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Lula diz não ter pressa em indicar nomes
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
O presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva, afirmou que prefere
esperar do que se arrepender de
uma escolha mal feita para seu
ministério e indicou que pode
não anunciá-lo nesta semana.
Em conversa informal com jornalistas, durante recepção na Embaixada do Brasil em Santiago, na
noite de anteontem, o presidente
eleito disse que está "com quase
todos os nomes na cabeça", mas
que não tem pressa.
O presidente eleito comentou
sobre as dificuldades para indicar
os ocupantes de "mais de 19 mil"
cargos de confiança e disse que
muitas escolhas poderão ser feitas
só depois da posse, marcada para
1º de janeiro. "Vocês sabiam que
eu tenho de indicar até o presidente do Sesi [Serviço Social da
Indústria]?", perguntou.
Ele mencionou indiretamente
as disputas entre aliados por pastas ministeriais. "Quantos ministérios valem uma Petrobras, um
BNDES, uma Itaipu? Mas muita
gente não quer (diretorias de empresas estatais) porque não aparece todo dia na imprensa", disse.
Lula afirmou que, para muitos
postos, dará preferência a funcionários de carreira, como forma de
valorizar a máquina do Estado.
Disse que seus principais critérios
são "a competência técnica e a
conduta ética" e que pretende evitar que detentores de cargos de
confiança pensem apenas em interesses políticos, em detrimento
dos interesses da instituição que
representam.
Como exemplo a ser evitado,
contou que, quando presidia o
PT, pediu ao Banco do Brasil um
cartão de crédito com a marca do
partido. Segundo ele, o então presidente do Banco Brasil na gestão
de Fernando Collor (1990-1992),
Lafayete Coutinho, respondeu
que não poderia criar o cartão,
por razões políticas. Lula disse
que fez a mesma proposta a Lázaro Brandão, do Bradesco, que em
dez dias forneceu o cartão.
O presidente eleito afirmou que
não vai mexer nas indicações de
embaixadores já feitas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse que não obrigará ninguém a fazer uma nova mudança
para o Brasil, depois de instalado
com a família em outro país.
Lula estava sorridente durante a
recepção. Afirmou que se emocionou ao visitar, na terça-feira, o
Palácio de La Moneda, sede do
governo chileno, de onde o presidente Salvador Allende saiu morto, em setembro de 1973, depois
do golpe militar que pôs fim à primeira experiência socialista democrática na América Latina.
Alca
Entre os demais integrantes da
comitiva petista, a atenção estava
voltada para o impasse na negociação do acordo de livre comércio entre o Chile e os Estados Unidos. A última proposta feita pelo
governo americano, divulgada
nesta semana, foi rejeitada por lideranças tanto da coalizão governista chilena (que reúne o Partido
Socialista e a Democracia Cristã)
quanto pela oposição de direita.
Entre outros itens polêmicos, a
proposta prevê que a jurisprudência sobre investimentos estrangeiros sairia do território chileno para um tribunal externo de
resolução de conflitos. Também
impediria que o Chile impusesse
qualquer controle de capitais
-atualmente, o país controla a
entrada de capitais especulativos.
O debate sobre o acordo interessa ao Brasil porque um eventual
fracasso das negociações com os
Estados Unidos pode aproximar
o Chile do Mercosul. Por outro lado, se o acordo for firmado, o governo americano poderia usá-lo
como modelo para a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas).
Os petistas mostraram desconforto com a declaração do secretário-geral da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina), José Antonio Ocampo, de
que os países latino-americanos
deveriam apresentar uma proposta conjunta para a criação de
um mecanismo de renegociação
de dívidas externas.
"Não estamos confrontados
com qualquer problema de renegociação de dívida. Dissemos a ele
[Ocampo] que precisamos é do
retorno das linhas de crédito externas, para a retomada da economia", disse Marco Aurélio Garcia,
secretário de Cultura da Prefeitura de São Paulo.
A jornalista CLAUDIA ANTUNES viajou
a Santiago a convite da Cepal e do Banco
Mundial
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