram o
que tiveram." Em pelo menos
um caso, puxou o gatilho. Existem nove fotografias de Macaulay com roupa de guerrilheiro,
três na companhia de Fidel.
No necrológio do professor,
publicado pelo "Miami Herald", seu filho Robert revela
que ele foi um informante da
Central Intelligence Agency, a
CIA. Robert viu cartas do professor para Justin Gleichauf, o
famoso chefe do escritório da
agência em Miami nos anos 60.
Continham "sugestões sobre
algumas pessoas que poderiam
ajudar" a derrubar Fidel Castro. Os dois tiveram contatos
regulares. "Ele conhecia gente... Era uma mercadoria valiosa, um dos raros professores
universitários que cooperavam
com a CIA e ele se orgulhava
disso", contou o filho.
Macaulay viveu pouco tempo
sob o castrismo, cuidando de
uma plantação de tomates. Segundo o "Miami Herald", retornou aos EUA ajudado pelo senador Strom Thurmond, amigo
de sua família, ícone do racismo
americano (noves fora uma filha com a empregada). Depois
de se formar pelas universidades da Carolina do Sul e do Texas, tornou-se professor da
Universidade da Florida em
1964. Voltou a Cuba várias vezes, como acadêmico especializado no estudo de guerrilhas.
Macaulay foi antecedido na
conexão com um serviço de inteligência pelo historiador inglês Charles Boxer, autor do
clássico "Idade do Ouro do Brasil". Boxer foi um dos maiores
estudiosos do império colonial
português e morreu em 2000,
aos 96 anos. Entre 1933 e 1947
ele trabalhou no Serviço Secreto britânico, tendo chefiado seu
escritório de Hong Kong.
Tomara que o historiador
Dauril Alden publique logo sua
biografia de Boxer, com as histórias de seus livros, mulheres e
guerras. Não há paralelo entre
o inglês e o americano. A qualidade da obra dos dois não se
compara e Boxer estava ostensivamente ligado ao serviço de
inteligência. Ele era major do
Exército e servia na seção de informações. Durante a guerra,
foi preso pelos japoneses e chegou-se a anunciar que morrera.
Macaulay foi um informante
disfarçado de professor e entrevistou Prestes no apartamento
dele em Moscou. Há suspeita
de que o professor se matou.
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