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CONGRESSO
Em troca de receitas para Orçamento, PT cede foro privilegiado, benefícios fiscais e pode liberar verbas para Minas
Minirreforma vira última barganha de FHC
RAYMUNDO COSTA
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A votação da medida provisória
66 transformou-se na última
grande barganha da base aliada
do presidente Fernando Henrique Cardoso na Câmara e na primeira grande barganha do PT, que assume o governo em janeiro.
Em troca de mais receitas para
fechar o Orçamento de 2003, o PT
cedeu o foro privilegiado para
FHC, benefícios fiscais generalizados e deve conceder até a liberação de verbas para o governador
de Minas Gerais, Itamar Franco,
pagar o 13º salário dos servidores
estaduais.
"É uma arca de Noé mesmo,
mas são bichos de uma mesma espécie", afirmou ontem o líder do
PT na Câmara, deputado federal
João Paulo Cunha (SP), concordando com uma afirmação feita
pelo líder do PFL, deputado Inocêncio Oliveira (PE), que é contrário à medida justamente pela sua
diversidade de dispositivos e pelo
aumento generalizado de impostos que ela implica.
A votação da medida provisória
ficou para a próxima semana,
adiando a votação do Orçamento
da União para os dias 18 e 19.
Exigência
Na semana passada, os líderes
haviam feito acordo que retirava
da medida provisória o fim da cobrança de impostos em cascata
(PIS/Pasep).
Pressionados pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso e
pelo ministro da Fazenda, Pedro
Malan, os líderes recuaram.
Nesta semana, o governo apresentou uma nova exigência, a manutenção de um item que atribui
poderes de Justiça aos fiscais da
Receita Federal.
Simultaneamente, o presidente
da Câmara e governador eleito de
Minas Gerais, Aécio Neves
(PSDB), mudou de comportamento em relação à votação. Na
semana passada, ele havia fixado
a terça-feira, dia 3, como prazo final para a votação, "com ou sem
acordo".
Nesse período, Aécio viu o PT
frustrar uma negociação que fez
com o Planalto para assegurar a liberação de verbas para o governo
mineiro pagar o 13º do funcionalismo público.
Para surpresa do PT, o presidente da Câmara, que em janeiro
assumirá o governo de Minas Gerais, suspendeu ontem a votação
alegando que não havia acordo
entre os partidos.
O PT já admite liberar os recursos para Minas e estender a ajuda
a Estados que já tenham feito reivindicação semelhante.
Foro privilegiado
Atendendo a um pedido dos líderes governistas, o líder do PT na
Câmara, João Paulo Cunha (SP),
propôs aos líderes dos partidos
aliados a retirada de um recurso
que retardava a tramitação do
projeto de lei que estabelece foro
privilegiado para ex-presidentes,
ex-governadores, ex-ministros e
ex-parlamentares. O PDT, o PPS e
o PL acataram o pedido.
Os partidos da base governista
já haviam incluído na medida
provisória 66 dispositivos que
criam um novo Refis, para refinanciar dívidas de empresas com
o INSS e a Receita Federal, e o
Simples 3, que implanta um sistema simplificado de pagamento de
impostos para micro e pequenas
empresas.
Agora, os governistas querem
assegurar também a liberação de
recursos para o atendimento de
emendas dos congressistas ao Orçamento.
Os governadores de Estado
aproveitaram as negociações e
pediram a prorrogação do fundo
de compensações da Lei Kandir,
que expira no final do ano. Pela
regra em vigor, eles teriam em
2003 cerca de R$ 1,8 bilhão de
compensação. Se o fundo for
prorrogado, essa quantia chegará
a R$ 3,9 bilhões.
O líder do PT afirma que essas
pressões são naturais num final
de governo. "Todo mundo quer
puxar tudo o que não conseguiu
durante o ano. Mas do jeito que
está, vai acabar zerando a conta",
afirmou João Paulo, que esperava
conseguir inicialmente um acréscimo de R$ 3 bilhões na arrecadação da União.
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