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OPERAÇÃO ANACONDA
Decisões de Rocha Mattos foram achadas pela PF, sem assinatura do juiz, no escritório de Wagner Rocha
Sentenças de juiz estavam com empresário
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal encontrou
uma decisão do juiz federal João
Carlos da Rocha Mattos (preso),
sem assinatura e sem numeração,
absolvendo o economista Wagner Baptista Ramos. Ele foi coordenador da dívida pública da Prefeitura de São Paulo entre 1993 e
1997, durante as administrações
de Paulo Maluf e Celso Pitta.
A sentença sem assinatura, segundo avaliação da PF, é um dos
mais fortes indícios de que a suposta quadrilha presa na Operação Anaconda mantinha um esquema de venda de decisões.
Ramos foi acusado de ser um
dos mentores do desvio de títulos
públicos na Prefeitura de São
Paulo. Em maio de 1999, Rocha
Mattos absolveu o economista
das acusações de sonegar R$ 967,7
mil da Receita e de ocultar pelo
menos R$ 1,041 milhão em contas
no exterior. Segundo a CPI dos
Precatórios, Ramos recebeu R$
1,3 milhão de corretoras que se
beneficiaram com a emissão fraudulenta de títulos da prefeitura.
Arquivo vivo
A sentença foi apreendida no escritório do empresário Wagner
Rocha, no 32º andar do edifício
Itália, na região central de São
Paulo. Rocha, preso pela Operação Anaconda, guardava mais de
uma centena de documentos de
Rocha Mattos, que ocupam 37 páginas de um auto de apreensão.
Entre esse documentos, havia
um cópia de sentença com "rasura de corretivo líquido na palavra
recorrente", uma cópia da carta
rogatória pedindo a abertura das
contas de Ramos nos EUA, um
pedido de mandado de segurança
de Antonio Oliveira Claramunt, o
doleiro Toninho da Barcelona,
uma decisão de Rocha Mattos sobre um mandado de segurança
também sem a assinatura do juiz.
Wagner Rocha guardava cópias
de 69 sentenças de Rocha Mattos.
Tinha também uma cópia do cartão de crédito American Express
do juiz e de documentos classificados de confidenciais.
"Comercialização"
A Diretoria de Inteligência Policial da PF interpreta a ausência de
assinatura em sentença judicial
ou sentença de habeas corpus como um indício de que o teor da
decisão era negociado com os
acusados no escritório.
Eis um trecho do relatório da
PF: "Documentos apreendidos
em poder de Wagner Rocha (vulgo Wagner ou Peru), em um escritório situado no ed. Itália, São
Paulo, bem como objetos e documentos apreendidos no escritório
pertencente a Afonso Passarelli,
Cesar Herman Rodriguez, Jorge
Luiz [Bezerra da Silva] e outros,
revelam que a organização criminosa mantinha um verdadeiro esquema de comercialização de decisões judiciais, extorsão, negociatas, envolvendo inquéritos policiais oriundos da Polícia Federal
e Polícia Civil, ameaça, interceptação ilegal, corrupção, prevaricação, tráfico de influência e formação de quadrilha".
Três advogados ouvidos pela
Folha disseram que o padrão é
guardar sentenças numeradas,
rubricadas e assinadas.
Luiz Flávio Gomes, ex-juiz criminal e professor da Pontifícia
Universidade Católica de Curitiba, diz que "é estranhíssimo encontrar sentença sem assinatura",
já que o documento não tem "valor jurídico".
Gomes acredita que está correta
a hipótese da PF, de que a ausência revela a intenção de comercialização do teor da decisão. "O sujeito podia ter um projeto de sentença pronto para ser vendido. Se
o original no cartório confere com
a cópia encontrada, é uma prova
de que a sentença estava sendo
negociada", afirma.
Casos famosos
Wagner Rocha mantinha em
seu escritório vários casos famosos em que o juiz federal atuou.
Estavam lá o pedido de prisão do
bispo Edir Macedo, quando ele
comprou a Rede Record de Silvio
Santos e era acusado de usar no
negócio recursos de origem não
esclarecida, e os inquéritos contra
Silvio Santos e Luciano Callegari
pela venda do canal de TV.
O processo contra o empresário
Sérgio Chiamarelli Jr., acusado de
participar do esquema de emissão
de títulos irregulares da prefeitura
paulistana e preso na Operação
Anaconda, também estava lá.
Constava do arquivo um processo contra o empresário Giancarlo Nardi. A PF investiga a hipótese de Nardi ter sido o intermediário na abertura de conta de integrantes da suposta quadrilha no
Banco do Vaticano.
O empresário tinha também
duas folhas da denúncia do Ministério Público contra o ex-juiz
Nicolau dos Santos Neto.
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