São Paulo, sábado, 06 de janeiro de 2007

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Antes de lotear ministérios, Lula manda mapear cargos

Ministro Tarso Genro checa padrinhos políticos de 5 mil dos 22 mil cargos federais

Objetivo é cobrar fidelidade dos políticos que indicaram nomes para o governo; levantamento dos dados se perdeu com saída de Dirceu


LEANDRA PERES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para cobrar fidelidade dos aliados que agraciará na reforma ministerial prevista para fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a auxiliares a elaboração de uma mapa dos 22 mil cargos federais. Desses, 5 mil são considerados os que realmente importam para a divisão de poder entre os dez partidos que apoiarão no Congresso o segundo mandato do petista.
O mapa está com o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), que tem feito checagem dos padrinhos políticos dos 5 mil cargos mais importantes. Vários aliados novos e antigos do governo já viram o calhamaço de cargos diretamente das mãos de Tarso, articulador político do governo.
Lula pediu a Tarso uma checagem dos padrinhos porque muitos cargos apareceram na listagem como preenchidos por técnicos sem ligação política. O presidente desconfia que parte desses "técnicos" tenha padrinhos que preferem não assumir tal condição para evitar cobranças políticas, como apoio das bancadas de seus partidos às propostas do governo no Congresso. Mais: Lula crê que alguns desses "técnicos" tenham ligações com políticos hoje da oposição.
Segundo as palavras de um ministro, Lula disse que na reforma ministerial dará poder aos aliados, mas exigirá fidelidade nas votações e interesses do governo no Congresso. Exemplos: eleição de um aliado para a presidência da Câmara em 1º de fevereiro e aprovação das medidas de esforço fiscal do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
Dez partidos prometeram apoiar o chamado "governo de coalizão": PT, PMDB, PSB, PC do B, PP, PDT, PTB, PV, PRB e PR (fusão de PL e Prona).
Dos 34 ministros atualmente na Esplanada, 17 são petistas. O PMDB tem cota de três ministérios. O PSB possui duas pastas. PC do B, PP, PR, PV e PTB têm um ministério cada. O PRB não tem posto no primeiro escalão. O PDT teve no início do primeiro mandato, mas perdeu após migrar para a oposição. Outras seis pastas são da cota pessoal de Lula.

Sem porteira fechada
A aliados Tarso disse que a intenção do presidente é promover uma "verticalização da coalizão" nos ministérios. Ou seja, Lula já recuou da idéia de "verticalização pura" ou "porteira fechada" para os aliados, o que significaria, por exemplo, licença para um partido montar toda a cúpula de uma pasta com seus filiados. Esse é o desejo do PMDB. Lula, porém, não pretende atendê-lo.
A elaboração do mapa e a checagem dos padrinhos ajudaram a atrasar a reforma ministerial. Lula só vai dar tratamento mais concreto à partilha de poder quando retornar do descanso, no dia 15.
Exemplo de checagem: Tarso perguntou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se ele de fato era o padrinho de mais de uma dezena de cargos federais, conforme listado no mapa. Renan respondeu que parte dos cargos fora preenchida por indicação de deputados e senadores que lhe pediram que encaminhasse o pedido ao Palácio do Planalto nos tempos em que José Dirceu e Aldo Rebelo, hoje presidente da Câmara, eram os coordenadores políticos.
Lula também orientou Tarso a conversar com os demais ministros para que apontassem os responsáveis políticos pelos principais cargos em suas pastas. O ministro tem feito uma verdadeira sabatina com os colegas. Indaga se o indicado tem competência técnica, se atua em sintonia com os interesses do governo no Congresso, se há conflitos por estarem ligados a partidos diferentes e por aí vai.
Desde a saída de José Dirceu da Casa Civil em junho de 2005, o governo perdeu o controle sobre o mapa dos cargos. A sucessora de Dirceu, Dilma Rousseff, possuía levantamento incompleto. A área de articulação política também perdeu o controle detalhado dos cargos desde a saída de Waldomiro Diniz da subchefia de Assuntos Parlamentares do antigo ministério da Coordenação Política, em fevereiro de 2004.


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